Depois de uma primeira tentativa num dos locais secretos do Mota, reservamos o local mais promissor para a parte da tarde. Segundo ele, a maior concentração de trutas de grande tamanho estaria naquele troço. Um troço onde mais uma vez, os grandes poços apareceriam intercalados por correntes vivas e com profundidade. Território ideal para a sobrevivência dos grandes exemplares.
O almoço decorreu em local sossegado e num restaurante da zona, e procuramos unicamente reestabelecer forças. A jornada da manhã tinha sido pautado por muitas trutas pequenas a sair à colher e portanto, resolvi mudar de estratégia. Atendendo ao facto de que o céu estava limpo e a temperatura a aquecer, meti uma linha 0,12 e peguei na Mepps Aglia nº1. Podia ser uma escolha bastante arriscada, especialmente na presença de um bom exemplar, mas como tudo na vida, os problemas só se resolvem depois de aparecerem, ou neste caso depois de morderem, e o que eu queria era problemas!!
Entramos novamente ao rio por volta das 15h00. Íamos bater a margem esquerda do rio. Primeiro, para montante e depois para jusante. Começamos lado a lado e fomos avançando. Logo nos primeiros lançamentos, o Mota afirma ter visto uma boa truta cerca de 40 centímetros atrás da colher, numa corrente relativamente profunda. Entusiasmado, resolvo dobrar o local onde ele se encontra e lanço para montante. A colher começa a rodopiar, e trás!! Sinto uma truta presa do outro lado da linha, mas nada de especial. Era uma pequena truta com cerca de 17 centímetros. Lá a tirei a contra corrente e devolvi-a à água. Já tinha feito o meu primeiro exemplar!!
Depois desta captura, entrei à cabeça da corrente. Realizo outro lançamento para montante, sinto outra cravadela e mais uma truta presa. Esta também de pequeno tamanho. Estava a ter alguma sorte, mas trutas grandes é que nem vê-las!! E o Mota sempre a dizer que ali habitavam monstros 🙂 🙂 Eu já nem sabia para que lado me virar e no que acreditar 🙂 Estava tudo a sair mal!
Entretanto, chegamos a uma zona onde entrava um ribeiro no rio e eu não podia passar. A solução era mudar de margem, mas estava com botas de cano curto. Disse ao Mota que ia tentar seguir o ribeiro, para ver se arranjava passagem, mas ele disse-me logo que ia ser difícil. Ele passou o rio e arrancou pela outra margem, e eu comecei a seguir o ribeiro.
A primeira coisa que notei no ribeiro foi que a água era relativamente limpa e que o mesmo tinha alguma profundidade interessante em zonas muito particulares. Comecei logo a pensar em grande probabilidade de encontrar trutas. Aliás fui fazendo vários lançamentos e comecei a sentir pequenos toques. Não eram trutas, mas sim escalos assanhados que tinham subido do Zêzere e que estavam com apetite. Bem que mordiam, mas não ficavam.
Fiz assim os primeiros 200 metros de ribeiro, até que chego a uma zona bem fechada onde vi um bom cardume de escalos a mosquear. Lanço para a outra margem, começo a recuperar e vejo um escalo a seguir a amostra. De repente, o escalo assusta-se, sinto um movimento estranho debaixo dos meus pés e arranca uma sombra directa à amostra, abre a boca, a colher pára, eu tento cravar, mas nem hipótese. Fiquei cego … ali, sem saber ler nem escrever, aparece uma truta de kilo a mordiscar a amostra. E não ficou!! Vi logo que tinha sentido o anzol e portanto nem insisti. Confirmou-se a teoria do Mota. Elas afinal sempre existiam!!
Animado por esta situação, reforcei a minha abordagem ao ribeiro. Bati mais de um kilómetro de ribeiro de forma intensiva. As trutas é que não estavam lá, à excepção daquele bom bicho de kilo. Em vez disso, escalos não faltavam. E tanto não faltaram que cheguei a um ponto que comecei a facturá-los. Num lançamento mais largo, vejo um escalo a correr atrás da amostra, paro a recuperação e ele crava-se. Tinha tirado o primeiro com cerca de 15 centímetros.
Depois resolvi tentar mais alguns. Numa zona mais profunda, sinto um toque mais forte, cravo e tiro outro escalo já com bom tamanho, cerca de 25 centímetros. Finalmente e já na fase final da minha abordagem ao ribeiro, consigo tirar outro escalo de 16 centímetros. Enfim, deu para passar meia hora e todos eles gostaram imenso da Mepps nº1.
Com o tempo a passar e sem registo de trutas, resolvi ligar ao Mota. Voltamos ao ponto de encontro e ele referiu-me que lhe tinha fugido uma boa truta no ribeiro onde eu tinha estado, há pouco tempo. Certamente que seria a mesma, pois não havia indícios de haver por ali mais trutas de bom tamanho. Enquanto tentávamos perceber se a truta era a mesma ou não, resolvemos bater mais uma sequência de poços para jusante. Entramos no primeiro poço, e a situação que se me deparou era a ideal. Profundidade e uma corrente que vai aumentando lentamente. Lançamento para montante, lançamento para jusante, e por entre umas pedras, sinto mais um toque. Consigo cravar, e tiro uma truta de 18 centímetros. Mais uma devolvida à água!!
Fomos palmilhando o local para jusante. Lançamentos a tentar a outra margem não faltaram. Alguns mesmo milimétricos, mas sem resultados. O dia estava mesmo a ser mau para as trutas grandes. Entretanto, e para ajudar à festa, o Mota ia-me fazendo a descrição de quantas trutas de kilo ou mais, já tinha capturado ou libertado em cada poço. Parecia impossível!!
Finalmente, chegamos ao último poço. O poço onde ele já tinha tirado uma de kilo este ano. Os primeiros lançamentos não produziram qualquer resultado, no entanto, de um momento para o outro, ouço o Mota a gritar e a dizer que lhe tinha picado uma boa truta. Avanço para jusante, falo com ele e indica-me que a truta poderia estar mais para baixo. Coloco-me então mais abaixo, lanço para montante e quando a amostra vem a passar junto às algas da minha margem, vejo uma truta a abrir a boca e morder a colher. Cravo imediatamente, a truta salta fora de água e cospe a colher. Devia ter cerca de 30 centímetros e era um excelente exemplar. Bem insisti para ver se outra lhe queria seguir o exemplo, mas nada disso. Aquela tinha sido a última oportunidade do dia.
No global, foi uma tarde de pesca inesquecível. O dia não estava bom para a pesca e mesmo assim vi uns poucos exemplares que me fazem acreditar que naquele rio habitam grandes monstros. A densidade de escalos e de outros ciprinideos é verdadeiramente espantosa, e cria condições óptimas para o desenvolvimento de trutas de grande tamanho. Nalgumas secções, o rio pareceu-me bastante similar alguns troços do Côa, o que mais ainda reforça o seu potencial. Fiquei bastante satisfeito por ter visitado estes locais e quero agradecer ao Mota por esta expedição. Brevemente, voltaremos à luta e certamente com mais sorte 🙂
És sempre bem vindo Mário. Pena a de kilo não ter cravado senão já tinhas muito trabalho com o teu 0.12 😀 Para meio de Junho se passares pela zona apita 😀 Abraço.
Olá, nunca pensei que os escalos cravassem na medalha hoje fui a pesca há truta e tirei um que atacou a medalha até pensava que fosse uma pequena truta mas era um que tinha apanhado pela guelra fiquei admirado com tal coisa!