A gestão de massas de água nos meses de Verão é um problema frequente no nosso país e que normalmente adquire contornos mais prementes nos meses de Verão, e sobretudo em períodos de seca. Infelizmente, estas são alturas em que a população piscícola apresenta elevados níveis de stress, por falta de espaço e de oxigenação, e isto pode levar a eventuais mortandades em troços específicos de alguns rios. As trutas, como qualquer outro peixe, não conseguem escapar a este tipo de fenómeno.
É sabido que no Verão, a dependência das populações humanas aumenta relativamente às massas de água. Desde a produção de energia, passando pelo abastecimento das populações e combate aos incêndios e terminando nas actividades agrícolas, tudo são razões para que se aumente o consumo de água, e como tal, também se tenha que ter uma maior preocupação com a gestão dessa mesma água.
Independentemente de quem está encarregue desta gestão, o que nos parece é que a mesma carece de um maior controlo de impacto ambiental. Parece-nos claramente que a preocupação com a manutenção de um habitat fluvial saudável é um objectivo de terceira e quarta linha, quando não é simplesmente esquecido em detrimento das iniciativas humanas, seja elas quais forem. Já muito se tem falado sobre os caudais mínimos aquando da existência de barragens e mini-hídricas, e verifica-se que pouco se tem evoluído a este nível. A preocupação com a produção de energia, que muitas vezes se esconde atrás do argumento de reserva para abastecimento das populações ou para combate a incêndios, é claramente o principal motivo para continuarmos a ter troços a jusante das barragens e mini-hídricas que são autênticos desertos durante o Verão, pois tudo o que sobe durante o Inverno, morre.
Uma outra situação que também se nos afigura como sendo bastante importante e que pode vir a ter impactos cada vez mais gravosos, é a utilização da água para a actividade agrícola. Nalguns rios de planície, a actividade agrícola é ainda intensa e como tal são bastantes os agricultores que simplesmente colocam um motor de rega e metem um tubo para dentro do rio. Esta situação até parece relativamente inofensiva de um ponto de vista ambiental, mas pode constituir o golpe de misericórdia nalguns poços e na densidade populacional de um rio, quando realizada sem qualquer tipo de regras e controlo. As estatísticas têm vindo a demonstrar que a maior parte do consumo de água que ocorre no interior durante os meses de Verão está sobretudo ligado à sua utilização agrícola. Uma utilização agrícola que continua a ser bastante ineficiente, pois gasta-se mais água do que necessária para o tipo de culturas que se realizam, ou porque os solos são pobres demais ou porque as culturas não são as recomendadas. Se juntarmos a isto, um maior retorno de pessoas à actividade agrícola e uma maior escassez de água, devido ao aquecimento global, podemos estar perante um problema em crescendo.
Um exemplo desta situação é o que se verifica neste momento no Rio Neiva. Durante toda a época de pesca, os níveis neste rio mantiveram-se sempre bastante elevados. Chegados a Julho, fui lá pescar nas zonas mais baixas e fiquei muito mal impressionado com o nível do caudal. Aliás essa situação foi confirmada por vários pescadores que também por lá passaram. Em menos de um mês, o rio perdeu imensa água e uma parte dessa perda tem claramente a ver com o aumento da extracção para fins agrícolas. Sendo este um rio de planície, são vários os motores que encontramos ao longo das suas margens e a densidade tem vindo a aumentar ao longo dos anos. Nalgumas zonas de poços, onde se costumava sempre ver uma razoável densidade de trutas, o nível era muito mais baixo do que há 10 anos e as trutas eram muito menos.
No global, esta situação dá que pensar. Se a pressão de extracção de água para fins agrícolas no Verão continuar a aumentar e os períodos de seca se tornarem mais intensos, terá que haver um controlo mais apertado do uso da água, sob pena de podermos assistir à destruição de determinados troços para a pesca. A simples retirada de água de água dos rios tem que deixar de ser tão simples e passar a estar submetida a regras mais apertadas. É impensável que alguns agricultores levem os poços de alguns rios até à total exaustão durante o Verão, matando todas as populações piscícolas que se abrigam naqueles locais.
Há que rever esta situação…

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