Repovoamentos de trutas em Tarouca – Que futuro?

Repovoamentos de trutas em Tarouca – Que futuro?

Mais uma vez este ano, mais concretamente nos dias 9 e 10 de Junho, decorreu a sétima largada de trutas, e respectivo concurso de pesca desportiva, no Rio Varosa na zona de Tarouca. Este é um evento que já vai na sétima edição, portanto já tem alguma história, sendo promovido pela Associação Cultural e Recreativa de São Marinho (Esporões). Como é costume, a iniciativa decorreu no açude do “Calhau da Paixão”, junto à Ponte da Cerdeira.

Desta vez, o repovoamento foi realizado com cerca de 150 kg de trutas fario e destinou-se a satisfazer, não só as necessidades de promover uma prova desportiva de algum sucesso, mas também a promover a preservação e manutenção da população de trutas da zona. Para mais detalhes sobre este evento, podem consultar notícia abaixo:

Largada de trutas no Rio Varosa.

Como este evento já vai na sua sétima edição, penso que poderemos estar perante uma situação recorrente que, para além de contribuir para a satisfação de muitos pescadores que visitam este troço nos dias dos concursos ou posteriormente, constitui também um precioso poço de ensaio para percebermos o que é que os repovoamentos estão a causar nos nossos rios e especialmente nas trutas autóctonas. Neste sentido, convinha realizar um estudo aprofundado desta zona do Varosa que pode funcionar como modelo para redefinir as políticas de repovoamento que estão a ser seguidas a nível nacional.

Truta - Rio Ceira 2

Não creio que neste momento se estejam a fazer repovoamentos inteligentes no nosso país. O que se tem vindo a assistir é a uma massificação do uso do repovoamento com exemplares não autóctonos para assistir um sector da pesca desportiva que tem vindo a crescer ao longo do tempo. Com o aumento do número de concessões em rios truteiros, os repovoamentos vão-se tornar ainda mais frequentes, tal como aconteceu com a caça em Portugal. Isto pode ser um erro fatal e pode conduzir a uma destruição do património genético das nossas trutas, à disseminação maciça de doenças e ao fomento da dependência dos pescadores desportivos relativamente aos centros de repovoamento. O exemplo está à vista na caça. Hoje só há caça em zonas repovoadas e todos os anos se repovoa. As perdizes e coelhos bravos acabaram por estar quase extintos, há doenças qb e só sobrevive a ração nos nossos campos. A situação é muito pior em Espanha e isto já levou à criação de um novo movimento anti-repovoamento para permitir preservar os últimos exemplares de perdizes selvagens.

Tudo isto para dizer que os repovoamentos são a solução mais fácil no curto prazo, mas não a mais eficaz no longo prazo. Há que estudar e criar novas formas de fomentar as populações de trutas. Desde campanhas de controlo de predadores, passando por vigilância da poluição e acabando na preservação das zonas de desova, muito pode ser feito para mantermos apenas trutas selvagens nos troços dos rios. Agora que dá mais trabalho … É claro que dá muito mais trabalho, mas também é mais recompensador 🙂 🙂

Como a mania dos repovoamentos ainda não está bastante disseminada no nosso país, ainda vamos a tempo de evitar cometer os erros que outros países já fizeram. Temos que reflectir, antes de agir e deve existir um controlo muito mais apertado sobre os repovoamentos. Não se podem fazer repovoamentos só porque sim!!

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Informação sobre o autor

Pescador de trutas desde os 18 anos. Tem uma forte dedicação ao spinning com colher e peixes artificiais, tendo pescado em Portugal, Espanha e no Reino Unido. Actualmente, pesca sobretudo na zona do Minho, Gerês e Centro do país.