Primeira pescaria às trutas no Rio Ave

Primeira pescaria às trutas no Rio Ave


Considerado como um dos rios mais poluídos da Europa, o rio Ave, que já foi um curso de água onde as trutas mariscas e salmões entravam em quantidade, deixou de ter quaisquer condições para albergar salmonideos no seu troço médio e baixo. A forte poluição das zonas industriais têxteis de Santo Tirso, Guimarães, Trofa, entre outras, foram responsáveis pela razia de peixe que se verificou neste rio durante as últimas décadas. No entanto, como que não há bem que não acabe, nem mal que sempre dure, a crise do têxtil da década de 90 trouxe algum alívio a uma situação de poluição confrangedora e desde então para cá, as coisas têm vindo a melhorar lentamente.

Efectivamente, desde há alguns anos para cá, tenho vindo a ouvir falar continuamente da fama truteira do Rio Ave, especialmente no seu troço superior para jusante da barragem do Ermal. Muitos têm sido os comentários que me têm chegado sobre a presença de trutas neste troço e algumas de bom tamanho. Portanto, não é de estranhar que a minha curiosidade ficasse aguçada e que mais tarde ou mais cedo tivesse que ver o que se passava com os meus próprios olhos. Meu dito, meu feito, e rapidamente comecei a planear uma pescaria na zona da Póvoa de Lanhoso, próximo da pista de pesca desportiva, onde existe uma zona de pesca concessionada.

Arrancando cedo para uma jornada dedicada ao Rio Ave, cheguei ao local que tinha em mente por volta das 7h30 da manhã. Como vinha com o material de heavy spinning de uma jornada anterior no Rio Lima, resolvi manter a mesma artilharia e dirigi-me logo à margem do rio para comprovar as condições do mesmo. Fiquei logo bastante surpreendido pela qualidade da água, numa zona de queda à saída de um açude. Havia um ligeiro tom escuro na água, devido a alguma chuva do dia anterior e também alguma poluição, mas pareceu-me que havia potencial para a presença de trutas.

Os primeiros lançamentos saíram na queda de água. Bem tentei malhar ali, mas nem sinal de trutas. O sítio era óbvio demais, pois pegadas não faltavam na zona, denunciando o facto de os pescadores estarem sempre a passar por ali. O primeiro local onde tive um toque de uma truta pequena foi na parte de cima do açude, com um lançamento encostado a uma árvore da outra margem. A truta entrou, mas soltou-se logo.

Depois deste facto, avancei para montante de forma lenta. A profundidade, cor da água e caudal encontrados lembravam-me o Neiva na sua parte mais baixa. Pareceram-se especialmente interessantes os poços e as correntes mais fundas na cabeça desses poços. Para mim, aqueles eram os locais com mais potencial em termos de trutas.

Fui trabalhando as zonas mais promissoras, mas durante os primeiros 45 minutos nem sinal de truta. Nem mesmo em zonas mais fundas e onde entravam linhas de água. Era verdade que me parecia que tinha um pescador à minha frente, pois tinha visto um carro próximo do meu, mas mesmo assim, isso não seria razão para ver uma ou outra trutita. Enfim, quase a desmoralizar, lanço para a outra margem numa corrente de areão grosso, começo a recuperar e quando a amostra entra no pico da corrente, sinto um ataque de uma truta. Cravo e com calma puxo-a para jusante, onde deu um pouco mais de luta, antes de passar para a minha mão. A minha primeira truta do Ave com 21 centímetros e a comprovar que elas existem.

Truta 21 cm Rio Ave Março 2015

Tinha acabado de soltar a truta e vejo um pescador a vir de montante e com material de spinning. Trocamos impressões e ele foi-me informando sobre as condições do Ave na zona. Rio com algumas trutas grandes, especialmente nos poços. Falou-me em 4 ou 5 trutas de kilo tiradas nos poços na abertura ou imediatamente a seguir. Quanto às correntes, essencialmente truta pequena e em menor densidade. Naquele dia específico, ainda não tinha tirado nada. Entretanto, e enquanto estávamos na conversa apareceu um amigo dele, também à amostra, e desafiou-o para pescar só os poços para montante. Lá foram os dois e eu resolvi fazer meia volta.

A minha atenção virou-se para o troço a montante da concessão de pesca. Fiz o caminho até ao limite e parei mesmo numa descarga de água suja na margem esquerda. O fantasma da poluição estava presente e apesar de me parecer água de obras não deixava de me causar algum receio em termos de pesca para jusante, portanto resolvi pescar dali para montante. Comecei a lançar em zonas de corrente média e com alguns poços à mistura. A primeira meia hora não deu nada, até que cheguei a um cotovelo de rio com um pequeno poço e uma corrente com alguma profundidade. Lançamento para montante, começo a recuperar e quando a amostra passa junto a uma raiz de uma árvore, sinto um toque e vejo uma boa truta a dar de lado na amostra. Cravo e ela arranca para jusante a levar algum fio. Lá a seguro e tento trazê-la para a zona mais calma da corrente. Ela tenta meter-se numas raízes da minha margem. Forço a linha e encosto-a à erva da margem, não sem antes ela ter saltado duas vezes. Já com algum cansaço, deito-lhe a mão e ponho-a a salvo. Uma linda truta de 30 centímetros do Ave. Um exemplar com nível.

Truta 30 cm Rio Ave Março 2015

Com esta captura, tirei todas as dúvidas sobre a qualidade truteira do Ave. A confiança aumentou e resolvi pescar o resto do troço para montante. Bati mais uma corrente e entrei num poço. A meio do poço, realizo um lançamento para a outra margem por entre as árvores e quando começo a recuperar, sinto um puxão na ponta da linha. Cravo e vejo uma linda truta a fugir para jusante, tentando afundar. Lá seguro e tento puxá-la para mim. Ela salta fora de água e depois tenta meter-se numas algas do meu lado. Com calma, contornei as algas e coloquei-a ao meu alcance. Uma linda truta de 28 centímetros.

Truta 28 cm Rio Ave Março 2015

Com mais esta captura, a pescaria entrou em ritmo normal e decidi fazer mais uma hora de faina até ao almoço. Fui tendo mais uns toques e ainda capturei mais uma truta de cerca de 24 centímetros. Sem grandes novidades, cheguei ao carro passado pouco tempo.

No global, fiquei bastante satisfeito em comprovar que o Rio Ave ainda tem trutas de qualidade no seu troço superior. Claramente um bom sinal que penso que deve começar a reflectir-se nos troços mais para jusante. Tem é que haver vontade pública para se propor uma descontaminação total e completa deste rio. Eu acho que este rio pode recuperar a sua fama truteira e voltar a colocar-se como um destino favorito para os pescadores de trutas. Fiquei bastante impressionado com as suas condições e com a beleza das paisagens por onde passa. Acho que seria dinheiro bem empregue avançar com um pacto inter-municipal para a total limpeza do Ave e depois para o seu repovoamento com trutas comuns, mariscas e com salmões.

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Informação sobre o autor

Pescador de trutas desde os 18 anos. Tem uma forte dedicação ao spinning com colher e peixes artificiais, tendo pescado em Portugal, Espanha e no Reino Unido. Actualmente, pesca sobretudo na zona do Minho, Gerês e Centro do país.