Depois do almoço de Sábado, e após duas entradas (uma no Lima e outra no Coura), surgiu a ideia de visitar a ribeira de São João de Agra. Um ribeiro inóspito e bem encravado na Serra de Agra. Depois das chuvadas dos meses passados, parecia que finalmente estariam reunidas as condições para brincar um pouco com as trutas locais. Não antecipava grandes capturas em termos de peso e tamanho, mas com certeza que iria desfrutar de um excelente fim de tarde ao light spinning, tentando atrair as pequenas “belezas pintadas” do lugar.
Sabia de antemão, que o que me esperava na Ribeira de São João eram margens bastante íngremes e cobertas de vegetação de todos os tipos. Para pescar neste tipo de cenário são necessários dotes de alpinista e alguma dose de espirito de sacrificio para aguentar as constantes arranhadelas e picadelas do tojo e das silvas. Especial atenção merece a lenha podre e amontoada nas margens que muitas vezes leva a quedas impressionantes. Portanto, todo o cuidado é pouco neste tipo de ambiente.
Cheguei à ponte sobre a Ribeira de São João na Estrada Covas – Vilar de Mouros por volta das 15 horas. Mudei de cana e troquei a de 1,8 pela de 1 metro para ter uma acção mais curta e conseguir trabalhar melhor a amostra em zonas de mato fechado. Os primeiros lançamentos foram realizados debaixo da ponte e fui lentamente avançando para montante, batendo os poços cuidadosamente. Quando cheguei ao terceiro poço, realizei a minha primeira captura. Depois de um lançamento para montante no sentido da corrente, a truta entrou depois da colher ter deixado a turbulência da queda de água. Claramente um pequeno exemplar, mas prestou-se a uma excelente foto que comprova a limpidez e pureza das águas deste ribeiro. Sem demoras, devolvi a truta ao ribeiro.
Animado por esta primeira captura, fui trabalhando mais uns poços e lá tirei mais duas trutas, ambas sem tamanho mínimo legal. Lá foram de volta para a água. Entretanto, cheguei à primeira vertente escarpada de 40 metros. Lá fiz a escalada e a posterior descida por entre ramos, tojo e silvado. Voltei ao ribeiro e entrei numa área com mais correntes e menos profundidade. Fui lançando com calma para montante. Notavam-se alguns toques aqui e ali. Viam-se algumas trutas, mas nada de especial. Lá tirei mais uma sem a medida, mas já estava a ficar sem entusiasmo.
Entretanto, cheguei a um bom poço com cerca de 3 metros de profundidade de 15 metros de largura. Um bom local para tirar uma truta decente. Insisti e insisti, mas nada. A esperança esmoreceu de vez. Decidi que não valia a pena continuar a trilhar terreno para montante. O entorno natural era belissimo, mas de pouco me adiantava andar a picar alevins, portanto resolvi voltar ao ponto de partida.
Entre ir embora definitivamente ou ainda tentar um dos poços do Coura à saída da Ribeira, decidi-me pela última alternativa. Resolvi descer uma vertente escarpada e tentar alguns lançamentos a cerca de 3 metros de altura. Com muito custo lá consegui chegar a um local muito precário sobre um poço espectacular com cerca de 30 metros de largura e 4 de fundura. Realizo um lançamento para montante e começo a recolher lentamente a Mepps Aglia nº 1 pintas vermelhas. Quando a amostra já vem a meio do caminho, vejo uma boa truta a deslocar-se debaixo da margem onde me encontrava e a avançar direita à amostra. Não parecia que estivesse com muita vontade. Ia muito devagar! Lá se aproximou e de repente abriu a boca toda até trás e engoliu a colher. Agora é que iam ser elas! Tinha uma boa truta presa na amostra com 0,12 e estava a 5 metros de altura. Bem, tive que combater durante 5 minutos para a cansar ao máximo. A força era sobretudo imposta através das tipicas cabeçadas e de algum tentativa de enrolamento do fio. Nesse aspecto menos mal, pois não tive que controlar arranques repentinos. Com calma, lá lhe fui puxando a cabeça para fora de água para perder o fôlego. A estratégia estava a resultar. O problema era como tirar a truta da água. Camaroeiro nem pensar, logo tinha que a levantar a peso contando com a resistência da linha. Lá a pus a jeito e com um bom puxão controlado lá a consegui por nas mãos. Tinha sido uma excelente captura! Mal a apanhei nas mãos, arranquei para um sítio mais seguro para apreciar o pequeno troféu e evitar alguma surpresa desagradável de última hora. A truta mediu 32 cm e tinha uma beleza impressionante.
Perante esta captura milagrosa, dei o dia por terminado. Em todos os locais onde parei, conseguir tirar umas boas trutas e desfrutei no global de um dia espectacular. Isto depois de andar a subir e baixar monte em zonas verdadeiramente inóspitas. A ribeira de São João, já no seu “terminus”, deu o toque final à festa e produziu o melhor exemplar do dia. Uma grande truta que teve que ser bem suada da minha parte 🙂
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