Depois de muito esperar e desesperar, tinha chegado finalmente o dia da abertura da pesca à truta em 2015. Dentre as várias opções, eu e o Torres acabamos por assentar na versão inicial; íamos atacar o Mouro. Apesar da chuva estar muito aquém do esperado e o caudal não estar nada de especial, não nos parecia que houvessem outros locais mais interessantes para abrir as hostilidades da época truteira. O Torres ainda fez o levantamento das condições de vários rios no dia anterior à abertura e conseguiu visualizar algumas trutas, mas isso em nada alterou a nossa opção. De facto, até a confirmou, pois as trutas que ele visualizou estavam no Mouro.
No telefonema de sábado à noite, ainda tentamos dividir os troços a pescar, pois éramos quatro, eu, o Torres, o Ivo e o Bruno, mas nada foi conseguido. Apenas marcamos o local de encontro; bomba da repsol de Valença às 5h45 da manhã. Bem cedinho, pois, para além do café, era também preciso alinhar a estratégia e chegar cedo ao local.
No dia seguinte, lá estávamos todos à hora. O Torres e o Ivo chegaram primeiro, porque o Torres nem dormiu com a adrenalina e depois cheguei eu e o Bruno. Conversamos rapidamente sobre a distribuição de troços, o Torres inicialmente queria ir para o local onde tinha visto as trutas, mas depois resolveu vir comigo. Por sua vez, o Ivo e o Bruno iam para o local onde as trutas tinham sido vistas.
Chegamos às 6h30 ao local do crime. Éramos os primeiros. Não se via sinal de mais ninguém nas redondezas. Ali o Torres não tinha visto nada, mas a minha intuição dizia-me que era o local ideal para abrir por várias razões. Começamo-nos a preparar e em menos de 15 minutos estávamos em condições de iniciar a jornada. O plano era pescar ao heavy spinning utilizando o arsenal do costume e tentando insistir nas saídas das correntes e nos açudes.
Mal se começou a ver, saíram os primeiros lançamentos junto à ponte. Eu abri as hostilidades e depois o Torres fez o mesmo. Não se via sinal de nada. Entretanto, resolvemos descer às margens. O Torres entrou na zona do açude e eu fui para montante da ponte. Primeiro lançamento mal chego ao local, sinto um ligeiro toque. Segundo lançamento e tenho uma cravadela. A truta salta no ar, cospe a amostra e toca a fugir. O primeiro momento de emoção, mas a pequena truta foi mais fina.
Tinha acabado de recolher a amostra quando deixo de ver o Torres. Lá o chamo, mas nada. Entretanto, resolvi ver aonde é que ele estava. Quando vou a começar a sair da margem, vejo-o a aparecer em cima da ponte com um grande sorriso e uma bruta truta na mão. O homem estava cego! Uma senhora truta de 47 cm logo nos primeiros lançamentos!
Segundo ele, a truta cravou na parte de cima do açude e depois levou-lhe fio e saltou para baixo do açude. Sem camaroeiro à mão, a situação foi complicada de gerir e só com alguma calma é que ele a conseguiu encostar a uma zona com menos corrente para lhe deitar a mão. Enfim, imagino!! Não deve ter sido nada fácil, a julgar pelo nervosismo do Torres.
Lá tiramos as fotos da praxe e rapidamente o Torres foi levar a truta ao carro. Isto no preciso momento em que surgem dois carros: um com o Vitor e o Miranda, e outro com espanhóis. Disse-lhe para andar rápido e em poucos menos de 2 minutos já estávamos de volta às margens e a galgar terreno. Tínhamos que entrar na zona mais interessante, antes que a concorrência fizesse das suas.
Em menos de 5 minutos já tínhamos galgado mais de 500 metros e estávamos no local que mais me interessava. Os lançamentos começaram a sair e eu vi as primeiras trutas a mexer. Levei mais um toque e no quarto ou quinto lançamento ferro a primeira truta do dia. Ela veio a perseguir a colher desde o centro do rio e quando a colher dá meia volta para a contra corrente, a truta entra com força. Nem foi preciso cravar, pois ela ficou logo bem presa. Era a primeira truta do dia com 17 centímetros.
Depois desta captura, começámos a bater a corrente a milímetro. Lançamento atrás de lançamento. Tirei mais uma truta pequena. Não estava a correr propriamente mal, mas gostaríamos de ver peixes maiores. De qualquer forma, estávamos a ter andamento … Já no final da corrente, vemos dois artistas a correr na margem contrária. O Torres vira-se para mim e diz: “São os espanhóis!” Eu respondo-lhe: “Esses gajos não podem passar por nós. Deixa-os ir por aquela margem que mais à frente não passam. Entretanto, eu vou já cobrir o poço seguinte que é para não deixar nada para trás.”
Meu dito, meu feito. Mal entro na corrente que dá lugar ao poço, lanço para montante, começo a recuperar e quando a colher dá as primeiras voltas, sinto um leve toque na linha. Vejo a truta a correr atrás da amostra, atraso a recuperação e ela abre a boca. Cravei e a truta saltou logo fora de água. Lá a tentei meter dentro do meu controlo e em pouco tempo forcei o 0,18 para lhe meter a mão, já que não tinha muito tempo para brincar. Uma linda truta do Mouro …
Entretanto, os espanhóis vinham no nosso alcance a fazer um barulho impressionante. Como é que aqueles artistas podiam pescar alguma coisa com tanto barulho? Enfim, eu e o Torres olhámos um para o outro e apenas comentámos que as licenças para esta gente devia passar para os 1000 euros por ano, porque é quase o que pagamos para pescar do outro lado, se quisermos águas truteiras de qualidade!!
O Torres tira mais uma truta e eles avançam mesmo para a nossa frente!! Porra lá os gajos!! Pareciam burros!! Meto dois lançamentos, mesmo em cima das botas do gajo que estava mais perto de mim e ele … com a amostra a cair-lhe mesmo a 20 centímetros dos pés, na margem contrária, deve ter percebido que se calhar estava a pastar num local onde eu estava a pescar … pois rapidamente abriu caminho.
Mal eles avançaram, virei-me para o Torres e disse; “Torres, isto agora é até à próxima ponte! Vamos dar gás, que eles agora não podem passar do outro lado!” E assim foi, pusemo-nos na saída de uma corrente a olhar para os artistas sem saber o que fazer! A corrida tinha-lhes acabado por ali. Bem que abanavam as patas e falavam alto, mas parece-me que isso não ajudava muito! Se calhar as trutas na Galiza pescam-se a falar alto … devem ser das boas!!!
Enfim, toca a galgar margem. Num final de corrente mais profunda, o Torres tira outra truta de 22 centímetros que devolveu à água. Entretanto e já no final da corrente, vejo os artistas dos Espanhóis a passarem o rio para este lado. Viro-me para o Torres e proponho cobrir o poço final antes da ponte, pois para montante não faltava gente. Lá deixamos a corrente menos profunda para trás e fomos direitinhos ao nosso destino, eu mais à frente e o Torres mais atrás.
Dei com o sítio certo, pois em 5 minutos tirei duas trutas: uma de 25 centímetros e outra de 32 centímetros. Ambas estavam mesmo na zona mais profunda do poço, coladas a raízes submersas. A colher passou-lhes mesmo em frente ao nariz e foi só fechar a boca. Deram boa luta e a maior deu uma excelente foto. Uma linda truta do Mouro.
Depois desta captura, o peixe deixou de se ver. A ponte estava a menos de 100 metros e por ali já tinha passado gente. Tínhamos que tomar novo rumo. Agora pouco importava que os espanhóis viessem ou não, pois gente já não faltava. Tentámos falar com o resto da equipa, mas estavam desanimados. Do lado deles, só tinha saído uma truta e pescadores era qb. Ainda meti rapala e pesquei uma zona já calcada. Vi uma truta de quase 24 centímetros a querer brincar, mas nada de sério.
Eram 10h00 da manhã e a pescaria de abertura estava feita. Quem apanhou trutas, safou-se. Quem não apanhou, já ia ter muitas dificuldades para se safar, pois o stress dentro de água já era mais que muito.
Para mim e para o Torres, a tradição cumpriu-se!! Era mesmo isto que era preciso! Ver trutas dentro de água, capturar algumas e passar um dia a desfrutar de um bom andamento. Lá conseguimos enganar os espanhóis este ano, mas para o ano parece-me que temos que procurar outro poiso. Ou isso, ou aumentar as licenças para os tais 1000 euros!!
boas! tb passei por la no dia de abertura depois dos espanhois descarregarem pro minho pela manha, calhou bem e tirei uma boa truta. caso encontres algum dia uns oculos de sol da caperlan perto da casa dos ingleses acima de uma acude….