Se há coisa que nunca percebi muito bem é a forma como é gerida a barragem de Covas no Rio Coura. Como é óbvio, estou a falar da barragem que se encontra a jusante da povoação e que tende a ser marcada durante todo o ano por fortes flutuações do nível da albufeira. Até posso entender que este tipo de flutuações façam algum sentido em períodos de cheia, ou imediatamente após, no entanto isto acontecer em pleno Verão é algo que me faz alguma confusão de um ponto de vista de gestão sustentável do habitat fluvial e sobretudo da população de peixes, nomeadamente da truta.
Compreendo que os interesses ligados à produção de energia sejam predominantes neste tipo de gestão, no entanto, em plena época de incêndios e perante um Verão com alguma falta de água, penso que não faz sentido colocar a barragem aos níveis que vemos nas fotos abaixo. Se o Verão é já por si uma estação difícil para as trutas por falta de oxigenação e de água para procurar alimento e manter a temperatura do corpo relativamente fria, então com muito pouca água a situação torna-se completamente ridícula e coloca em perigo a sobrevivência de muitos exemplares. Aliás, se olharem às fotos abaixo, tiradas pelo nosso colaborador José David em finais de Agosto, conseguem ver alterações bastante dramáticas no nível da albufeira.
Com isto não defendo a total erradicação de qualquer forma de gestão energética ou hidrográfica durante a época do Verão. O que proponho é uma gestão dos níveis da albufeira que faça sentido atendendo à necessidade de salvaguardar as populações piscícolas, e nomeadamente as de trutas, que são muito mais sensíveis a este tipo de flutuações durante esta altura do ano. E essa gestão não é muito difícil de fazer já que não existem grandes alterações de caudais devido a pluviosidade nesta época e a mini-hidríca que se encontra a montante pode ser articulada facilmente com a barragem de Covas. Assim, e neste contexto, não se justifica minimamente este tipo de panorama, que para além de causar danos ambientais, pode também colocar em risco a existência de água necessária para fazer face aos incêndios.
Uma última nota vai também para os incêndios que este ano assolaram a zona do Coura. Efectivamente, o montante de cinzas depositado na terra ainda não terá escoado de forma total para o rio e portanto é natural que ainda tenhamos que suportar essa situação. O impacto irá ocorrer sobretudo na zona de Vilar de Mouros, mas mesmo assim parece-nos que o efeito não será negligenciável em termos de mortandade das populações de trutas. A ver vamos, mas pode muito bem ser necessário estar atento e pensar em repovoar essa zona do rio, caso os cenários mais negros se confirmem e as chuvas não arrastem rapidamente as cinzas para o mar.
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