Estamos neste momento a viver mais um sério drama anual nas nossas florestas com fogos de maior ou menor dimensão que assolam o país, sobretudo na zona Norte e Centro. Todos os anos assistimos a este fenómeno com alguma regularidade, mas este ano, devido a condições específicas de temperatura e vento, a situação tem sido verdadeiramente infernal. Este facto demonstra que, apesar de muitas inovações e investimentos em meios, continuamos a repetir os erros do passado de forma contínua.
Independentemente das muitas nuances que circundam esta questão dos incêndios, para este espaço interessa-nos sobretudo o impacto dos fogos sobre as populações fluviais, nomeadamente no que diz respeito às trutas. Como já sabemos, o fogo em si não traz qualquer impacto no imediato em termos da saúde de uma massa de água. As quantidades de água que são retiradas para ajuda ao combate raramente põem em causa a sobrevivência dos peixes nos rios ou em barragens. O problema é o que se passa depois de um ou dois meses, com a chegada das primeiras chuvas. A acumulação de cinzas e de produtos químicos utilizados no combate aos incêndios serão o rastilho para uma severa diminuição da densidade populacional de peixes nos troços afectados pelo incêndio ou imediatamente a jusante. Muitas vezes, essa mortandade nem é visível no local onde ocorre, pois as fortes chuvadas arrastam consigo os cadáveres dos peixes mortos.
Este é um problema gravíssimo que põe em causa o ecossistema fluvial de algumas massas de água do nosso país, e que será especialmente grave este ano. Aquilo que vi no Rio Mondego na semana passada é apenas um pequeno exemplo do que estará a passar por esse país fora. Margens queimadas e enormes concentrações de cinzas são o prenúncio do que aí vem. Ainda me lembro bem do que era o Rio Alva antes e depois de um grande incêndio que ocorreu alguns anos atrás. No posteriori, parecia que as trutas tinha desaparecido por completo.
Perante esta situação, impõe-se uma política preventiva activa mais energética de quem está por detrás das questões da floresta e ambiente. É ridículo que neste país os nossos ministros mais iluminados falem de prevenção de incêndios “à boca cheia”, só para depois percebermos que as porções de floresta mais sujas e com maior quantidade de combustível são as do Estado e não as dos privados. É impressionante o número de pessoas ligadas ao ambiente que neste momento têm cargos em entidades públicas, nomeadamente na área das florestas e agricultura, para depois percebermos que nada é feito no terreno para prevenir ou remediar os efeitos dos incêndios. Efectivamente, estamos perante uma classe de ambientalistas caviar que preferem a segurança da incompetência, negligência, ar condicionado e salário garantido, ao risco da iniciativa, da acção e da inovação no terreno. Tem sido assim e parece-me que pouco se irá alterá com a dissociação do ambiente da agricultura. Continuamos com política ambiental “zero” em Portugal, enquanto os políticos forem pouco credíveis e os funcionários não quiserem sujar as mãos!!
A verdade é que neste momento já pouco vale uma política de prevenção. Como as coisas estão acho que é preciso começar a pensar em como que é se vai remediar o prejuízo. Do lado da população de trutas, penso que se deve avançar com uma equipa ambiental para a margem dos rios truteiros e outros afectados pelos incêndios. A missão é óbvia; realizar análises e testes à matéria inorgânica que se está a preparar para entrar na água com as primeiras chuvas. Em caso de perigo eminente para fauna piscícola, esta equipa deve accionar mecanismos de emergência para se realizar pesca eléctrica nos troços potencialmente mais afectados, de modo a salvaguardar o poder reprodutivo e património genético da massa de água. Os exemplares capturados, e sobretudo os de maior tamanho, devem ser trasladados para zonas sem perigo a montante. Numa fase inicial, esta situação até pode causar algum excesso de densidade pontual em determinadas áreas, mas com as primeiras grandes chuvas, os peixes voltarão a se distribuir pelo rio, e sobretudo pelas áreas a jusante. Nessa altura, os troços alvo de poluição já estarão significativamente mais limpos.
Penso que esta é uma opção sensata e razoável para minorar os efeitos deste flagelo. Como pescadores e contribuintes, pagamos todos os dias para manter milhares de ambientalistas a cargo do Estado que nunca nos criaram qualquer valor acrescentado. Está na altura de inverter estes estado de coisas … e esta uma óptima oportunidade para fazerem serviço!!
Como observação final, gostaria de deixar uma nota de grande apreço para os bombeiros que combatem o fogo por esse país fora e as minhas sinceras condolências para quem faleceu nesta nobre actividade. Os bombeiros são os nossos heróis e defendem com unhas e dentes o nosso património comum, muitas vezes sem qualquer tipo de apoio. Como pescador de trutas, tenho uma dívida imensa para com eles. Sem o seu esforço, teríamos ainda menos trutas do que o que temos hoje. Se houvesse justiça, uma parte significativa dos meus impostos deveria ir directamente para as mãos deles e não para a canalha política and friends (alguns ambientalistas) que nos governa!!

Há coisas que por muito mais que queira entender e tente arranjar justificações para os factos,não consigo.
Onde estava e onde anda o ICNF?responsáveis máximos da conservação da Natureza,já fizeram algum comunicado a informar os cidadãos sobre o património perdido?
Senão vejamos os seguintes exemplos:
-Ontem e hoje arde o Parque Natural do Alvão e que eu tenha conhecimento ninguém deste organismo veio a publico dar informações sobre a perda da importante fauna e flora existentes nesta área protegida(atenção que eu sei que esta área foi alvo de um importante repovoamento de perdiz)
-Em agosto 2006 ardeu a mata do Ramiscal,localizada e incrustada num vale inacessível,onde o incêndio,vindo do Mesio,desceu ao Rio do Ramiscal destruindo a maior mancha da Europa de Azevinho Alvarinho e Carvalho Negral todas elas milenares sem que (na época)o ICNB tivesse vindo dar conta da área e património perdido.
-Em agosto 2010 ardeu a ultima jóia do PNPG,a mata do Cabril e Ramisquedo,também ela tinha sido guardada durante décadas em em segredo da visitação das massas,igualmente área de protecção total do nosso único parque Nacional,onde existia uma enorme mancha de Carvalho Negral e mais uma vez o silencio daqueles que são pagos pelos nossos impostos ficaram em silencio,até porque agosto é um mês em que os destinos paradisíacos são paradeiro destes responsáveis.
João Dias