Já pensei que já tinha visto de tudo neste País sem futuro, mas pelos vistos enganei-me!! Num momento em que as preocupações ambientais são predominantes na nossa sociedade e em que os parques nacionais são o baluarte da política ambiental nacional, acontecem verdadeiros atentados como aquele que está documentado abaixo com várias fotografias.
O que podem observar nas fotos deste post é apenas uma limpeza da ribeira do Paúl num troço relativamente extenso e que pelos vistos, e segundo informação que me foi enviada, foi alvo de pareceres favoráveis por várias entidades públicas, incluindo algumas com cariz eminentemente ambiental. Numa altura em que a política ambiental dos nossos parques é limitar ao máximo a intervenção humana, deixando os ecossistemas funcionar de forma livre de modo a voltarem ao seu equilíbrio inicial, este é um exemplo claro de que há espaço para excepções com razões e motivações que fogem ao nosso entendimento.
Independentemente do que possa estar na base desta intervenção, o que nos parece é que a mesma é totalmente descabida de um ponto de vista de gestão da população piscícola e nomeadamente das trutas. O que se pode ver nas fotos é uma alteração total do habitat destes peixes, em termos de leito e de margens, que demorará vários anos a recuperar. Toda a fauna aquática do troço intervencionado vai ser totalmente alterada e terá que recomeçar do zero até chegar a um novo equilíbrio. Isto pode demorar 10 ou mais anos, dependendo da capacidade de reabilitação do habitat e mesmo que haja uma forte intervenção humana para recuperar o que foi alterado.
Ainda pensei que a intervenção se destinava à criação de açudes para salvaguardar as populações piscícolas e o habitat fluvial durante o Verão ou então para a construção de alguma mini-hidrica, mas pelos vistos não. Trata-se apenas de uma limpeza da ribeira!! Pelos vistos uma limpeza a sério que não vai deixar nada sujo!! Vai ficar tudo limpinho e só falta mesmo passar lixívia por todo o troço para garantir que fica mesmo limpinho!!
Ora bem, nada disto faz qualquer sentido de qualquer ponto de vista, excepto se existirem interesses monetários ligados à exploração de areias ou à contratação de alguma empresa de construção ou de outro tipo de serviços que seja preciso manter à força toda em ano eleitoral / fim de mandato. E o problema é que este tipo de intervenção não está só a ser realizado na Ribeira do Paúl, mas também em outras linhas de água, apresentando os mesmo efeitos devastadores. Como é que isto é possível?
Toda a gente sabe que uma limpeza de um curso de água não deve ser feita assim, nem deve incidir sobre o leito. Não faz qualquer sentido!! A única coisa que faz sentido é limpar alguma vegetação da margem para controlar o perigo de incêndio e facilitar a circulação das pessoas, no entanto, permitindo sempre a manutenção de vegetação dentro e fora de água que continue a assegurar o sustento e a protecção das populações de trutas e de outros peixes, existindo neste caso um impacto mínimo sobre o habitat.
O contexto de toda esta situação assume ainda contornos mais sinistros quando ficámos a saber que o troço em questão está dentro da zona concessionada e nada foi dito à entidade gestora da concessão sobre esta intervenção, tendo a mesmo que se confrontar com o facto consumado. Isto parece-me de péssimo tom em termos institucionais e faz-me crer que existe aqui uma clara tentativa de impor uma situação sem qualquer escrutínio democrático, tratando-se os pescadores de trutas como cidadãos de segunda que não têm direito a fazer salvaguardar os seus interesses.
Para mim, e no global, isto é apenas mais um exemplo de uma política ambiental de impostos e sacos de plástico!! Isso é que interessa para salvaguardar o ambiente, o resto é deixar andar, e deixar andar de mal a pior. Alguém vai ser responsabilizado por esta intervenção e pelas outras já realizadas do mesmo tipo e que levaram a reduções drásticas das populações truteiras indígenas? Vai haver uma investigação a fundo sobre isto?
Moral da história: ninguém é responsável e a culpa morre solteira, portanto se houver algum plano para intervir desta forma em linhas de água onde costumam pescar, oponham-se veementemente a esta situação. No Zêzere, e segundo me constou, este tipo de intervenção foi evitado porque os pescadores de trutas tomaram uma postura aguerrida na defesa do seu património. Um exemplo a seguir!!

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