Madrugada de abertura no Rio Coura

Madrugada de abertura no Rio Coura




Depois de muita ansiedade e antecipação, tinha chegado o famoso dia 1 de Março; o dia da abertura da pesca às trutas. Com a noção clara de que não iria faltar pessoal a calcar a margem dos rios, resolvi por os pés a caminho o mais cedo possível. Às 4 da manhã já andava a mexer e pelas 5 já estava a rolar na estrada. A ideia era ser o primeiro, pelo menos a bater 200 ou 300 metros de rio, porque obviamente a partir da primeira meia hora de pesca, iam surgir pescadores com força no local escolhido.

Quanto ao local, e depois do desaire do Mouro no ano passado, tive que firmar no Rio Coura, pois é um rio relativamente certinho nas aberturas. Pode até não dar muito, mas dá sempre algumas trutinhas para safar o grade, desde que se chegue a tempo e horas aos melhores locais.

Cheguei a Covas eram 6h15 da manhã. Ninguém à vista e nem sinal de carros nas redondezas. Comecei a preparar o material e afinar a vestimenta, pois precisava de capa para fazer face à chuva “molha tolos” que estava a cair. Não era muita, mas molhava bem!! Fui retardando os preparativos até entrar na hora oficial de pesca e mal o ponteiro bateu no sítio certo, toca a arrancar para os primeiros lançamentos, ainda sem grande visibilidade. Como selecção para o início da faina, escolhi uma Tanger prateada de 12 gramas montada num fio 0,18 da Trabucco e numa cana de 1,8 metros. Como a visibilidade ainda era muito reduzida, escolhi a Tanger para maximizar a visualização da amostra dentro de água e controlar os lançamentos.

Comecei logo a malhar no açude em frente ao parque de merendas. Primeiro, a comprovar os lançamentos e a medir distâncias, e depois a começar a tentar os melhores lugares. Como a barragem a montante estava parada, a corrente era normal e portanto podia-se trabalhar a colher sem dificuldade. Lentamente, fui evoluindo para montante e numa zona ligeiramente mais funda, lanço e parece-me ter sentido uma ligeira tracção na linha. Voltei a insistir e de repente, a linha ganha vida própria e arranca para jusante. Imediatamente, cravo, levanto a cana e vejo um bom peixe a debater-se do outro lado. Tento ao máximo segurar o peixe, ainda sem ter visto do que se tratava, e começa uma luta bastante difícil, em que a corrente e falta de visibilidade em nada ajudam. Com calma, vou encostando o peixe para o meu lado e mantendo-o fora de água. Ela tenta sempre fugir para a zona com mais corrente, mas eu vou forçando o levantamento de cana. Entretanto, o peixe passa à minha frente e vejo que se trata de uma truta. Dá mais duas ou três cabeçadas, e está na altura de tirar o camaroeiro.

Camaroeiro na água e agora há que meter a truta lá dentro. Não foi tão fácil como parece. Depois de 5 ou 6 passagens, ainda parecia que tinha força para mais, mas com calma e alguma pressão sobre a linha, consegui levar o meu objectivo a bom porto e coloquei a truta dentro da rede. A primeira captura da época!! Uma linda truta de 43 centímetros capturada no Rio Coura …

Com a primeira truta capturada, baixei logo o nível de adrenalina. A grade já estava safa e agora ia começar a divertir-me um pouco. Para isso, resolvi testar alguns iscos que me parecem ser bastante promissores. Um deles foi o Powertails da Fiish. Entremeando entre powertails, Black Minnow e rapala nos fundões, fui avançando para montante. Estava com esperanças de ver algumas boas trutas, mas rapidamente perdi a ilusão. No seguinte troço de rio com mais de 200 metros, estava tudo marcado por botas do dia anterior e não se viam trutas a mexer. Mesmo em zonas de difícil acesso havia presença de pegadas frescas do dia anterior, porque ainda mais ninguém tinha chegado ao local! Os lançamentos sucediam-se em zonas de primeira qualidade e nem movimentação dentro de água! Sinal de que os furtivos tinham feito ali a pré-abertura …

Mesmo assim, e com este panorama negro, ainda consegui cravar uma truta ao powertail, a única que vi em 200 metros de rio até chegar a um ponto em que achei que tinha que mudar de sítio. Resolvi então ir para jusante, e aí voltei ao contacto com as trutas. Trabalhando o powertail de forma eficiente, consegui ter três toques e cravei uma pequena truta numa zona de água parada. Um bom exemplar de 23 centímetros.

Com esta truta do lado de cá e ainda avancei um pouco mais para jusante, mas encontrei o Vasco e o Ricardo Lima que vinham de baixo. Estivemos um pouco na conversa, o Vasco já tinha tirado duas e o Ricardo tinha tido vários toques ao Black Minnow, mas sem capturas. O panorama era de que haviam algumas trutas, mas também bastantes pescadores, sobretudo junto à ponte da Barragem de Covas. Perante este cenário, resolvemos mudar de sítio e tentar novos locais. Eu voltei ao carro, e encontrei mais três viaturas de matrícula espanhola. Sinal de que não valia a pena perder mais tempo por ali. Estava na altura de tentar bater alguns sítios mais secretos.

Em resumo, e para abertura de hostilidades, esta primeira incursão até não foi muito má. Tirando o episódio indecente de furtivismo numa zona que até é de fácil fiscalização, tudo correu bem e logo desde muito cedo … permitindo uma sessão de pesca muito descansada e despreocupada … dedicada mais ao prazer de pescar do que à captura de trutas.

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Informação sobre o autor

Pescador de trutas desde os 18 anos. Tem uma forte dedicação ao spinning com colher e peixes artificiais, tendo pescado em Portugal, Espanha e no Reino Unido. Actualmente, pesca sobretudo na zona do Minho, Gerês e Centro do país.