Mais um ano e mais do mesmo! No ano passado, ainda existia a desculpa de estarmos perante uma situação de seca e ser necessário tomar decisões à última da hora, algumas das quais bastante acertadas, quando se traduziram no adiamento da abertura da pesca ou no total encerramento da pesca à truta durante todo o ano de 2012. Agora este ano, o que é que se passa? Porque é mais uma vez tardam em ser publicados online alguns dos editais das zonas de pesca reservadas mais relevantes para os pescadores de trutas? Não é função de uma entidade pública, prestar informação de forma atempada aos utentes de modo a que a lei possa ser cumprida de maneira ordeira? Não compreendo!
Estamos a quase 15 dias da abertura da pesca às trutas. Pescadores que vivem em zonas do país longe das zonas de pesca reservadas dependem normalmente da publicação dos editais para planearem as suas jornadas. Perante esta situação de falta de informação atempada, muito deles já nem incluem a possibilidade de pensar na abertura nestas zonas e avançam com planos para as zonas livres, onde sabem com o que contam antecipadamente. Quem é que isto beneficia? Só este facto constitui, desde logo, um importante mecanismo de triagem no acesso às licenças, portanto há alguém que sai beneficiado com esta situação, num processo que nos parece totalmente anti-democrático e carece de uma investigação mais aprofundada.
O acesso às licenças de pesca especiais em zonas de pesca reservadas já foi alvo de várias criticas neste espaço. O sistema, tal como está, já é altamente tendencioso, pois a forma como funciona privilegia claramente os pescadores que habitam na vizinhança dos locais de obtenção das licenças. Se a isto, adicionarmos a falta de informação atempada disseminada de forma global (online), então a situação é ainda mais complicada e põe claramente em causa os direitos constitucionais de cada cidadão enquanto pescador. Acho que o mínimo que se pode exigir é tratamento igual para todos. Todos devem ter exactamente a mesma probabilidade de pescarem no dia da abertura numa zona de pesca reservada, independentemente do lugar onde habitam ou de qualquer outra condição. Para isso, deve ser publicada a informação de forma atempada, devem ser facilitados meios de contacto rápidos e eficientes para a obtenção de licenças, e as licenças devem ser sorteadas com base em concurso fidedigno.
Sem nada disto, continuaremos a perdurar num obscurantismo nacional de favores e de processos menos claros que só nos têm levado à perdição e à falta de aproveitamento dos recursos endógenos. A pesca continuará a ser para uma meia dúzia que nem faz, nem deixa fazer, levando ao sub-desenvolvimento deste sector. É pena é que tudo isto seja feito com o dinheiro dos nossos impostos …
Quem me dera se eu tivesse a opção de poder escolher para onde vai o dinheiro dos meus impostos ou de poder escolher entre pagar impostos ou não … 🙂 Isso é que era … assim já se podia pagar pelo serviço prestado!!
Sou de aldeia, nascí na aldeia, numa feguesia semi-urbana, de uma vila que naquela altura tinha 15.000 habitantes, no interior da Província de Pontevedra, concretamente em Lalin. Quem não conheça a Galiza pode pensar que aquilo é Espanha e que a forma de pensar dos galegos não tem nada a ver com a forma de pensar dos portugueses, erro, não é bem assim, para “o mau” a forma de pensar é a mesma, e a pesca (e caça) não é diferente; a seguir vou-me explicar, e muitos dos leitores anónimos desta página vão ver-se identificados com os meus pensamentos.
Reinicio: sou de aldeia, e quando era um puto sempre pensei que os habitantes das grandes cidades tinham “tudo” muitas vantagens, muito serviços públicos,muitas actividades de lazer, hospitais,universidades,autoestradas, aeroportos,grandes centros comerciais como era há 30 anos o El Corte Ingles de Vigo, múltiplas salas de cinema,etc; serviços todos aos que não havia acessibilidade no meu povo, “na aldeia”; por isso, pensava que era justo que eles não tivessem acesso livre aos montes do meu concelho: só faltava, eles “tudo”, nos “nada”, e ainda pretendem o fim de semana vir caçar aquí, acabar com tudo, e depois voltar ao seu conforto. Esse era o pensamento do meu pai,que me transmitiu a mim, e o pensamento comum de todos os aldeões. A nossa pequena vingança era esta: para poder pertencer a uma sociedade de caça e pesca(do tamanho e com os terrenos de um concelho), e para poder caçar ou pescar no concelho, há que ser natural do concelho, ou viver cá há uns anos, ou ter em casamento uma mulher natural do concelho, ou comprar muito terreno no concelho para depois de uns anos ganhar o direito segundo a lei; portanto “os de Pontevedra e Vigo que se lixem”,ficam com o El Corte Ingles e nós com os coelhos, as codornizes e as trutas. Alguem me pode dizer que no Norte os camponeses não pensam igual em relação com os habitantes do Porto ou Braga?, e no Centro com Coimbra?, e em todo o pais com Lisboa?. Já vi passar dois governos socialistas e agora do PSD + CDSPP, e parece que os políticos portugueses pensam assim, por uma questão de votos, há que ver isto para conhecer a raiz da actal situação das concessões de pesca desportiva.
Não vou continuar a escrever hoje porque esta a ficar tarde e tenho de ir trabalhar de noite, deixo isto escrito para tentar criar discussão sobre o tema; nos próximos dias continuarei e vou pôr exemplos para que vejam aonde quero chegar com as minhas argumentações.
🙂 A lógica é a mesma deste lado da fronteira. É uma lógica de terceiro mundo … Temos o que merecemos!!
Abraço,
É exactamente o mesmo!!! O que acabaste de escrever Pingodoce é a pura da verdade!
Mas no que escreves pode haver o inverso…que são os aldões em vez que proteger o que defendem ser deles, matar tudo…e depois nem deles nem dos outros!!
E isto aconteçe muitas vezes….”isto é meu vou limpar tudo!!”
Infelizmente é esta a mentalidade…
Abraço
Deitando mais um bocado de lenha para a fogueira (perdoem a expressão), deixo aqui o link para a concessão do Rio Gadanha:
http://www.icnf.pt/portal/pesca/pescadesportiva/cpd/resource/doc/vc/cp-rio-gadanha-conc-moncao
Não posso deixar de criticar a disparidade no custo das licenças, 50x mais para um pescador externo à freguesia… Os recursos piscatórios estão a deixar de ser um bem público passando a ser um bem provinciano…