Mariscas no Minho até Julho?

Mariscas no Minho até Julho?


Na última portaria que regulamentou a pesca no Rio Minho (troço internacional), foi reduzida a temporada de pesca para a truta comum e a truta marisca. Antigamente, ambas as espécies tinham estatuto especial e a temporada começava a 15 de Fevereiro. Neste momento, e na sequência da nova legislação, a pesca a ambas as espécies só ocorre durante a temporada geral, ou seja entre 1 de Março a 31 de Julho.`

Esta alteração na legislação do Minho não foi muito bem acolhida por uma grande fatia de pescadores desportivos de trutas. A  falta de informação foi um dos principais factores que contribuiram para a instalação de um sentimento de alguma confusão e sobretudo de indignação. Muitos continuam a achar que os pescadores de trutas não são ouvidos nestas matérias e que a pesca desportiva tem passado a ser o bode expiatório da pesca profissional. Aliás exemplos não faltam nos últimos anos para demonstrar  esta realidade. De norte a sul, e quer na pesca fluvial, quer maritima, tem-se assistido a diversas restrições que se aplicam quase exclusivamente à pesca desportiva. Mas isso dava pano para mangas e aqui o que interessa é discutir uma questão muito particular.

A questão é a seguinte: porque é que no rio Minho a temporada das mariscas é diferente da que se encontra vigente nos outros rios onde também existem mariscas ? E não nos enganemos … existem em Portugal práticamente só cinco rios de nomeada (“big five”) ao nível da truta marisca que são por ordem hierárquica: o Minho, o Lima, o Cávado, o Neiva e o Âncora. Todos estes, excepto o Minho, têm uma época especifica para a truta marisca que se prolonga até 30 de Setembro. Porque é que isto acontece?

Compreendo que seja necessário proteger a truta marisca no rio Minho e portanto um período de pesca mais curto é uma medida importante no sentido de acautelar interesses conservacionistas. Mas porque é que não se faz o mesmo nos outros rios aqui considerados? De facto, o que se nota é que as populações de mariscas nos outros rios tendem a apresentar os mesmos problemas da que vive no Minho. E a questão da pesca profissional aplica-se também no Lima e no Cávado. Portanto, não se compreende muito bem o porquê desta situação.

Será que a questão tem a ver com o facto de o rio Minho ser internacional e termos que acordar uma temporada de pesca com Espanha? Até pode ser, mas aqui também me parece bastante estranho que práticamente todos os afluentes do Minho do lado espanhol só abram a temporada a partir de 1 de Maio. Neste cenário acho que não estamos perante uma tentativa de uniformizar a temporada de pesca com a Galiza.

No global, sente-se que há aqui qualquer coisa que não bate certo em termos legislativos. De um lado caminha-se para a uniformização, mas por outro estamos a viver com regimes de excepção que foram definidos há várias décadas atrás. Apesar de acreditar que deve existir sempre alguma flexibilidade nestas matérias, também julgo que está na altura de termos regras simples e sérias que se possam cumprir e que se adequem à evolução da nossa população de mariscas. Neste sentido, penso que possivelmente o melhor será acabar com os regimes de excepção na pesca âs trutas mariscas. Assim, evitam-se situações em que trutas mariscas pescadas fora de época no Minho se tornem por “magia” trutas mariscas do Lima ou do Cávado para poderem ser comercializadas. O que interessa é garantir a sobrevivência das nossas trutas mariscas e não criar condições para aumentar os desbastes e a impunidade de alguns “profissionais” que lhe dão caça com as redes durante toda a temporada. E isso … para aqueles que usam rede … por que há outros que é de qualquer maneira … e eu já tive a infelicidade de ver alguns desses artistas a actuar no Minho do lado espanhol 🙁 No final do dia, legislação sem fiscalização de pouco vale … é só para inglês ver!

Esta é simplesmente a minha opinião. Vale o que vale e dá espaço para o contraditório. Não creio que acabar com regime de excepção às mariscas traga alterações significativas para os pescadores de trutas. Pelo menos no meu caso, a época das mariscas termina a 31 de Julho e este ano nem sequer começou, pois não tive oportunidade de ir ao Minho.

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Informação sobre o autor

Pescador de trutas desde os 18 anos. Tem uma forte dedicação ao spinning com colher e peixes artificiais, tendo pescado em Portugal, Espanha e no Reino Unido. Actualmente, pesca sobretudo na zona do Minho, Gerês e Centro do país.