Mesmo após ter já passado vários dias, ainda nos lembramos muito bem do que ocorreu no dia da abertura da pesca às trutas em 2016. Sendo um dia tão desejado e antecipado com muita ansiedade é natural que deixe sempre marcas para o resto da temporada, seja pela positiva, seja pela negativa.
Este ano, e com as fortes chuvadas de Janeiro e Fevereiro, as expectativas eram muitas altas e muitos de nós já sonhavam com cestos cheios e grandes trutas em pequenos riachos. No entanto, esse cenário prometedor acabou por não se transformar em realidade para a maioria dos pescadores, já que a forte descida de temperatura dos dias anteriores à abertura acabou por levar a níveis bastante reduzidas de actividade por parte das trutas, especialmente em zonas de montanha.
À semelhança de anos anteriores, e depois de muito ponderar outras opções, decidi realizar a abertura no Rio Mouro. A minha intenção não era propriamente tirar muitas trutas, mas pelo menos tentar ver se apanhava algum salmão desprevenido que tivesse entrado durante as enxurradas do início do ano. Não tinha tido nenhuma informação peremptória sobre a existência de cardumes no rio, mas as condições pareciam ideais. À partida, a única diferença relativamente ao ano anterior era o facto de não realizar a abertura com o Torres, que estava muito ocupado em regimes mais “calientes”, mas sim com o Bruno Ferreira.
Chegamos ao rio por volta das 6h30 da manhã. Ninguém nas proximidades. Éramos os primeiros e esperamos até ao nascer do sol para arrancar. Os primeiros lançamentos começaram a sair e notava-se alguma falta de prática, motivada pela paragem prolongada, mas também pelo frio que gelava as mãos. Assim, e logo nos primeiros 5 minutos perdi uma amostra (depois recuperada), porque tentei forçar o lançamento para uma zona muito encoberta.
Na primeira hora, achei natural não ver trutas, nem sentir nenhum toque de jeito. no entanto, à medida que o tempo foi passando, a temperatura aquecendo e nada mexia, comecei a pensar na vida. Lançamentos atrás de lançamentos com iscos diferentes em zonas de correntes e poços e não se via sinal de nada. Só mesmo em duas ou três circunstâncias é que vi 3 ou 4 exemplares muito pequenos e senti algo que me pareceram toques muito a medo. A mesma coisa do lado do Bruno. Parecia surreal. A água estava relativamente fria, mas mesmo assim não me parecia razão para o que estava a acontecer.
De facto, na zona com maior densidade de trutas, notei um comportamento bastante atípico. Mesmo sem as trutas me verem, mal a amostra caía na água, havia logo uma fuga para o esconderijo mais próximo. É que nem precisavam de ver o que era. Sei que a água fria podia ser uma explicação viável para o que se estava a passar, mas pela minha cabeça já me começava a cheirar a acção furtiva pré-abertura.
Enfim, a verdade é que nada mudou até às 11 horas. Foi sempre a malhar para nada. Todos os pescadores que encontramos apresentaram cestos vazios e relatavam a inexistência de trutas. Não havia como continuar e como tal fechamos o tasco no Mouro.
Com o episódio no Mouro a estragar o dia, decidimos que tínhamos que safar a grade e como tal, a única opção viável que nos surgiu foi o Coura. Mesmo sendo um rio fortemente batido nas aberturas, é também um curso de água com enorme potencial truteiro e onde a alteração da temperatura da água ou a abertura das barragens condiciona o comportamento das trutas.
Às 12h30, estávamos a chegar ao Coura, ao mesmo tempo que víamos muita gente já a arrancar, a grande maioria pescadores de minhoca. Alguns satisfeitos, mas muitos com cara de poucos amigos. Resolvemos perder a primeira hora a bater uma zona de poços e correntes. O local já tinha sido batido, mas mesmo assim achamos que podíamos ter sorte numa segunda passagem. Ainda vimos duas ou três trutas e eu tive um toque, mas nada de sério para registar.
Terminada esta primeira fase e com o cenário a ficar cada vez mais negro, resolvi passar pela barragem de Covas, mas o arraial e a concentração de pescadores era de tal ordem que nem chegamos a parar. Já em solução de último recurso, resolvi bater uma sequência de três buracos que normalmente têm trutas e costumam ser certinhos.
Armado com uma nova amostra que trabalha bem ao jigging e ao spinning, foi aí que me safei. Lançamento largo para um poço, deixo afundar, começo a sacudir deixando a amostra tocar no fundo e quando levanto a ponta da cana sinto algo preso. Cravo e de repente sinto acção do outro lado. Era truta e começa a dar cabeçadas e a tentar fugir. Lá a seguro sem grande dificuldade e com calma consigo trazer até à minha mão uma linda truta do Coura com 29 centímetros. Um lindo exemplar que me fez respirar de alívio.
Terminado este buraco, avançamos para o seguinte e aí o Bruno também safou a grade com uma truta de tamanho idêntico à minha. Eu ainda tive outra cravada, mas ela saltou fora de água no último momento e desprendeu-se.
Já com o dia a arrefecer e sem grandes opções, passamos pela Central de France, mas já não havia nada para nós. A abertura estava feita e a tradição estava cumprida. Uma das mais fracas aberturas dos últimos anos, mas sempre um momento para desfrutar das pesca às trutas com amigos em paisagens bastante belas.
As grandes trutas ficam sempre para depois da abertura… Com exceção do Torres.
A abertura deu para adiar o vício e valeu pelo passeio pelas margens e para estudar futuros destinos de pesca.
Abraço
O Torres pesca sem morte todo o ano!!! 🙂 🙂
Boas pessoal. Como diz o Trutas, agora pesco sem morte todo ano mas… por tierras de nuestros hermanos 🙂
🙂 e também faltou dizer que são trutas com bom lombo!! Tudo de kilo para cima 🙂 🙂