Depois de mais de uma semana, e de algum trabalho de edição de vídeo, finalmente podemos falar a sério do que se passou por volta das 9h30 no dia 1 de Março de 2014. Tal como tinha dito em post anterior dedicado à abertura, depois de um início de manhã fraco, pautado por uma captura, inexistência de movimento das trutas e perda de amostras por insistência em fio usado do ano passado (0,18 da Fendreel), cheguei a uma corrente de seixo com uma extensão de cerca de 60 metros. A corrente iniciava-se na saída de uma zona calma de areia fina e depois começava a ganhar velocidade, com a redução de profundidade, entrando posteriormente numa sequência de rápidos impescável.
Eu já tinha mudado a minha amostra para uma Vibrax FT nº3 e o Torres, penso que ainda estava fiel a uma das suas muitas Tanger (que não são nada más!!). Fui o primeiro a entrar na corrente e realizei os primeiros lançamentos para a zona mais calma. Os lançamentos andavam nos 30/40 metros e não se via sinal de peixe. Desanimado por isto, comecei a virar-me para a corrente. No primeiro lançamento direccionado para o início da corrente, consigo mexer uma pequena trutita de 13 centímetros que veio atrás da amostra durante cerca de 5 metros, mas com pouca vontade, ou seja, rapidamente voltou para trás. Perante isto, fiz dois lançamentos na mesma zona, mas sem resultados.
Já na fase final de bater aquele local, entrei na zona de corrente média a forte e lanço na perpendicular à minha margem. O lançamento cai milimétrico num pequeno buraco por entre as raízes de duas árvores. Eu vejo a amostra a cair e mal entra na água começa a rodar com força. Quando a colher começa a rodar, vejo uma sombra imensa a sair da margem, a abrir a boca, a fechar a boca e a colher desapareceu. E eu a ver isto em slow-motion numa sequência, que por ser tão simples, me pareceu surreal. Sem pensar muito, puxo a cana para trás com força e o peixe estava cravado!!
Só que o peixe ficou cravado, sentiu a força da linha e nem mexeu. Manteve-se praticamente no mesmo sítio a olhar para montante com uma imponência brutal!! Fiquei logo a mil e gritei pelo Torres que estava a 20 metros de mim. Sabia bem no que me tinha metido e tinha muitas dúvidas de que conseguisse tirar aquele salmão, porque era claramente um salmão! Um lindo salmão já com as cores de rio e portanto já há algum tempo longe do oceano. Era um macho pela disformidade da boca!
A corrente forte da zona e a linha podre do ano passado eram combinações fatais e portanto só me restava tentar capturar aqueles momentos em vídeo. Por isso, o Torres tinha que saltar para a minha beira.
Os primeiros dois minutos foram dedicados a tentar tirar o salmão da corrente para a zona calma. Imprimi alguma força na linha, procurando evitar o exagero. Se o salmão se virasse para jusante e arrancasse, o assunto terminava ali. Durante esses dois minutos, o salmão lutou sobretudo com a cabeça para se soltar da amostra. Como não imprimi muita força, ele foi-se deixando trabalhar e começou a entrar na zona calma. A partir daí, seguiu-se o seguinte minuto em vídeo capturado pelo Torres, que finalmente tinha acorrido à chamada e tinha posto o telemóvel a funcionar. Momentos de adrenalina indescritíveis que podem ser comprovados pela movimentação do telemóvel do Torres:
Como podem ter visto, não há qualquer diálogo no vídeo. Isto porque a enxurrada de palavras menos próprias e a adrenalina foi de tal ordem, que a situação era insustentável para apresentação pública.
O vídeo acaba exactamente no momento em que o salmão volta para a corrente e se aproxima o desfecho do combate. Sem camaroeiro (porque em dias de chuva a capa não permite levar o camaroeiro de forma confortável) e com bastante força ainda do lado do salmão, não foi possível segurá-lo na zona calma. Quando ele avançou outra vez para a corrente, o Torres baixou o telemóvel e pedi-lhe para o tentar agarrar ou empurrar novamente para montante e para a zona calma. Ele tentou uma, tentou duas, tentou três … à quarta o salmão dá duas cabeçadas fora de água e corta a linha com os dentes. Foi a cegueira total dos dois lados. Eu e o Torres ficamos a olhar um para o outro incrédulos 🙂 🙂
O salmão sentido-se livre, voltou para o centro da corrente a 10 metros de nós, colocou-se atrás de uma pedra e ficou ali como se nada fosse, a oxigenar e recuperar forças. Enquanto ali estivemos o salmão não mexeu um centímetro. De vez em quando dava um pouco mais à barbatana e nós víamos a Vibrax FT ainda presa na mandíbula. Um piercing de primeira qualidade!!
Ambos sabíamos que o salmão tinha que ser libertado de qualquer forma, pois não era fresco e como tal era um crime matá-lo, mas não conseguir consumar a captura era sempre um falhanço. No entanto, e passado os primeiros 5 minutos de trauma, fiquei até bastante satisfeito com toda a situação. O combate ia ser sempre difícil, não só por causa do meu material, mas sobretudo pela forte corrente da zona. Com um peixe na ordem dos 5 kilos, a corrente criava uma tracção adicional que duplicava, pelo menos, a força do peixe, portanto as minhas hipóteses de sucesso iam ser sempre reduzidas.
No final, valeu-nos o vídeo para evitar que esta história fosse mais uma daquelas em que é difícil de acreditar. Desta forma, conseguimos imortalizar um momento, que para mim e para o Torres, há-de marcar sempre a história das aberturas da pesca à truta e que há-de continuar a animar os nossos convívios.
Digam o que disserem, não há nenhuma truta que se compare a um salmão preso na ponta da linha, especialmente se este estiver fresco! Só me falta capturar um desses em Portugal, para fechar o círculo de aprendizagem!! Para já, tenho tido o gosto de brincar com salmões já desovados do Mouro 🙂 🙂
Parabens pela captura.
Obrigado Torres, mas não foi bem uma captura. Foi mais um catch and release não intencional 🙂 🙂
Foram 4 minutos memoráveis. … temos que lá voltar atrás dos frescos!! Depois falamos!!
Abraço,
e o salmão vais conseguir libertar a amostra?espero que sim,senão nem salmão na cesta nem no rio para procriar.
A amostra ficou presa na lateral da mandíbula, não impedindo o salmão de abrir ou fechar a boca. A esta hora já se libertou da colher.
Ainda bem que há pessoas dispostas a partilhar experiências tão interessantes e ainda por cima bem documentadas. É bom também existirem ainda salmões para nos pregarem estas partidas.
De salientar também o desportivismo com que os protagonistas encaram este aparente “fracasso”. Não é um fracasso, é uma experiência fantástica que provavelmente os nosso netos apenas poderão encontrá-los em memórias orais ou escritas.
No vosso relato escrevem que o salmão terá cortado a linha.
Já tirei alguns salmões de barco (que é muito mais fácil de os dominar) e nunca me aconteceu isso. Mas neste ano no rio Minho têm sido por demais os relatos de peixes grandes que aparentemente cortam a linha. Sou no meu barco é já o terceiro.
Até há bem pouco encarava estes fenómenos como “nabice” do pescador, mas começamos já a não encontrar explicação para o fenómeno.
Existirá no rio Minho mais alguma nova espécie espécie de “dentes afiados”, o salmão costuma cortar a linha ou a malta anda a desaprender de pescar?
Gostaria de colher algumas impressões e possíveis explicações para estes fenómenos.
Boas Paulo,
Talvez este artigo possa ajudar-te na busca para uma explicação.
http://www.bishfish.co.nz/articles/salt/lines.htm
Muitos Parabéns pelo lance. Adrenalina no máximo imagino. A sacadeira (rede)realmente é um utensílio não se deve dispensar para rios em que se pode apanhar surpresas, também já deixei ir uns bons peixes á custa disso. só faz falta quando não a levamos, e deixa-nos fulos interiormente…. se é que me entedem…… foi pena mas, uma vez mais, parabéns aos dois por conseguirem guardar este momento em vídeo pelo menos!
Cumprimentos!
Ca ganda tranca, ca bicho!
Caros amigos….muito bom!
Pelos vistos os salmoes andam em força por esses lados!
Abraco