Lindoso – Liga dos campeões.

Lindoso – Liga dos campeões.



Dia 21 de Março, primeiro dia de Primavera. Depois de um Sábado de chuva intensa e de algumas emoções fortes, estava na altura de avançar para o derradeiro desafio: a pesca aos troféus da Barragem do Lindoso. Com o engrossar de várias linhas de água resultantes da chuva do dia anterior a cairem na Barragem estava preparado o cenário para as grandes trutas se encaminharem para locais acessíveis ao pescador de spinning. Na minha cabeça era dia de Liga de Campeões. Tudo ou nada atrás das grandes trutas, utilizando sobretudo iscos pesados. Bastava uma picadela e alguns minutos de cabeça fria durante todo o dia para marcar a diferença entre o sucesso e o falhanço total.

Para enfrentar este desafio, juntaram-se a mim os tradicionais companheiros Eng. José Pintalhão e Prof. Arlindo Cunha. Homens habituados a estas andanças e sempre com um espirito aventureiro para ir mais longe e tentar novas abordagens na pesca à truta. O desafio assim o exigia. Pelo menos tinhamos todos a consciência de que o dia já estava ganho à partida, pois iriamos disfrutar de uma pesca saudável num dos mais belos espelhos de água do nosso país.

Marcamos encontro para as 6h45 na placa da povoação do Lindoso. Depois de alguma confusão sobre a localização da placa, pois alguém viu uma placa com Lindoso na rotunda de Ponte da Barca :), lá nos encontramos às 7h15. Como cheguei com algum avanço, aproveitei logo para me equipar e para observar o estado da albufeira. Logo aí fiquei com prognóstico reservado: o nível estava muito acima do que eu esperava e o acesso a algumas linhas de água era quase impossivel. Bem, estava traçado o cenário para mais uma aventura.

Às 7h35 começamos a pescar num acesso muito fechado à Barragem por onde corria uma leve linha de água. Os primeiros lançamentos revelaram-se infrutiferos, mas suficientes para alguém conseguir perder um rapala em terra devido a uma linha podre (já se tinha feito história :)). Ainda tentamos fazer as margens para montante e jusante, mas a inclinação das mesmas não o permitia.

Terminada esta primeira linha de água resolvemos avançar para a saída de um ribeiro junto da fronteira com Espanha. Aí o panorama era mais animador, pois tinhamos um volume superior de água a entrar na Barragem. À saída do ribeiro para a Barragem lá começaram a mexer as primeiras trutas. Vi a primeira a dar de lado na salmo e depois tive mais dois toques numa colher Mepps nº1. Eram todas trutas de 25 a 30 cm. Troféus nada! Batemos bem a área, mas nem mais um toque. Eram 10 horas e estava na altura de mudar para outra linha de água.

Desta vez, resolvemos entrar numa baía de areia mais limpa onde entravam dois regos de água. Pescamos 10 minutos à X-rap e à colher e vi uma truta de 25 cm a fugir de um rego minúsculo. Entretanto, aparece o jipe da brigada florestal com 3 guardas bem dispostos e amáveis. Mostramos as licenças e a conversa começou a enveredar pela pesca às trutas, desde politica a legislação passando pelas capturas. Neste último capítulo, a recomendação era para apostar sobretudo no Vez, onde já este ano tinham saído bons exemplares de mariscas e possivelmente algum salmão. Isto foi o necessário para nos aguçar o apetite para uma próxima jornada. Entretanto, aproveitando a presença dos guardas sempre se foi metendo a colherada para ver se sabiam de algum acesso directo a uma linha de água que normalmente me agradava imenso. Lá nos conseguiram ajudar e depois de muitas peripécias chegamos a esse local por volta das 11h00.

Com água cristalina e alguma corrente, tinhamos 700 metros para tentar a nossa sorte. As margens bastante inclinadas dificultavam a pesca, por isso apostei inicialmente na X-rap. Primeiros lançamentos e vejo logo uma truta de 30 a 40 cm a seguir a amostra, mas sempre a uma distância de segurança. Mais alguns lançamentos e nada. Entretanto, começo-me a deslocar para o interior da barragem e com o aumento da profundidade mudo para o Salmo. Sem efeito. Passados 10 minutos, volto para trás para verificar o que se passava com o amigo Arlindo Cunha.  Já estava na hora de arrancar para um dos seus compromissos, mas na corrente mais forte tinha levado um toque de uma truta de 40 cm que seguiu o salmo até à margem. Enfim, era o que tinhamos pensado! Ou dá um boa truta ou não dá nada!

Depois das despedidas, fico sozinho e volto para o local de pesca, tendo mudado para um X-rap de 8 cm. Lançamentos mais largos permitiam-me chegar quase à outra margem. Fui tentando a sorte logo abaixo do local onde tinha realizado o último lançamento. Ao terceiro lançamento, o isco cai próximo da outra margem e perto de uma pequena queda de água (vê-se ao longe na foto abaixo). Começo a recolher o X-Rap de forma intermitente e quando chega a amostra a meio da barragem, vejo uma sombra negra por baixo, a cerca de 2 metros do isco. A truta acompanha o isco exactamente á mesma velocidade, fixando o olhar unicamente na amostra. Era truta para 40 a 50 cm e com um lombo considerável. À medida que a X-Rap se aproxima da margem e a truta continua a manter a distância, começo a ver a vida a andar para trás. O mais certo é virar as costas não tarda nada. Com o isco a chegar a 1 metro dos meus pés paro a recuperação. Tem que ser! Deixar o X-rap emergir naturalmente. Quando a recuperação para e o X-rap começa a emergir, a truta arranca de forma tresloucada para a superficie, abre a boca na totalidade e engole o X-rap com uma força brutal. Isto a menos de 1 metro de mim. Fiquei cego e com a adrenalina ao máximo! Com pouca linha entre a amostra e a cana, camaroeiro no carro (esquecimento) e com alguma inclinação na margem estava sem grande margem de manobra. Cravei com força mal a truta engoliu, os anzóis entraram bem e a truta começou a serpentear fora de água. O travão do carreto, em vez de trabalhar, emperrou e o desfecho foi ditado em 3 a 5 segundos. A truta salta fora de água e rebenta a linha Falcon 0,18mm. A linha já não estava nada nas melhores condições devido á sua rigidez, mas não havia desculpas! Escusado será dizer qual a sensação que se segue! O dia já estava feito! Ou era para o bem ou era para o mal. Neste caso, o dia foi da truta.

Depois de me recompor ainda pesquei mais uma hora a caminhar para o centro da barragem, mas nem toque levei. Passei por duas linhas de água, mas nenhuma truta nas redondezas. Com o sol no ar e as entradas de água a perderem força, as trutas já deviam ter mudado de sitio. Ainda peguei no carro e fui tentar uma outra baía onde também entravam duas linhas de água em simultâneo, mas nada. Apenas vi um achigã de kilo a fugir da margem debaixo dos meus pés. Já eram 3 horas e a motivação começou a esmorecer. Lindoso tinha cumprido a sua promessa, mas o pescador e o material não estiveram à altura do desafio. Ficaram no entanto as grandes emoções associadas à pesca dos troféus nas nossas grandes barragens. Claramente já a criar o ambiente para a abertura do dia 1 de Abril! Lá estaremos!

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Informação sobre o autor

Pescador de trutas desde os 18 anos. Tem uma forte dedicação ao spinning com colher e peixes artificiais, tendo pescado em Portugal, Espanha e no Reino Unido. Actualmente, pesca sobretudo na zona do Minho, Gerês e Centro do país.