ETAR’s e poluição: o drama do Rio Ferreira

ETAR’s e poluição: o drama do Rio Ferreira




Na sequência de vários comentários e opiniões publicadas neste site, parece-me que há claramente uma visão unânime sobre o impacto negativo que as ETAR’s estão a ter na qualidade das águas dos nossos rios. Já vários de nós tivemos a possibilidade de comprovar as diferenças bastante significativas em termos de qualidade da água e fauna aquática nos troços, imediatamente a montante e jusante das ETAR’s. Não há comparação possível, especialmente em rios truteiros, onde a qualidade da água é factor primordial para a manutenção de uma população de trutas saudável. Nesses locais, a menor alteração em termos de poluição é logo notada na cor da água e na menor densidade de peixe.

Perante este tipo de situações, pensamos que o melhor que há a fazer é claramente denunciar os casos que existem e preparar um dossier que nos permita ter uma posição consolidada que poderemos mais tarde defender junto das autoridades competentes. Assim, e para dar o pontapé de saída nesta nossa saga, resolvemos pegar no caso do Rio Ferreira, reportando uma situação de Agosto de 2011, que nos foi gentilmente comunicada pelo nosso colaborador e amigo Takayuki.

Como se pode ver pelos testemunhos abaixo, esta é uma situação dramática, e mesmo criminosa em termos ambientais, pois estão em causa sérios danos para a saúde pública e para os ecossistema assentes nesta linha de água. As descargas poluentes que estão na base desta tragédia foram realizadas no caudal do rio Ferreira, a jusante da levada do Souto, onde termina o tubo proveniente da ETAR de Arreigada. Para terem uma ideia mais clara do que se passou, basta por olhos no vídeo abaixo, que pode ser encontrado no YouTube:

Os links abaixo também podem dar uma ajuda para se compreender melhor o problema:
Link 2
Link 3
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Segundo informação recolhida online, já há mais de 10 anos que têm vindo a ser realizadas denúncias junto das autoridades competentes, e até hoje, nada foi feito para resolver o problema. Nem a Junta de Freguesia de Lordelo, nem a Câmara Municipal de Paredes, nem nenhuma outra autoridade tem prestado a atenção devida a este problema e, como tal, a culpa continua a morrer solteira. O principal problema parece estar, desde logo, na ineficácia das autoridades que regulam e gerem a parte do ambiente, pois exigia-se uma multa exemplar, acompanhada imediatamente de um plano intensivo e rápido para a reestruturação da ETAR e para a total limpeza do rio na zona afectada. Só com uma punição exemplar é que se consegue fazer alguma coisa de jeito neste país.

Em termos globais, esta é uma situação que deve preocupar os pescadores de trutas e outros. O rio Ferreira já foi um grande rio truteiro e se hoje está na situação em que está, deve-se sobretudo à incapacidade do poder local para conseguir encontrar um ponto de equilíbrio entre crescimento industrial, populacional e protecção ambiental. Com a pressão crescente sobre o ambiente e com o substancial incremento do saneamento em zonas onde não existia, o rio passou a ser a via mais expedita para uma determinada autarquia se ver livre dos seus resíduos, passando-os para outras ou para o mar. Ou seja, resolvia-se o problema, escondendo o lixo debaixo do tapete, assumindo-se uma posição egoísta e autista em que o resto do mundo não nos pertence, nem nos afecta!! A juntar a esta visão tão inspiradora de política ambiental, surge também a ganância desmedida de alguns empreiteiros e construtores civis, num dos aspectos mais cruciais de todo o controlo ambiental no despejo via rio; a ETAR!

As ETAR’s, tal como existem em Portugal, são autênticas aberrações. Na sua maioria, não passam de elefantes brancos de uma política ambiental caduca, em que o importante não era fazer, mas sim parecer. Desta forma, aproveitaram-se os fundos comunitários para construir complexos com orçamentações muito acima do custo normal, usando-se materiais mais caros e designs arrojados. O que interessava era o lucro fácil quando estava em causa um ponto vital no controlo da saúde pública e na qualidade da água dos nossos rios. Actualmente, o resultado dessa politica é que muitas ETAR’s não funcionam ou então funcionam de forma deficiente e geram situações dramáticas como aquelas que vemos no Rio Ferreira. Alguém é responsabilizado? Nem pensar!!

Penso que não é isto que queremos deixar para a próxima geração. Porque se assim for, também merecemos o desprezo e abandono com que eles nos irão tratar. Já não chegam as dívidas, a falta de empregos, e uma estrutura económica sem qualquer réstia de competitividade, e ainda por cima acabamos com a saúde pública, a qualidade vida e com os poucos tesouros ambientais que ainda temos??

Se temos futuro com este tipo de atitudes?? Certamente que com exemplos destes, não iremos longe 🙁

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Informação sobre o autor

Pescador de trutas desde os 18 anos. Tem uma forte dedicação ao spinning com colher e peixes artificiais, tendo pescado em Portugal, Espanha e no Reino Unido. Actualmente, pesca sobretudo na zona do Minho, Gerês e Centro do país.