Apesar da pesca dentro de água em zonas de desova ser um tema polémico, poucas vezes ouço alguém falar sobre o mesmo, especialmente em meios ligados à pesca à truta onde a utilização do método de “vadear” é prática corrente. Considero que esta é uma questão relevante sobretudo em zonas onde existem espécies salmonídeas migratórias que desovam durante todo o ano, e em algumas zonas de montanha com águas bastante frias, onde muitas vezes a desova das trutas comuns pode entrar pelo mês de Março. Nestes casos concretos, a pesca a vadear utilizando diferentes técnicas (vadeadores, botas altas, etc.) pode ser responsável pela perda de várias posturas, correspondendo nalguns casos na mortandade de milhares de alevins, sendo esta um perda bastante considerável ao nível da reposição de stocks de alguns cursos ou massas de água.
Normalmente, em países mais civilizados do que o nosso, as zonas de desova são locais protegidos onde a pesca é simplesmente proibida durante toda a temporada e portanto este problema nunca chega a existir. No entanto, por cá, as coisas são muito diferentes e os locais de desova não merecem nenhum destaque especial, mesmo em concessões de pesca desportiva, e portanto este problema coloca-se de forma bastante premente.
Sempre estive consciente desta realidade e portanto apenas pesco da margem, mesmo em zonas de desova. O facto de pescar ao spinning com diferentes tipos de linha e pesos de amostras permite-me cobrir várias zonas de qualquer rio sem ter necessidade de sequer molhar os pés. No entanto, sei perfeitamente que alguns tipos de pesca não se prestam a este tipo de comportamento e como tal a sua prática obriga a ter que calcar o leito do rio. Nestes casos concretos é que é preciso ter muito cuidado com aquilo que se anda a fazer. E a este nível sabemos que há de tudo como na farmácia, já que a ganância não foi distribuída apenas pelos pescadores com morte!! Assim, compreendo que fica muito bem dizer aos amigos e no facebook que se pesca sem morte porque se devolvem exemplares adultos de trutas comuns, trutas mariscas e salmões. O problema é que enquanto alguns fazem isto andam simultaneamente a pescar em zonas de desova e a calcar posturas destas mesmas espécies, matando milhares de alevins!! Infelizmente, não são poucos os que o fazem, numa postura que fica muito longe da tal pesca sem morte que andam para aí a vender diariamente, acabando por matar muito mais por ano do que os pescadores com morte que pescam sempre desde a margem.
Enfim, serve apenas tudo isto para dizer que uma vez que a lei não proíbe, temos que ser nós a tomar medidas para evitar causar o mínimo de danos nas zonas de desova. Sempre estive atento a esse tipo de assunto e respeitei essas zonas e acho que os pescadores que utilizam vadeadores devem ter responsabilidades acrescidas na manutenção das mesmas, independentemente de pescarem com ou sem morte.

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