Já têm sido vários os artigos que aqui tenho publicado sobre sessões de repovoamento de qualidade duvidosa e que podem estar a por em causa a biodiversidade dos nossos rios e o património genético das nossas trutas. Muitas dessas sessões até são realizadas com o auxílio de entidades públicas e não deixam de transparecer alguma falta de visão estratégica e de cuidado com os efeitos a médio e longo prazo destas intervenções. No global, a impressão com que ficamos é que ainda há uma grande dose de amadorismo misturada com voluntarismo por detrás das sessões de repovoamento, subvertendo-se objectivos fundamentais de sustentabilidade de massas de água e preservação de trutas indígenas, à satisfação de convívios pontuais e de grande quantidades de capturas de ração durante 10 ou 15 dias!!
Tem-se claramente que alterar este estado de coisas e uma das formas de começar é através da informação e da tentativa de olhar para as boas práticas utilizadas noutros países. Nesse sentido, encontrei um documento publicado no Reino Unido pela Environment Agency que oferece uma série de informações básicas sobre os aspectos a ter em consideração no planeamento de uma sessão de repovoamento. O documento encontra-se em inglês, mas basicamente oferece três contributos fundamentais. Primeiro, deve haver sempre um planeamento estratégico prévio a uma sessão de repovoamento. Deve-se conhecer bem as condições da massa de água e perceber qual o impacto que a sessão irá ter, não só no curto prazo, mas também no médio e longo prazo. Segundo, o documento apresenta um sumário das questões tipo que devem ser consideradas nas várias etapas das sessões de repovoamento para ajudar à reflexão de quem as irá realizar. Terceiro, o documento reforça a ideia de que se deve dar primazia a outras técnicas na recuperação da densidade piscícola das massas de água, devendo o repovoamento ser sempre o último recurso.
Para terem acesso ao documento, o mesmo encontra-se disponbilizado abaixo:
O objectivo deste artigo é dar mais uma pedrada no charco. Efectivamente, andamos todos a fazer muita coisa há muito tempo, mas não quer dizer que se estejam a fazer as coisas bem, especialmente no que diz respeito a estas questões. Há que repensar bem o uso dos repovoamentos e assumir definitivamente que esta técnica tem impactos imprevisíveis sobre as massas de água, e portanto deve ser só utilizada em último recurso. O repovoamento é uma técnica com alto nível de risco para uma massa de água, devido à possibilidade de introdução de doenças, aumento do stress sobre o habitat e eliminação de espécies indígenas.
O simples uso do repovoamento para promover sessões de pesca intensiva ou convívios em águas públicas constitui um crime ambiental grave e deve ser sancionado pelas autoridades competentes. Se queremos ter mais e melhor pesca com trutas indígenas, devemos apostar mais no controlo da poluição e na melhoria dos cursos de água do que nos repovoamentos. Os resultados serão melhores no médio e longo prazo, e poderemos pescar trutas de qualidade, que é isso que verdadeiramente nos interessa 🙂 🙂

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