Abril de 2014. Depois de duas passagens pelas margens do Rio Águeda, em pescarias no Rio Alfusqueiro, fiquei com a vontade de ver o que existia no Águeda. Sem poluição visível e com uma história de uma captura de um peixe com mais de 2kg no ano passado, não havia razão para não tentar a minha sorte neste rio.
Depois de muitas combinações, resolvi atacar este rio em conjunto com o Torres num dia nublado e em que prometia alguma chuva. A ideia, antes demais, era verificar se existiam trutas e qual a sua densidade. Só depois é que podíamos pensar em capturas e outros andamentos. Como é da praxe, e uma vez que estávamos a invadir território do Miguel e do Jesus, tivemos que avisar estes dois companheiros, que rapidamente nos deram a permissão para avançar e ainda nos forneceram algumas dicas. O Miguel encontrou-se logo connosco às 7 horas da manhã na foz do Alfusqueiro, enquanto que o Jesus acabou por vir ter connosco já às 2h00 da tarde.
Depois dos cumprimentos e brincadeiras da praxe, eu e o Torres resolvemos atacar o Águeda alguns quilómetros para jusante da confluência com o Alfusqueiro. Acabamos por parar numa zona onde nos parecia que existia o melhor compromisso entre poços e correntes. Pegamos no material de heavy spinning e toca a andar para o rio. Com o tempo escuro saíram os primeiros lançamentos para a outra margem. Estava tudo calmo e num primeiro olhar não se viam sinais de peixe. Com uma corrente sustentada, margens altas e fundo de areão, aquele troço do Águeda lembrava-me a parte mais baixa do Coura … e ainda por cima com água que parecia limpa!! Tinha que haver trutas … era isto que eu estava a dizer sempre ao Torres!!
Os primeiros peixes que se viram foram identificados pelo Torres. Eram umas sombras de bom tamanho que se mexiam junto ao fundo …. Uns bons barbos a caminho da desova … Primeiro sinal de que alguma coisa ali vivia!
Saindo do poço e avançando para águas mais vivas, comecei a ver que as coisas poderiam melhorar. Numa zona de saída de uma linha de água, o Torres diz que vê a primeira truta. Eu avanço ligeiramente mais para montante, e vejo um peixe com cerca de 30 cm à procura de esconderijo … mal viu a colher! Era uma truta e estava bem picada!!
Com este primeiro sinal de optimismo, a coisa animou e começamos a bater o local com outro empenho, até que porque estávamos a entrar numa zona com muita corrente, alguma profundidade e areão grosso. Bem insistimos na zona, mas nem sinal de peixe. Estranho … um local daqueles sem nada??
Estávamos nós na conversa sobre este assunto e vemos três artistas a aproximarem-se, um deles com fato de mergulho. Depois de um “Olá” a medo e de uma primeira pergunta sobre o peixe, os artistas abrem o jogo: andavam à lampreia à força toda, nas zonas com menor profundidade!! Saco de plástico preto, garfo para espetar e toca a facturar!! Ainda perguntamos pelas trutas, mas pouco disseram. Era peixe que não lhes interessava muito!!
Perante este assunto sem futuro, resolvemos avançar para o açude seguinte. Ainda vimos as motas dos artistas camufladas debaixo de uns arbustos e entretanto, deparamos com um carro, já mesmo a chegar à outra corrente. Outro artista a vestir-se com facto de mergulho. Também ia às lampreias!! Falou em números de capturas superior a 50 em 2014, contou mesmo uma historia de captura de truta marisca com peso superior a kilo no Águeda com uma pistola de caça submarina num dos poços do rio e só faltou explicar como se enchia uma rede de peixe! Não se coibiu de dizer que para montante, andava tudo à pesca submarina nos poços do rio!
Perante isto, eu e o Torres fechamos logo o tasco naquele local. Havia umas trutitas, mas bastante assustadas pela passagem constante desta gente sem lei. A limpeza que fazem no rio é imparável. Todos os dias de manhã e à noite são dezenas de artistas que fazem isto, das formas mais ilegais possíveis. Mal entramos no carro, vimos mais alguns na mesma vida noutro sítio. Aonde é que estão as autoridades?? O que fazem nesta zona? Isto até mete nojo!! Aquilo que se está a fazer está tão na cara de toda a gente (vê-se da estrada, todos os habitantes da zona vêem) que só a conivência a todos os níveis funciona como explicação credível!!
Depois disto, o dia ficou quase perdido. Ainda tínhamos vontade de pescar, mas o que vimos fez-nos sentir que andaríamos muito perto de coar água sem grande objectivo.
Com alguma calma, decidi ir para montante e acabamos por tirar duas ou três trutitas. Uma delas tirada por mim num bom açude do Rio Águeda, constituindo a prova concreta de que existem trutas no Águeda. Uma linda truta de 27 centímetros:
Já a caminho do final da faina, encontramos o Jesus que tinha tirado uma truta com cerca de 30 centímetros numa corrente para jusante da confluência do Agadão com o Águeda. Ainda nos deu algumas dicas, mas o resto da tarde foi quase improdutivo. Apenas o Torres conseguiu tirar uma pequena truta numa corrente para safar a grade …
No global, cumprimos o objectivo: vimos e tiramos trutas no Águeda. Existem trutas e algumas de bom tamanho, no entanto a pressão dos furtivos não permite que elas evoluam para densidades e tamanhos mais apreciáveis. Gostei imenso do rio e acho que merece outra atenção por parte das autoridades. A captura ilegal das trutas com arma de caça submarina nos poços durante todo o ano e o abuso da pesca à lampreia são autênticos flagelos que importa eliminar. O que se viu na margem do rio é um autêntico faroeste onde manda quem quer e como quer. Uma vergonha nacional que também, infelizmente, se observa noutros rios!! Se fosse em Espanha, não se via desta miséria! É preciso penas com multas de 10000 euros para cima e 6 meses de cadeia mínimo e juízes “com os respectivos” para as aplicar a doer!!!
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