2 de Março no Ribeiro Negro do Lima

2 de Março no Ribeiro Negro do Lima




Dia 2 de Março de 2014. Depois de uma abertura com bastantes peripécias no Rio Mouro, o segundo dia de pesca às trutas afigurava-se algo complicado. A chuva forte no final do dia 1 tinha aumentado os caudais da maioria dos rios, tornando-os quase impescáveis, e portanto as opções não eram muitas. Para além disso, a pressão de pesca criada pela passagem de pescadores no dia da abertura tinha sido a suficiente para assustar uma grande parte das trutas.

Neste cenário, o que eu precisava era de um ribeiro de planície com pouco declive, onde a força da chuva não se fizesse sentir de forma tão pronunciada. Lembrei-me logo do ribeiro negro do Lima. Já há muito tempo que lá não ia e com as condições actuais era o cenário ideal para tentar tirar umas boas trutas.

Cheguei ao local por volta das 8h30 e estava chover ligeiramente. Parei o carro junto à ponte que passa sobre o ribeiro, equipei-me e depois fiz o caminho até à foz para começar a pescar ao light spinning para montante. Tinha tirado a cana de 1,2 metros do carro e meti fio 0,12 da Fendreel e colher Mepps Aglia nº1.

Os primeiros lançamentos surgiram junto à foz do ribeiro. A corrente era forte no local e não vislumbrei qualquer sinal de truta. Comecei a pensar se valeria a pena continuar, mas já que estava ali, fazia pelo menos o percurso até ao carro. Logo a montante do ribeiro, deparei-me com uma zona mais calma e onde a profundidade era ligeiramente maior. Lanço cerca de 10 metros para montante, começo a recuperar e quando a colher chega a meio do percurso, sinto uma pancada na linha, cravo e vejo uma boa truta a dar cabeçadas fora de água. Levanto a cana e tento controlá-la num espaço de menos de dois metros entre margens e com uma altura de metro e meio. Ela faz de tudo para fugir, mas lá a consigo segurar dentro do espaço mais limpo. Era um bom bicho para aquele ribeiro e devia ter cerca de 35 centímetros.

Atendendo às condições, não podia facilitar. Assim, mal a truta começou a mostrar sinais de cansaço, desci a margem e tentei agarrá-la com a mão. Meto os dedos na mandíbula da truta, agarro-a firme, começo a levantá-la (era um bom exemplar), mas de repente ela dá dois safanões fortes, rompe a própria mandíbula e salta novamente para dentro de água, ficando eu sem truta e sem amostra.

Fiquei cego perante aquele desaire. Nunca me tinha acontecido uma coisa assim, mas pelo menos já tinha tido uma boa truta cravada.

Depois de me recompor e montar nova amostra, avancei mais para montante. Numa zona de corrente mais forte, levo outro toque, mas sem cravar. Mais outro lançamento à frente e outro toque. A coisa estava a prometer. Com isto cheguei a um zona mais desimpedida de vegetação. Lançamento para montante a cerca de 14 metros, começo a recuperar e um forte puxão na cana. Cravo e começa uma luta violenta com uma truta que tenta puxar a amostra para o fundo. Levanto a cana e tento segurar a truta dentro dos limites do ribeiro. Ela procura uma das silvas da margem, mas lá a consigo desviar do obstáculo. Era uma boa truta com um lombo invejável para aquele local. Depois de um minuto de constantes saltos e corridas, lá a consigo dominar minimamente e meto-lhe a cabeça fora de água. Para evitar um desaire igual ao anterior, testo a linha 0,12, começo a puxar lentamente e levanto-a para a erva da margem. Esta já não fugia. Tinha capturado um lindo exemplar com 34 centímetros e com umas pintas lindíssimas.

Truta 34 cm Ribeiro Negro do Lima

Animado por esta captura, arranquei para uma jornada bastante interessante. Fui calcorreando a margem do ribeiro ao milímetro e mais à frente, cerca de 50 metros, lanço outra vez para montante e capturo outra truta. Esta de 24 centímetros. Ela bem deu a luta, mas não conseguiu fugir, até porque a zona era relativamente limpa.

Após esta captura, ainda levei outro toque e depois entrei num cotovelo do ribeiro onde saía um pequeno afluente. Desde logo, realizo um lançamento para montante, a colher começa a rodar e mal percorre o primeiro metro, desvia-se para a direita … sem pensar muito cravo e vejo uma truta a saltar fora de água. Uma linda truta!! Tento segurá-la e ela avança a toda a força para uma zona de lenha morta sobre a água. Imprimi força máxima e mudei de local, mas consegui-a manter em zona controlável. Mal a senti cansada, puxei-a para fora de água, não fosse o diabo tecê-las. Mais uma linda truta com 28 centímetros e com cores e formato muito diferente da primeira.

Truta 28 cm Ribeiro Negro do Lima

Com o dia a correr bem, ainda fiz o resto do ribeiro até chegar a uma zona quase intransponível. Desde a zona onde estacionei o carro para montante, assisti a uma diminuição do número de trutas e a picadelas mais receosas. Provavelmente, sintoma da passagem de pescadores no dia anterior. Mesmo assim, ainda consegui capturar mais uma truta de 23 centímetros e tive mais duas cravadas com bons tamanhos, que acabaram por se desprender. Uma delas mexeu-se à amostra mesmo aos meus pés e não picou na primeira vez. Só com o segundo lançamento é que se cravou.

Enfim, depois de uma abertura com baixa densidade de trutas, esta passagem pelo ribeiro foi providencial para matar o vício. Tive mais de 15 toques e tirei trutas com bons tamanhos. Foi uma agradável surpresa e a confirmação de que os ribeiros afluentes do Lima continuam a albergar populações de trutas de primeira qualidade.

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Informação sobre o autor

Pescador de trutas desde os 18 anos. Tem uma forte dedicação ao spinning com colher e peixes artificiais, tendo pescado em Portugal, Espanha e no Reino Unido. Actualmente, pesca sobretudo na zona do Minho, Gerês e Centro do país.