Pesca à truta e eleições …

Pesca à truta e eleições …

Mais 4 anos que passaram e mais uma vez aí estamos nós perante eleições legislativas. Como é costume nestas alturas, cada um de nós tem que fazer uma avaliação da passada legislatura e com base nisso ponderar as novas propostas para os próximos 4 anos. Ao nível dessa avaliação e ponderação entram vários aspectos associados à nossa actividade diária, familiar e profissional, como emprego, fiscalidade, segurança, saúde, educação, etc., mas também aspectos ligados aos nossos momentos de relaxe e entretenimento, como a pesca à truta. Apesar deste último não ser um factor crítico ao nível da decisão de voto por parte da grande maioria dos pescadores de trutas, não deixa de ser sempre um factor que é ponderado de forma objectiva, sobretudo por gente exigente que quer mais e melhor para este país.

Ao nível da defesa dos interesses dos pescadores de trutas e da pesca à truta, é triste verificar que na passada legislatura e nas propostas para os próximos 4 anos realizadas pelos vários partidos nada aparece sobre esta actividade. Isto demonstra o desinteresse político por esta actividade, sendo o sintoma claro de que os pescadores de trutas são tratados como cidadãos de segunda. Numa altura em que todo o tipo de minorias se arrogam de direitos e conseguem impor a sua vontade por vários meios, a minoria dos cidadãos que são pescadores de trutas é simplesmente esquecida e chutada para canto por todos os partidos políticos, num comportamento que considero de inaceitável.

Isto até podia ser uma situação conjuntural, mas a verdade é que esta é uma situação estrutural. Desde o 25 de Abril de 1974, a pesca desportiva em águas interiores tem sido continuamente desprezada como sendo um desporto de menos valia praticado por gente pouco instruída que pega numa cana e vai apanhar uns peixes. Vários têm sido os governos de esquerda e direita que têm perpetuado esta imagem durante mais de 40 anos e que a procuram manter no futuro próximo. Sendo assim, não é de estranhar que a lei que ainda regulamenta na prática todas as vertentes deste sector pertença à era dourada do Estado Novo.

No entanto, a lei, no seu conteúdo, não é a principal razão que tem levado ao declínio deste sector. Apesar de necessitar de uma actualização, esta lei ainda contém aspectos bastante importantes e estruturantes em termos de regulamentação desta actividade. A principal razão do declínio da pesca desportiva em águas interiores e também da pesca à truta tem a ver com o total abandono deste sector por parte das entidades estatais. A falta de fiscalização, a falta de organização e a incapacidade para assumir um papel de gestão activa nesta matéria são os principais cancros que têm levado à redução das densidades piscícolas nas nossas massas de água e à proliferação de furtivos, poluição e concessões fantasmas para servir interesses privados a preços de banana.

Placas concessão Rio Neiva Março 2015

Com este estado de total abandono de mais de 40 anos, é natural que a maioria dos pescadores de trutas já esteja habituada a este tipo de cenário e acredite que não vale a pena perder tempo com isto. No entanto, acho que essa não é a perspectiva correcta e temos que nos insurgir contra este estado de coisas. Muitos de nós têm capacidade de mobilização social e conhecimentos políticos para tentar fazer a diferença, só que muitas vezes utilizam-nos para outros fins. Penso que está na altura clara de os direccionar para a pesca à truta para que se quebre de vez este ciclo vicioso em termos políticos. Os partidos têm que consciencializar que os pescadores de trutas também são cidadãos de primeira, pagadores fiéis de impostos e devem ter entidades estatais à altura que salvaguardem os seus interesses de forma séria, e não simplesmente com operações de cosmética que alteram dois parágrafos numa lei à última da hora para mostrar serviço.

O voto é uma arma silenciosa, mas pode ser sempre usada para tirar o poder a quem não o sabe usar e procurar a mudança, sempre incerta. Usem e abusem desse poder e se precisarem da minha ajuda para mobilizar os interesses dos pescadores de trutas, estarei ao vosso dispor, porque este estado de coisas não se pode manter!!

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Informação sobre o autor

Pescador de trutas desde os 18 anos. Tem uma forte dedicação ao spinning com colher e peixes artificiais, tendo pescado em Portugal, Espanha e no Reino Unido. Actualmente, pesca sobretudo na zona do Minho, Gerês e Centro do país.