Depois da trovoada no Rio Mondego.

Depois da trovoada no Rio Mondego.




A caminho dos finais de Agosto e depois de algumas semanas de calor intenso, surgiu mais um dia de trovoada forte no interior e a chuva não se fez esperar. A Guarda foi especialmente fustigada durante uma noite e eu comecei logo a pensar que as trutas deviam estar em modo de alerta. Por isso, nada melhor do que me fazer ao terreno e tratar de marcar uma visita ao Rio Mondego na zona da Faia. E nem tardou muito. Logo no dia a seguir, pus-me ao caminho e em pouco menos de 1 hora já estava no Rio Mondego, algures entre a Faia e a Ponte de Mizarela.

Mal cheguei, verifiquei que as condições para a pesca estavam bastante interessantes. O céu estava ligeiramente encoberto com algumas abertas, o caudal do rio apresentava-se relativamente estável e o mais interessante era que algumas linhas de água, que até então tinham estado secas, já estavam a debitar alguma água. Este último sinal poderia ser bastante importante, pois com certeza que vários nutrientes estavam a ser arrastados para o rio.

Convencido de que havia potencial para uma boa pescaria, peguei no material de light spinning: cana de 1,2 metros, linha 0,12 da Fendreel e Mepps Aglia nº1. Entrei ao rio numa zona onde se encontrava um bom açude e comecei a bater para montante. A zona já não era nova para mim, pois já lá tinha pescado este ano, no entanto, tinha quase a certeza de que algumas boas trutas me tinham escapado. E não me enganei 🙂 Os primeiros lançamentos foram infrutíferos, mas deu para verificar que havia actividade à superfície e o peixe que por ali andava não era pequeno.

Fui avançando calmamente para montante e a cerca de 20 metros do local onde entrei no rio, vislumbro movimento na superfície de um bom peixe. Lanço para a outra margem e ligeiramente para montante, começo a recuperar e quando a colher vinha a passar pela zona onde tinha visto o movimento, levo uma pancada brutal que quase me arrancava a cana das mãos. Olho para o rio e vejo uma boa truta a dobrar e a saltar fora de água. Tento controlar e deixo-a levar alguma linha para evitar rupturas inesperadas. Apesar disto a truta estava bastante irrequieta e não se queria render. Lá fui tentando por-lhe a cabeça fora de água e depois de alguns segundos, consigo deitar-lhe a mão. Que linda truta negra para um início de jornada no Mondego. Um belo exemplar de 27 cm que vale ouro no mês de Agosto!

Animado por esta captura, fui trabalhando a cabeça do açude a milímetro e quando fui chegando perto da entrada de água principal, volto a ver movimento à superfície. Lanço para montante do local e quando a amostra vinha a passar perto da zona identificada, vejo uma deslocação sob a superfície, mas sem mordidela. Intrigado, fixo o olhar no local e vejo um lombo espectacular a dar à barbatana contra a corrente. Era uma truta com mais de 40 cm que ali estava em actividade. Pelo aspecto, já me tinha visto e estava apenas a tirar-me as medidas. Não convencido, resolvi voltar a lançar para o mesmo local e ela não se fez rogada … olhou para o isco, virou-lhe as costas e calmamente começou a nadar para jusante à procura de águas mais calmas. Que beleza 🙂

Com esta aparição, as minhas dúvidas dissiparam-se e ganhei forças renovadas para continuar a trilhar terreno para montante. Fui apostando sobretudo nos grandes açudes e nas correntes mais profundas. O resto fui deixando de lado. A estratégia não era muito má, até porque no açude seguinte, levei mais um toque de uma boa truta a meio do rio … Fiquei surpreendido com que se passou! Apesar da truta ter mordido no isco e não ter ficado cravada … ainda ficou a debater-se dentro de água durante cerca de 10 segundos … Aí deu para ver que era um bicho jeitoso e bem bravo.

À medida que a pescaria foi avançando, comecei a entrar na altura do calor, mas em vez de sol, surgiram umas nuvens carregadas. No entanto, em termos práticos, não se notava qualquer tipo de alteração de actividade nas trutas. Pelo que fui vendo, algumas delas estavam mesmo no final dos poços, em correntes com muito pouca profundidade. Quando eu chegava arrancavam e viam-se grandes sulcos na água. Num caso concreto, cheguei quase a calcar uma de bom tamanho. Arrancou mesmo debaixo dos meus pés. Mas naqueles locais era difícil, pois elas viam-nos desde longe.

Com estas peripécias e observações, o tempo foi passando e cheguei a outro bom poço. Bati-o de forma milimétrica, mas sem grandes resultados. Já no final, resolvi tentar bater a corrente de entrada no poço, que não devia ter mais de 20 cm de profundidade. Lancei mesmo para a cabeça da corrente, começo a recuperar, vejo um sulco a formar-se na superfície atrás da colher … passados dois metros, sinto uma pancada na linha e vejo uma explosão dentro de água. Era uma boa truta que tinha cravado! Deixei-a levar algum fio, mas mantive sempre a tensão na linha. Ela arrancou para jusante e eu pouco pude fazer, a não ser controlar o deslocamento da linha. Lá a fui cansando e evitando os obstáculos dentro de água. Quando senti que já estava a jeito, arrastei-a calmamente para perto de mim e deitei-lhe a mão. Tinha capturado mais uma belo exemplar de 26 cm com umas espectaculares pintas negras. Que truta!

Perante esta segunda captura e com as emoções ao rubro, resolvi continuar a pescar mais um pouco. Tinha acabado de entrar numa zona que ainda não conhecia muito bem e como tal também queria conhecer aquele local.

Não fiquei muito agradado com o que vi. Os grandes blocos de pedra que fui encontrando e a falta de poços levavam a presença de muitas pequenas correntes e este tipo de cenário não era o melhor para as boas trutas. Enfim, ainda avancei enquanto houve ânimo e já perto das 15 horas, cheguei a um pequeno poço onde existia uma corrente mais profunda. Lançamento para montante, recuperação lenta e quando a amostra vinha a sair fora de água, levo uma pancada jeitosa. Sem pensar muito, puxei com força e tirei uma bela truta de 21 cm fora de água. Era mais uma truta negra do Mondego e com um aspecto bastante saudável.

Com esta última captura, dei por finalizado o dia de pesca. Ainda havia potencial para fazer mais algumas trutas, mas para uma pescaria no mês de Agosto, já tinha feito estragos mais do que suficientes e estava na altura de as deixar descansar. O que interessou foi o dia bem passado e se calhar ainda lá volto antes do final de Agosto. A aposta no dia de trovoada valeu claramente a pena 🙂

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Informação sobre o autor

Pescador de trutas desde os 18 anos. Tem uma forte dedicação ao spinning com colher e peixes artificiais, tendo pescado em Portugal, Espanha e no Reino Unido. Actualmente, pesca sobretudo na zona do Minho, Gerês e Centro do país.