Perante várias dúvidas que têm surgido sobre a desova das trutas em território nacional, resolvemos colocar à disposição de todos um documento que nos foi enviado pelo nosso amigo e colaborador PingoDoce. Trata-se de uma tese de mestrado realizada pelo Dr. Daniel Filipe Carvalho Miranda Pires e submetida à Faculdade de Ciências da Universidade do Porto em Fevereiro de 2003. Esta tese encontra-se em repositório aberto e como tal pode ser facilmente acedida por todos através deste link.
O estudo da desova das trutas foi realizado no Inverno de 2001 e 2002 na bacia hidrográfica do Lima, mais propriamente no Rio Estorãos. A desova ocorreu no período entre o dia 4 de Janeiro e 3 de Fevereiro de 2002, havendo algumas suspeitas de que essa actividade tenha sido despoletada pelo aumento de caudal que se verificou nos dias anteriores. A referir que associado ao aumento do caudal, houve também um aumento da temperatura média da água.
Tal como também se documenta no estudo, a desova ocorreu sobretudo em zonas com substrato composto sobretudo por cascalho e onde a corrente sofre uma aceleração significativa. Também foi possível comprovar que nalgumas desovas o sucesso da reprodução pode ter ficado comprometido pela intervenção humana sobre as margens e leito do rio, criando zonas onde a escavação de locais de desova é mais difícil ou onde os ovos não têm o melhor desenvolvimento. Este estudo parece também indicar que as trutas têm preferências por locais muito específicos e muito limitados para a desova num determinado rio, estando dispostas a movimentarem-se o necessário para alcançar esses locais. A preservação desses locais afigura-se-nos claramente algo crucial para a manutenção de uma população de trutas saudável.
Para além da informação detalhada que esta tese nos presta sobre o processo de desova das trutas, também é importante salientar a caracterização realizada do Rio Estorãos (páginas 4 a 6), já que a mesma fornece informação bastante válida e interessante para todos os pescadores que frequentam este curso de água.
No global, este é um documento bastante interessante e que pode ser conhecido na íntegra abaixo (ficheiro com 4,5 MB):
Pensamos que este é o tipo de informação que importa que todos os pescadores de trutas. Não só é traçado um perfil exaustivo do comportamento das trutas durante a desova, como também temos uma caracterização interessante do Rio Estorãos. As principais conclusões que se retiram deste estudo são essencialmente tentativas, mas já nos permitem levantar uma ponta do véu e começar a perceber o que é que tem que ser feito para melhorar a eficácia da desova das trutas.
Obrigado PingoDoce por este excelente contributo 🙂
Caros colegas,
Começo por desejar a todos um ano de 2012 cheio de saúde e com muitas capturas e se possível sempre sem morte.
Um abraço especial ao autor,e meu amigo,Trutas.pt,ao meu amigo PingoDoce e felicita-lo pelo excelente contributo(sempre suportado por dados científicos e factos empíricos) que tem vindo a prestar neste espaço;espaço este que é já uma inegável referencia no mundo da pesca desportiva.
Não queria deixar de chamar à atenção para um outro estudo, também ele apresentado sobre forma de tese de mestrado,da autoria de José Miguel Pereira Gomes,sobre o efeito da inclusão de alimentos vivos no desenvolvimento do estimulo predatório e na performance de juvenis de truta comum.
Em síntese este documento vem provar e pôr a olho nu que as repovoações não são tão eficazes e benéficas como muita gente julga.
Estudo este de enorme valência para quem quer aprofundar os conhecimentos da espécie.
Pode ser consultado em;
http://repositorio-aberto.up.pt/bitstream/10216/18655/2/EFEITO%20DA%20INCLUS%C3%83O%20DE%20ALIMENTO%20VIVO%20NO%20DESENVOLVIMENTO%20DO%20ES.pdf
Todos temos a ganhar em ler estes sinais e reflectir sobre as posições que tomamos sem ter a noção daquilo que dizemos e por por vezes defendemos.
Bom ano a todos!
Até Breve!
Abraço,
João Dias
Amigo João Dias,
Um Bom Ano para si também e muito obrigado pelo documento que nos apresenta e pelas suas generosas palavras.
Penso que é nosso dever informar mais e melhor os pescadores de trutas para que pratiquem uma pesca mais conscenciosa e para que sejam mais exigentes junto das concessões de pesca, sobretudo no que diz respeito a aspectos sensíveis como o repovoamento. Como tal, é com todo o prazer que irei pegar neste documento e incluí-lo num post autonómo para que todos tenham acesso a ele.
Brevemente irei entrar em contacto para prepararmos a abertura no Rio Minho.
Um abraço e votos de um excelente 2012,