Terras do Alva … Trutas do Alva

Terras do Alva … Trutas do Alva

Há muito tempo que já não pescava no Rio Alva. Efectivamente, este ano tenho concentrado a minha atenção muito mais na zona do Norte do país e a zona Centro tem ficado um pouco para trás. De qualquer forma, as saudades de algumas massas de água voltam sempre, e neste caso, o Alva é sempre uma referência a considerar.

No entanto, desta vez, e ao contrário do que costuma ser a minha prática comum, resolvi visitar um troço novo do Alva em conjunto com o Professor Arlindo Cunha e o Dr. Manuel Pintalhão. Recentemente, ouvimos falar de uma concessão do Alva na zona de São Martinho da Cortiça e decidimos fazer o reconhecimento.

Chegamos ao local de emissão das licenças por volta das 7h00 da manhã em inícios de Abril e depois de termos sido nós a preencher as respectivas numa sequência bastante caricata e desordenada, lá começamos a planear a pescaria. A ideia era de pescar o troço de pesca com morte pescando de jusante para montante, começando no limite inferior da concessão. Para isso, socorremo-nos do mapa que se encontrava no local de emissão das licenças e do plano de exploração que se encontra no site do ICNF.

Em pouco menos de 10 minutos e depois de tomar um cafézito, lá avançamos para o sítio de início da pescaria. Isto não sem antes de passar em frente ao tasco do Alva Fly Fishing Club que fica mesmo junto à ponte próximo do fim da concessão. Podia ser que desse sorte … aliás, porque parte da gestão da concessão é assegurada por este clube.

Mal chegamos ao término da concessão, demos com um pescador a pescar ao spinning mesmo na queda de água do açude, já em águas livres. Não parecia muito entusiasmado e durante o tempo em que nos estivemos a preparar, não fez qualquer captura.

Para começar a pescaria, optamos por material de heavy spinning. O dia estava claro e com algum calor, mas mesmo assim, achei que valia a pena testar algumas amostras mais pesadas que, quase de certeza, ainda não tinham passado pelas águas do Alva. Assim, os primeiros lançamentos começaram a sair na zona superior do açude. A corrente não era muita, nem se viam sinais de truta à superfície, no entanto, elas podiam estar a meia água ou junto ao fundo. Havia que tentar a sorte.

Durante os primeiros 20 minutos, nada mexeu. Parecia que não havia peixe na zona. Fomos lançando à vez, e num lançamento longo junto a um primeiro cotovelo de rio, tenho uma cravadela, com a truta a saltar fora de água e a descravar-se. Devia ter 22 ou 23 centímetros, mas já era o primeiro sinal positivo. O resto dos pescadores não tinham tido qualquer sinal.

Posteriormente, chegamos à zona da ponte e deparamo-nos com alguma dificuldade para nos movimentar junto à margem. Depois das subidas e descidas típicas, lá conseguimos estabilizar novamente, mas sem qualquer novidade do ponto de vista de actividade de peixe. Lá vi um barbo de grandes dimensões e uma truta de 27 centímetros a seguir a amostra, mas notava-se que estavam muito picados. Não era um bom presságio.

Basicamente, fizemos as seguintes centenas de metro de margem sem qualquer novidade, até que chegamos a um primeiro poço generoso com uma corrente profunda a montante. Começamos a lançar desde longe e num lançamento colado à margem direita, tenho uma cravadela de uma truta pequena que se descrava a seguir. Já era coincidência a mais!! Voltei a insistir no mesmo local, mas sem resultado. Entretanto, o amigo Arlindo avançou para o início da corrente, lançou para montante e tirou a primeira truta do dia. Um lindo exemplar com cerca de 25 centímetros. Enquanto ele estava a pegar na truta, eu lancei para montante e comecei a recuperar. Mal a amostra entrou no eixo central da corrente, senti uma leve pressão na linha e cravei imediatamente. A truta começou a dobrar e a fugir para a margem, mas com fio 0,18 não a deixei esticar muito. Depois de cerca de 1 minuto de combate e ajudado pelo Dr. Manuel Pintalhão, tirei um lindo exemplar de 28 centímetros.

Truta-28-cm-Rio-Alva-Abril-2015

Ainda no recobro destas capturas, decidimos avançar para montante e entramos numa corrente de cascalho e menor profundidade. Ali, o Dr. Manuel abriu a sua contagem com uma truta de cerca de 26 centímetros e eu e o amigo Arlindo tivemos vários toques, sobretudo de trutas pequenas.

Com o rio a ter um caudal muito menor e as trutas a parecerem-me mais pequenas, resolvi mudar para material de light spinning, numa opção que se veio a revelar catastrófica. Nos primeiros 10 minutos, ainda tive dois toques de alevins e vi o Dr. Manuel Pintalhão a tirar outra truta, no entanto, no troço seguinte, e com uma corrente generosa, lancei para montante, comecei a recuperar, vejo um vulto a avançar para a amostra e a movimentar a água à superfície, abocanhou a amostra, deu uma volta de cabeça e partiu o fio como se fosse manteiga, arrancando para jusante. É que nem deu tensão à cana, tal o tamanho e a forma como entrou à amostra. Compreendi que foi um erro trocar de material.

Estava eu ainda recompor-me desta situação, quando ouço o Dr. Manuel a chamar por mim para o ajudar. Cheguei perto dele e vejo-o a lutar com uma boa truta. Um lindo exemplar em zona difícil. Lá dominou a truta com alguma força, porque tinha material para isso, e quando a mesma já estava cansada, saquei de camaroeiro e avancei para a margem do rio. Em pouco tempo, já estava do lado de cá. Uma linda truta do Alva com 50 centímetros.

Truta 50 cm Rio Alva Abril 2015

Depois desta captura, foi o entusiasmo geral. Com fotos e mais fotos, ganhamos vontade de bater os últimos metros do troço com maior intensidade e nessa zona, foi o local onde mais capturas fizemos. Em lançamentos de vários tipos, conseguíamos por trutas a mexer de forma inacreditável. Logo acima do local onde o Manuel tirou a sua boa truta, arranquei duas trutas de bom tamanho (fotos abaixo)

Truta-35-cm-Rio-Alva-Abril-2015

Truta-27-cm-Rio-Alva-Abril-2015

Parecia que estávamos quase noutro local. O Manuel ainda tirou mais duas de bom tamanho e o Arlindo tirou uma de 43 centímetros. Finalmente, eu ainda fiz uma última de 32 centímetros, mesmo junto ao início da zona de pesca sem morte. Um fim vertiginoso para uma pescaria que parecia que ia ser fraca no início, mas que começou a evoluir em crescendo.

Chegados à divisória do troço sem morte, acabamos com a faina, até porque já era hora de almoço, mas estávamos todo visivelmente satisfeitos. Tinha sido uma jornada épica, com trutas para todos os gostos e bem distribuídas por todos os pescadores.

Depois do almoço, ainda fomos para montante da Barragem das Fronhas à procura de alguma truta perdida, mas apenas nos deparamos com uns cardumes de barbos. Para não os deixar sem qualquer tipo de aviso, ainda consegui cravar um que me deu água pela barba durante mais de 10 minutos. Só passados 10 minutos é que o consegui por a jeito para entrar no camaroeiro. Mediu 51 centímetros.

Barbo 51 cm Rio Alva Abril 2015

No global, esta foi uma excelente pescaria no Alva. As trutas estavam presentes e com tamanhos bastante razoáveis. Claramente um sítio a visitar e que contrasta bem com a escassez de truta que se vive em alguns rios do Norte.

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Informação sobre o autor

Pescador de trutas desde os 18 anos. Tem uma forte dedicação ao spinning com colher e peixes artificiais, tendo pescado em Portugal, Espanha e no Reino Unido. Actualmente, pesca sobretudo na zona do Minho, Gerês e Centro do país.