Mais um grande troféu do Rio Mouro!

Mais um grande troféu do Rio Mouro!


Depois de uma investida inicial no Rio Âncora, resolvi rumar a norte, à procura de mais chuva e, claro, de melhores condições para tentar as trutas. Já há muito tempo que não visitava a zona de Monção, e como tal, achei que valia a pena ver como paravam as modas. Efectivamente, pareceu-me, desde logo, uma decisão acertada, pois mal cheguei a Valença, o tempo mudou claramente de figura. Se na zona de Vila Praia de Âncora, já havia sol às duas da tarde, na zona de Valença, via-se chuva com alguma intensidade e olhando mais para o interior, antevia-se a possibilidade de fortes descargas de pluviosidade na zona de montanha.

Com este tipo de cenário, iria obrigatoriamente visitar o Rio Mouro. Sabia que era uma decisão super arriscada pelo adiantado da hora, pois certamente que já lá tinha passado alguém de manhã ao spinning, mas mesmo assim não esmoreci. Com água a cair em força e a possibilidade do rio subir fortemente, valia sempre a pena tentar a sorte. As trutas muitas vezes, retomam rapidamente as suas posturas nestas condições, isto mesmo depois de terem sido bem assustadas pela passagem de algum artista!

Passado meia hora, cheguei às margens do Mouro e fiquei bastante satisfeito com aquilo que vi. O caudal do rio encontrava-se relativamente elevado e a água estava escura. As condições eram ideais para o spinning. Peguei rapidamente na minha cana de 1,8 metros, armada com fio 0,18. Depois de alguma hesitação inicial entre o Storm de 3 cm, o X-Rap de 7 cm e o rapala CD-3 RT, resolvi escolher o último, porque me pareceu que a água não estava bastante escura, nem a correr de forma bastante forte, e como tal as trutas ainda conseguiam ver a amostra, desde que passa-se relativamente perto. Nem sequer pensei em utilizar uma colher, pois certamente que alguém já tinha feito esse serviço da parte da manhã 🙂

Enfim, os lançamentos começaram a sair e as minhas suspeitas confirmaram-se. As trutas não estavam a mexer. Nas zonas mais fundas, nem se via aspecto de peixe. Claramente, que já andava a trilhar as pegadas de outros pescadores. Só não conseguia ter a certeza absoluta por causa da chuva que entretanto apagou todos os rastos na minha margem. Só consegui ter um pequeno toque no CD-3 já à entrada de uma corrente, mesmo no centro do rio. O toque foi ligeiro e deu para perceber que era truta pequena … A pescaria estava mesmo a correr mal e não via forma de lhe dar a volta!

Entretanto, cai uma tempestade de granizo na zona onde eu me encontrava. Em menos de 3 minutos, o chão ficou todo branco e o caudal do rio aumentou substancialmente. A trovoada também começou a fazer sentir-se na zona e surgiram-me logo algumas dúvidas sobre o nível de risco que estava a assumir. Bem … era para a desgraça! Já ali estava e agora ia fazer o trajecto a que me propus! Só se a trovoada me caísse mesmo em cima, é que eu iria procurar abrigo.

Mantive-me firme, mas de pouco adiantou a teimosia em termos de capturas. Fiz mais duas sequências de correntes, com o rio a encher-se de água e de detritos (folhas, flores, etc), mas nada mexeu atrás do CD-3. Parecia impossível!! Zonas tão boas e água tão levantada. Pelo menos algum salmão ou truta marisca devia-se ter deslocado, só com aquela descarga de água.

Perante esta situação, resolvi mudar de estratégia. Ia trocar de amostra e voltar para trás, de forma a voltar a bater os locais mais promissores à saída das correntes. Nada de iscos pequenos … iria meter o X-Rap RT de 6cm. Se houvesse peixe grande nas redondezas, teria que mexer perante a acção e tamanho deste tipo de amostra. Era tudo ou nada, especialmente porque o caudal estava a começar a estabilizar e a descer ligeiramente.

Meti o X-Rap e comecei a deslocar-me para jusante. Iria bater exactamente os mesmos locais onde tinha lançado o CD-3, procurando insistir nas zonas mais fundas das correntes, onde eu tinha a impressão que estariam as trutas de maior tamanho. Os lançamentos cruzados começaram a sair e numa zona de aceleração de corrente, a caminho do muro de um pequeno açude, a sorte mudou totalmente. Lanço para a outra margem, começo a recuperar com calma, deixo a amostra fazer o arco gerado pela força da corrente e quando ela encosta à minha margem, vejo uma explosão na água. Um ataque de tal maneira fulminante, com estrondo tal, que me ia arrancando a cana das mãos. Até estarreci!! O que era aquilo?? 🙂

O peixe tinha arrancado debaixo de umas raízes que se encontravam na minha margem e abocanhou o rapala por todo. A força foi tal que a cana dobrou toda e temi logo pela ruptura do fio, pois não tinha muita linha fora do carreto. As pancadas do bicho eram brutais e para estragar ainda mais a festa, vi que o fio se tinha dobrado totalmente à volta do focinho do peixe. Ou seja, eu ia ter que segurar o peixe, não através da amostra, mas sim através do contacto directo do fio com a boca do peixe. Desde logo, fiquei com a impressão de que era um salmão ou uma truta marisca acabada de subir do Minho, mas não tinha discernimento para ver o que era, tal a adrenalina do combate.

Enfim, tive a noção desde o inicio de que aquele bicho estava perdido. O fio a passar-lhe pelas mandíbulas de forma contínua, o estrondo das pancadas e dos enrolamentos que fazia para se escapar e a falta do camaroeiro no meu colete (algo que não uso durante chuva forte para poder vestir a capa de chuva), eram tudo receitas para o desastre. Perante, isto só me restou mesmo, levantar a cana ao alto, afrouxar o carreto para o mínimo possível (nunca demais para evitar que a linha perdesse tensão) e tentar manter o peixe dentro da corrente em que encontrava. Se ele avançasse com toda a força para jusante, a favor da corrente, iria vê-lo arrancar de vez.

Durante alguns minutos, bem suei para o começar a ver cansado, mas eventualmente surgiram os primeiros sinais. Aquilo era peixe relativamente fresco que já tinha vindo a subir rio e como tal também não tinha força ilimitada. Quando notei a primeira quebra de força do outro lado, tentei manter a cabeça do peixe fora de água e preparei-me para o agarrar pela cauda. Era a única forma de o tirar de dentro de água. Tentei algumas passagens e só à quinta ou sexta é que o consegui agarrar bem. Já não havia hipótese! Tinha saído mais um grande troféu do Mouro, depois de um luta épica 🙂

Escusado será dizer que ainda tive que acalmar alguns minutos para conseguir discernir bem o que se tinha passado. Tinha ali um excelente exemplar de truta marisca com cerca de 55cm e 1,5kg de peso (agora os especialistas que me desmintam e que digam que é um salmão 🙂 ). Era bom demais para ser verdade e o dia já estava mais do que ganho!

Mesmo assim, e depois das fotos da praxe, resolvi voltar à faina. Já agora ia terminar de bater as zonas a que me propus. E por descargo de consciência, voltei a lançar no local onde tinha capturado a truta. Nem mais, mal o X-Rap começou a passar na zona mais intensa da corrente, sinto uma pancada na linha e vejo uma truta de cerca de 30 cm a conseguir escapar-se. Afinal, havia ali mais qualquer coisa 🙂

Enfim, os restantes 45 minutos poucas novidades trouxeram. Bati os pontos mais críticos de uma corrente relativamente extensa, mas nada mexeu. Também já pouco importava.

No final, esta jornada no Mouro acabou por ser épica. Mais do que a captura, o que me deu grande prazer foi a satisfação de ter tomado a decisão certa na altura certa, ou seja, ter trocado de amostra. Se tivesse mantido a CD-3, certamente que tinha saído do Mouro só com frustração. Assim, a história ficou escrita de outra forma.

Valeu a pena mais uma vez voltar a este grande rio truteiro! Por alguma razão, vamos realizar o convívio deste ano nas suas margens 🙂 Mais que não seja, é para prestar um pequeno tributo a este grande rio!

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Informação sobre o autor

Pescador de trutas desde os 18 anos. Tem uma forte dedicação ao spinning com colher e peixes artificiais, tendo pescado em Portugal, Espanha e no Reino Unido. Actualmente, pesca sobretudo na zona do Minho, Gerês e Centro do país.