Na semana passada, eu, o Mota e o tio dele fomos para a zona do Sabugal à procura das bravas perdizes que habitam nos seus cabeços mais altos. Foi uma jornada em grande marcada pela boa disposição e por um vento cortante e bem frio. Como não podia deixar ser, fomos aproveitando a caçada para ir falando das pescarias passadas de trutas e das que hão-de vir, e inevitavelmente incidimos sobretudo sobre o rio Côa. Um rio muito especial, onde as trutas ou picam ou não picam. Na maioria dos vezes, saímos deste rio com a impressão de que nem sequer existem trutas, para depois, num dia muito especial, fazermos pescarias memoráveis.
Apesar de o rio Côa ser o palco de acção favorito para muitos pescadores de trutas, continua a ser muito maltratado por entidades privadas e públicas. No dia em que estive a caçar com o Mota, passei pela ponte nova do Sabugal e tirei as fotos que acompanham este post. Como podem ver, o caudal é ainda bastante reduzido e as correntes são quase insignificantes. Isto numa altura em que já choveu com alguma consistência na zona e o frio já está a entrar e as trutas começam a preparar-se para a desova. Ao mesmo tempo, a barragem do Sabugal está completamente cheia.
O que isto me parece indiciar é que a política de gestão da rede hidrográfica do Côa é verdadeiramente vergonhosa. Se no Verão ainda se pode falar em incêndios e escassez de água, no Outono esse argumento já deixa de ser válido para manter um caudal ecológico mínimo. Especialmente numa altura em que as trutas precisam de mais água para subir o rio e entrar às zonas preferenciais de desova.
Sei bem que se usa e abusa de repovoamentos nas zonas concessionadas abaixo da Barragem do Sabugal, mas essa não é certamente uma política correcta para quem ter pesca à truta de primeira qualidade no Côa. Com injecções contínuas de ração, apenas se anda a disfarçar um problema que cada vez terá consequências mais graves em termos da qualidade piscícola do Côa. O Côa tem que ser auto-sustentável e deve evitar o total desaparecimento e a contaminação do património genético das suas trutas.
Para além da questão da gestão hidrográfica, ainda subsiste o grave problema das ETAR’s no Côa, especialmente da ETAR do Sabugal. Desafio qualquer responsável pelo ambiente a visitar o troço à saída do cano da ETAR do Sabugal e conseguir certificar a água do rio naquela zona. As trutas para jusante deste ponto estão irremediavelmente contaminadas com poluição de vários tipos. Ela pode diminuir à medida que nos afastamos deste local, mas não deixa de estar presente rio abaixo.
Eu e o Mota concordamos plenamente neste ponto. As ETAR’s do Côa devem ser vistoriadas e certificadas de um ponto de vista ambiental. Neste momento, são uma ameaça para a população piscícola e também para a saúde pública.
O Côa é um excelente rio para a pesca à truta, estando sujeito a pressão do lado de Portugal e do lado espanhol. É um rio que precisa de ser acarinhado e conservado de forma cuidadosa. Até agora nada disso foi feito. Apenas se usou e abusou, e isso não terá bons resultados no médio e longo prazo. Há que gerir este património com bom senso e delinear uma estratégia de médio e longo prazo para a conservação do rio Côa e a preservação das suas trutas. Chega de amadorismos e iniciativas desgarradas e inconsequentes!!
Concordo, e assino por baixo!