Troféus do Mondego – Parte 1

Troféus do Mondego – Parte 1


Mais um fim de semana atribulado e mais uma viagem inesperada até à zona da Guarda para tratar de assuntos cinegéticos. O programa era para ser seguido ao milímetro. Viagem de ida na tarde de Sábado e regresso no Domingo, para estar nas festas da Maia, mais propriamente em casa do inestimável e grande amigo Dr. Manuel Pintalhão, que insistiu em realizar uma excelente tertúlia gastronómica por volta das 17 horas. A falta este encontro era proibida e desde logo foi prometido que algumas trutas se poderiam juntar ao repasto. O material de pesca já há mais de uma semana que estava na mala do carro e portanto, era só mesmo passar ao ataque.

Ou seja, perante todos estes compromissos, ia ser na passagem de Domingo que eu ia tentar brincar um bocado com as trutas do Mondego. Caso, elas quisessem brincar 🙂

Dormi bem e como tal, cheguei ao Mondego por volta das 10 horas. Passei pelo primeiro sítio e vi muito carro parado à beira da estrada e na proximidade do rio. Cheirou-me a pescador matinal, mas não consegui tirar a prova dos nove. Mesmo assim, achei que não valia a pena insistir e avancei para uma zona de bons poços que se encontra a montante. O calor já tinha entrado em força e as minhas esperanças de tirar algumas trutas eram bastante modestas. Era mais matar o vício do que outra coisa.

Lá cheguei à zona de destino. Nem sinal de pescador e tudo muito calmo. Preparei o material típico desta altura para rios com algum caudal, como é o Mondego; cana de 1,8 metros, fio 0,12 da Fendreel e amostra Mepps Aglia nº1. Abordei a margem direita com alguma calma e comecei a realizar os primeiros lançamentos por entre as árvores. Senti um leve toque logo no primeiro lançamento e comecei a observar o que se passava na zona.

Estava numa zona de um grande poço, que é extremamente coberto pela forte vegetação da zona. Via-se alguma actividade mosqueira na zona, especialmente junto às margens e no centro, fora do meu alcance, andava uma truta endiabrada a saltar continuamente fora de água. Tinha cerca de 27 centímetros. Fiquei um bocado à toa com aquele ambiente 🙂 Será que aquilo era bom sinal?

Bem, mais um lançamento para a outra margem, depois outro e outro e nada. Resolvi então lançar para jusante junto à minha margem e para uma zona de areia. Começo a recuperar e de repente vejo um sombra a aproximar-se e a seguir a colher. Tinha seguramente 35 centímetros e era uma linda truta. Apenas seguiu a colher, mas não me viu. Voltei a insistir, no entanto ela começou a aperceber-se que algo estava errado e desistiu da festa.

Com esta recusa, resolvi atacar a outra margem também para jusante. Tinha visto por lá um peixe a mosquear a cerca de 30 metros e resolvi lançar. A colher caiu mesmo na zona onde a truta andava, sinto o toque, mas nada de cravar. Uiii!! Assim, não ia longe. Num sítio com tanto potencial, não tinha facturado nada. Estava na altura de avançar para montante, para a entrada da corrente no poço. Já ali tinha visto uma boa truta no ano passado, mas ela topou-me desde longe e andou a brincar comigo.

Perante isto, resolvi iniciar os meus lançamentos para o local desde longe. Um lançamento para montante e nada. Outro lançamento para o mesmo local e nada. Um terceiro lançamento um pouco desviado para a direita e noto movimento na água. Bem, resolvi avançar para o local. Pus-me em cima de uma pedra e siga lançamento cruzado para a outra margem, num local onde a corrente desembocava e que deveria ter cerca de 4 metros de profundidade, com pedras grandes no fundo. Deixo a amostra entrar ao fundo e começo a recuperar devagar. Quando a amostra vem a passar por entre duas pedras grandes do fundo, vejo um reflexo rápido dentro de água e algo de muito boa dimensão a dobrar junto ao fundo. Cravo instintivamente e a cana dobra-se toda. Era truta e da boa!! Com um 0,12 já velhote, fiquei logo em alerta máximo e a truta começou com a sua luta típica, enrolamentos, cabeçadas e corridas. Tive que afrouxar o carreto ao máximo e deixá-la levar tudo o que quisesse. Apenas aplicava força adicional quando ela se aproximava dos obstáculos. Não ia perder aquela beleza!! Ela bem enrolou e tentou passar os dentes pelo fio e eu bem suei!! Durante 5 minutos, estivemos a medir forças com o carreto a cantar. Era esquerda, era direita, era linha enrolada na truta, era cabeçada … era adrenalina ao máximo!! Lá consegui tirar o camaroeiro com alguma calma, fui-lhe puxando a cabeça para cima e quando a senti cansada, lá a arrastei para dentro do camaroeiro. Não funcionou à primeira, porque ela ainda estava com força, mas à segunda foi de vez.

Era bom demais para ser verdade. Uma linda truta de 44 centímetros com 1 kilo de peso. Se não era o exemplar que eu tinha visto no ano passado, devia ser a sua irmã. Uma pura beleza do Mondego …

Com esta captura, a pesca estava praticamente feita. O dia já estava mais que ganho, mas eu ainda tinha mais umas horas para gastar, portanto voltei ao ataque, avançando para montante.

Mais um açude e mais uma sequência de lançamentos, procurando mexer as trutas nas partes mais fundas. Como era de esperar, nada mexeu nas águas mais fundas, mas na entrada da corrente levo um bom toque e sinto que algo se tinha cravado. Era uma pequena truta de cerca de 22 centímetros. Também um bom exemplar do Rio Mondego, mas muito mais pequena do que a anterior.

O dia estava mesmo a correr bem. As trutas estavam mesmo com vontade de cooperar. O açude não deu mais nada, mas mais acima também havia uma boa corrente. Foi para lá que me dirigi. Lancei logo na parte superior do muro, num sítio onde vejo sempre trutas, a amostra começa a rodar e quando vem a meio caminho, vejo uma boa sombra a sair da margem, a correr para a colher e a parar a menos de 2 centímetros da mesma. Hesitou, perseguiu um pouco e depois voltou as costas. Era um lindo bicho com cerca de 30 centímetros.

Ainda insisti no mesmo local, mas sem resultado. Resolvi então meter um rapala CD-3 para entrar um pouco mais a montante. Próximo buraco, próximo lançamento. O rapala vem a meia água e de repente, vejo uma correria, de um lado uma truta de 25 centímetros que não se crava, e do outro uma truta de com mais de 40 que vem tresloucada atrás do isco. Ainda rodopiou duas vezes ao rapala, mas hesitou muito. Entretanto, também me viu!! Era maior do que a primeira truta que apanhei. Que bonito exemplar.

Durante meia hora, ainda insisti com o rapala, mas sem grandes efeitos. Tive que voltar à colher. Fui avançando para montante e numa zona também com um bom poço, tive vários toques de trutas de pequeno tamanho e consegui capturar uma de 20 centímetros. Mas a festa acabou por aí. Mais à minha frente, havia ruído de muito gente a tomar banho e pareceu-me que não valia a pena continuar por ali.

Estava na hora do almoço, já tinham passado três horas de pesca, o calor começou a apertar e eu achei que ir mais para montante era perder tempo. Antes de me meter à A25, iria apenas voltar ao sítio inicial, onde estavam parados vários carros, só para bater dois poços que bem conheço e por uma questão de descargo de consciência. O dia já estava mais que ganho e as emoções foram bastante intensas. Nunca pensei que nesta altura do ano e com as condições que encontrei, fosse possível realizar esta pescaria e ver os bons bichos que vi.

Achei que já tinha tido a minha conta, mas não foi assim 🙂

O melhor ainda estava para vir 🙂

Em grande …

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Informação sobre o autor

Pescador de trutas desde os 18 anos. Tem uma forte dedicação ao spinning com colher e peixes artificiais, tendo pescado em Portugal, Espanha e no Reino Unido. Actualmente, pesca sobretudo na zona do Minho, Gerês e Centro do país.