À semelhança do que já aconteceu no ano passado, também este ano a Associação de Caça e Pesca Amigos de Montesinho voltou a realizar um forte repovoamento da albufeira de Serra Serrada com vista a promover condições para uma boa abertura da pesca à truta. No global, foram introduzidas 2700 trutas que somam às que já tinham sido repovoadas no ano anterior.
A albufeira da Serra Serrada faz parte do parque natural de Montesinho, e apesar de estar concessionada, obedece a regulamentação do parque que só permite a abertura da pesca em finais de Março, mais concretamente no dia 31. O vídeo de apresentação desta sessão de repovoamento segue abaixo.
Como é claro, o vídeo já tem algum tempo, mas existem nele alguns aspectos e considerações que merecem o nosso comentário.
Desde logo, o primeiro aspecto que chama claramente a atenção é a questão dos viveiros estatais que são utilizados para as sessões de repovoamento. Tudo indica que temos vindo a assistir ao longo dos anos a um desinvestimento na truta e na sua revitalização, isto apesar de um aumento de interesse dos pescadores por esta espécie a nível nacional e mundial. Neste momento, parece que existe unicamente o viveiro do Marão a funcionar para satisfazer as necessidades de repovoamentos de trutas de toda a zona Norte. A zona de Bragança e arredores ficou sem qualquer viveiro de apoio, já que os viveiros do Baceiro e do Prado Novo foram fechados. Perante isto, compreende-se perfeitamente os atrasos nas respostas do Estado às solicitações de repovoamento, bem como se pode justificar alguma falta de qualidade nos exemplares de trutas utilizados para repovoar as massas de água. Gostaria de saber até que ponto é que se está a repovoar cada rio com a preocupação de manter o seu património genético intacto. Tenho muitas dúvidas!!
Depois é referida no vídeo a questão do preço das licenças que é um dos aspectos sobre os quais mais temos insistido neste espaço. Os preços são baixos e convinha aumentá-los. No entanto, não faz sentido aumentar preços, se a qualidade da experiência de pesca se mantiver a mesma de há 50 anos. Se eu bem me lembro do que é uma abertura de barragens, o que interessa é meter ração dentro de água e depois vender o máximo de licenças possíveis, ultrapassando os limites diários estabelecidos no plano de exploração. Enquanto houver interessados, há licenças para passar. E escusam de vir com “paninhos quentes”, porque é mesmo assim. Ainda este ano estive na abertura do Alto Cávado, e andavam lá centenas de pescadores. Como os preços não aumentam, aumenta a quantidade para se realizar receita. Tudo bem! Compreendo a lógica. Agora com preços mais caros, tipo por exemplo 20 euros ou coisa que o valha, nem pensar em vender mais do que 40 ou 50 lugares por dia, porque senão todo e qualquer pescador vai-se sentir roubado e com razão!! Para esse montante, a experiência de pesca tem que ser de primeira qualidade … Portanto, para que o preço aumente, a qualidade também terá que aumentar e isso depende dos concessionários!
No global, não vemos com maus olhos a intervenção que os pescadores têm realizado em determinadas albufeiras truteiras da nossa geografia. Sem a sua acção, algumas dessas albufeiras estariam com muito pouca vida fluvial e todo o ecossistema circundante se iria ressentir mais tarde ou mais cedo. No entanto, é preciso também realizar uma intervenção cuidada, que cumpra os preceitos legais e que muitas vezes vá mais além, tentando promover uma experiência de pesca à truta de excelência e virada para um turismo de qualidade. Esse deve ser o desígnio daqueles que cuidam desta nossa riqueza 🙂 🙂

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