Manhã de Domingo, 18 de Abril de 2010. O dia amanheceu com muitas nuvens no céu e com a possibilidade de alguns aguaceiros. Após três anos de ausência, resolvi matar saudades de um grande ribeiro do Lima onde habitam boas trutas comuns e algumas mariscas de alta qualidade: o Ribeiro de Portuzelo. Este ribeiro tem uma largura média de 5 a 7 metros e desagua muito próximo da foz do Lima em Viana do Castelo. Ao longo do seu curso, apresenta excelentes combinações de correntes com açudes, alguns de excelente tamanho. Como tal, este é um ribeiro com enorme potencial para a pesca de bons exemplares de trutas comuns e algumas mariscas que sobem para a desova.
Consciente do local onde iria pescar, resolvi, de antemão, bater o ribeiro desde a sua foz, na zona de Portuzelo, para montante. Para isso artilhei-me com o meu tipico material de light spinning: cana de 1 metro, linha de pesca 0,12 e amostra Mepps Aglia nº1 de pintas vermelhas. Interessava pescar de forma minimalista para não assustar as trutas, pois tudo apontava para que, mais tarde ou mais cedo, o céu descobrisse e a visibilidade das trutas aumentasse exponencialmente.
Parei o carro num pequeno parque de estacionamento junto à Associação dos Amigos de Portuzelo e entrei ao ribeiro por um pequeno caminho que ali existe. A maré estava em baixo e o ribeiro corria com cerca de 20 a 30 cm de água em fundo de areia com algumas algas maritimas. Os primeiros lançamentos foram realizados nesta área e apenas mexeram algumas tainhas que por ali deambulavam. Se a maré estivesse cá para cima, ainda podia ter tido a sorte de tentar alguma marisca, mas assim não valia a pena. Tinha que começar a pescar para montante, entrando na zona das casas (ver foto).
Na primeira corrente que se vê na foto, tirei a primeira truta. Lançamento para a queda de água, a colher faz os primeiros dois metros e depois entra uma linda truta de 16 cm. Deu uma boa luta, mas rápidamente me veio parar às mãos. Tinha realizado a primeira captura do dia e as hostilidades estavam abertas. A truta foi rápidamente devolvida à água. Continuando na mesma estratégia de pesca, fui avançando no sentido da ponte da EN e tirei mais duas trutas de pequeno tamanho. Não deixei, no entanto, de notar ao longo do percurso que o ribeiro estava cheio de bogas, barbos e escalos, que certamente já se estão a preparar para a desova.
Quando cheguei à zona da ponte, deparei com um excelente açude. Realizei vários lançamentos, mas só mexi um barbo de 1,5 kg que veio cheirar a colher duas vezes, mas não picou. Esteve quase! Enquanto andava entretido com o barbo, caminhei um pouco mais do que o devido e saiu-me uma truta de quase 26 cm debaixo dos pés. Deu um sprint louco e rápidamente se escondeu num buraco. Que lindo bicho! Enfim, fica para a próxima … 🙂
Quando se chega à ponte da EN, o melhor é seguir a margem direita para montante. A esquerda apresenta muita vegetação e nalguns locais obriga a alguns desvios. Portanto, mudei de margem e comecei a bater um excelente troço de corrente lenta que tem cerca de 100 metros. Nesse troço não consegui tirar nenhuma truta, no entanto consegui ver 3 trutas com bom tamanho. O principal problema para o pescador neste troço, decorre do facto da margem ser muito alta e permitir às trutas avistarem os seus inimigos desde longe. Relativamente a isto, pouco pude fazer e elas fizeram o que lhes cumpria; não morderam a colher!
Passada esta corrente lenta, comecei a entrar em zona de águas um pouco mais rápidas e comecei a avistar bons barbos nas redondezas. As trutas pareciam que não estavam presentes. Numa primeira corrente, vi um barbo de 1 kg a seguir a amostra, mas sem querer morder. Numa segunda corrente, e depois de dois lançamentos para um canto escuro na outra margem, vislumbro um barbo de tamanho razoável a correr atrás da colher a abrir e fechar a boca. Este já queria assunto! Atrasei a recuperação para o deixar morder e ele caiu na esparrela. O barbo tinha cerca de 30 cm e mal se sentiu cravado arrancou para montante com uma força brutal. O carreto começou a dar fio e a cana vergou bem. Tinhamos luta e da boa, porque os barbos não brincam em serviço, Aquele deu várias corridas rápidas para montante e para jusante até se cansar, e sempre a arrancar fio do carreto. Só passado 3 ou 4 minutos é que se cansou. Com calma, encostei-o à margem e lá lhe deitei a mão. Uma excelente captura pela luta que deu!
Satisfeito por esta captura, ganhei forças renovadas para atacar as correntes e açudes localizados mais a montante. Comecei a deixar para trás as casas e entrei na área dos campos. Aí encontrei dois excelentes açudes que bati milimétricamente, mas nem toque de truta. Vi boas trutas, mas todas a fugir da amostra. Só nas correntes é que consegui ter bons resultados. À saída de uma queda de água de um açude, tirei uma bonita truta á contra corrente. A colher caiu na água e foi imediatamente atacada. A truta deu luta, mas numa profundidade média de 40 cm não havia muito por onde fugir! A captura foi fácil e produziu uma excelente foto. Lindas cores e bonitas pintas vermelhas de um exemplar que vivia em zona de arvoredo fechado. A truta devia ter práticamente a medida, mas devolvi-a sem pensar.
Depois desta captura ainda fiz mais 200 metros de ribeiro. Numa corrente apertada, levei mais uma picadela forte e voltei a tirar outro barbo também com 30 centimetros. Isto, depois de uma luta épica, pois estava numa margem cheia de árvores e de ramalhos dentro de água. Os barbos estavam a substituir as trutas nas boas capturas. Há dias assim. Já várias vezes tirei bons barbos em dias de pesca às trutas, sem perceber muito bem porque é que picam à colher. A única coisa que eu sei é que tendem a picar em rios especificos e em determinadas condições meteorológicas (calor, trovoada, etc). Mas ainda não descobri o padrão que rege este tipo de comportamento.
Nos últimos minutos de pesca, ainda tive dois toques de boas trutas, mas não cravaram. Já era 12h30, eu encontrava-me a 50 metros da ponte da Auto-Estrada e tinha passado por mim um pescador à correr para montante. Talvez houvesse alguma maratona que eu desconhecia :). Sem vontade para começar a pescar à ganância e com a altura do almoço a aproximar-se, estava na altura de arrumar as botas e deliciar-me com as memórias de uma manhã bem passada. O ribeiro de Portuzelo demonstrou estar de boa saúde e as trutas estiveram ao seu melhor em termos combatividade e furtividade. Um excelente desafio que me fará regressar a este local brevemente.
Até barbos….quem sabe sabe!!