Dia de pesca com o amigo Torres. Depois de uma incursão de manhã no Rio Lima, sem grande sucesso e com muita pirataria profissional dentro de água, resolvemos avançar para o Rio Minho à procura de melhor sorte. A ideia era passarmos pela loja de pesca do Cerqueira para investir umas massas em material, sobretudo amostras, e depois atacar o Rio Minho na zona entre a Lapela e Monção.
Como o dia estava quente e com bastante sol, a única coisa que antecipávamos apanhar era uma boa tosta e o respectivo bronze. Já vínhamos com o material de heavy spinning do Lima e portanto, depois de mais uns cobres bem gastos na loja de caça e pesca de Monção, reforçamos ainda mais este andamento. Ou saía coisa grande, ou então saía uma grande grade e um dia a coar água!!
Chegamos ao local de destino por volta das 13h30. Comemos qualquer coisa à beira rio para encher o estômago e toca a avançar para a margem. Mal chegamos, deparamos com o rio em baixo e com um caudal bastante interessante. Vimos dois pescadores na margem. Ainda falei com eles e disseram-me que de manhã tinha lá estado muita gente à pesca e que houve alguém que tinha apanhado uma truta grande. Não se falou em pesos, mas devia ser uma boa bicha.
Perante este primeiro relato de muita gente de manhã, a ideia de coar água tornou-se mais realista. Mesmo assim, não desanimamos e começámos a esticar fio. Os primeiros lançamentos aconteceram num poço junto a uma pesqueira que ficava imediatamente a jusante de uma longa corrente de seixos. Lançamos e lançamos e lançamos, mas sem resultado. O calor era tanto que não se via qualquer actividade. Apenas se viam as nossas amostras a cruzar a água.
Na primeira meia hora, nada se passou, até que avançamos lentamente para a corrente de seixo. Aí vimos um espectáculo impressionante. Centenas de locais de desova da lampreia … Grandes buracos escavados no seixo disseminados por toda a corrente. Um espectáculo grandioso e digno de ser apreciado, pois implicava um enorme esforço das lampreias na escavação. Nalguns desses buracos, viam-se mesmo as lampreias a proteger o ninho.
Pena é que uma série deles já não tinham água, condenando assim várias posturas de lampreias. A vergonha da má gestão de caudais pelas barragens com resultados miseráveis. Neste caso da barragem espanhola, mas também encontramos a mesma miséria em Portugal. Em vez de adequarem os débitos de água à preservação das espécies, com descargas mais regulares e contínuas, preferem apostar em picos de descargas. Uma política com péssimos resultados para a reprodução das espécies migradoras. E não era pedir muito … Bastava terem esse cuidado durante apenas metade do ano. Uma vergonha para quem diz que aposta em energia limpa e ecológica … Se a matança é ecológica? … Claro que sim!! É a hipocrisia que nos vendem todos os dias na televisão para nos cobrarem preços acima do valor justo!!
Enfim, deixando de lado estas considerações e voltando à pesca, foi na corrente que safei a grade. Lançamento para montante, ligeiramente acima de uma pedra grande na corrente, começo a recuperar e quando a colher passa pela pedra, sinto um toque. Cravo e vejo uma linda truta pequena a saltar fora de água. Lá a tento segurar com a força da corrente. Ela ainda saltou fora de água mais duas vezes, mas estava bem cravada. Dali já não saía e rapidamente parou nas minhas mãos. Uma linda truta do Minho com 25 centímetros. Uma marisca que rapidamente voltou para casa.
Depois desta captura, resolvemos fazer a corrente toda até ao seu final. O dia estava muito quente, mas mesmo assim vimos actividade a montante. Estava lá cerca de 7 pescadores profissionais ou furtivos. Eram 3 da tarde. Três andavam de barco e os restantes da margem, equipados com material para a apanha da lampreia. Andavam completamente à ganância. Era apanhar tudo e mais alguma coisa. Graças às nossas autoridades iluminadas que resolveram prolongar a época do sável e da lampreia até 31 de Maio, andava-se ali, não a pescar, mas sim a rapinar!!
E as lampreias, umas já moribundas, outras no ninho, estavam completamente indefesas perante esta situação! Só não as apanhava quem não queria!! Até dava para tirar fotos …
Com este espectáculo miserável e terceiro mundista, ficamos arrumados e sem vontade de pescar mais. Para quem ainda acredita que é possível fazer alguma coisa pela pesca em Portugal, estes são os verdadeiros banhos de realidade. Só pesca quem não respeita e quem está disposto a tudo. Os outros ficam a ver!!
Enquanto não houver gente séria a gerir a caça e pesca, e gente séria a fiscalizar, não vale a pena pensar num futuro para este sector. Está tudo completamente a saque e só não aproveita quem não quer. Chega a um ponto que já nem vale a pena acreditar num futuro melhor …
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