Depois de um dia de peripécias no Rio Minho, resolvi visitar brevemente o rio Âncora perto da EN. 13, na zona livre. Com ameaços de trovoada forte, havia grandes possibilidades de que alguma nuvem forte tivesse despejado sobre a nascente do Rio Âncora com óbvias consequências sobre o caudal e o comportamento das trutas. Tinha mesmo que fazer uma paragem no Âncora!
Já eram 5h30 da tarde, mas a vontade de coar água era grande, especialmente depois de pensar que o caudal do rio podia estar alterado. Lá parei perto da ponte do rio Âncora. Ameaças de chuva, mas o rio parecia normal. Por ali nada se tinha alterado. Água super limpa e cristalina … as trutas conseguiam-me ver a milhas de distância. Tive que trocar logo de material e meti o equipamento de light spinning: cana de 1,2 metros, linha 0,12 da Fendreel e amostra Mepps Aglia nº 1.
Sem perder muito tempo, resolvi realizar os primeiros lançamentos debaixo da ponte. Vi logo as primeiras trutas a mexer e houve uma de bom tamanho (cerca de 23 cm) que me veio espreitar. Achei que a colher era isco batido e resolvi logo trocá-la pelo rapala CD-3 RT. Começaram a surgir os primeiros chuviscos e como tal, avancei logo com um plano de ataque. Iria pescar primeiro para montante durante cerca de 100 metros e depois regressaria ao local de partida e iria pescar para jusante.
Para montante, bati zonas relativamente profundas com o rapala, mas nada mexeu. Começaram a surgir os primeiros pingos grossos, mas não se via aspecto de truta. Já no final do primeiro troço, e na sequência de um lançamento, vejo um vulto grande castanho a dirigir-se directamente para mim dentro de água. Era uma lontra … nem me viu … passou mesmo à minha frente e avançou para montante. Nem perdi tempo … deixei-a ir e inverti logo a marcha.
Voltei à ponte e entretanto a chuva começou a engrossar. Voltei a lançar para a margem oposta e levei um toque. Cravei com força e notei que tinha uma pequena trutinha presa no triplo do rapala. Lá a trouxe até à minha margem e quando já estava para a tirar desprendeu-se 🙂 Era uma pura beleza de 12 cm …
Com a chuva a engrossar, começaram a surgir os primeiros regos de água a cair no rio. Isto iria provocar algumas alterações dentro do rio. Comecei a notar que a água estava a ficar ligeiramente suja. Avancei para jusante em direcção à ponte do caminho de ferro. Os lançamentos sempre dirigidos para a margem contrária … a forçar a nota com o rapala. Vi uma boa truta a seguir o rapala logo nos primeiros minutos … deu duas voltas ao rapala e parou quase em frente aos meus pés … Não ia picar!
Tinha mais 15 minutos de pesca e resolvi bater alguns locais de forma mais rápida. Ainda levei mais alguns toques de peixe que não cheguei a ver. Fiquei sem saber se eram escalos ou trutas. Já no final e num lançamento na zona mais ampla de um açude, cravei uma pequena truta que caiu imediatamente na margem. Era um exemplar de tamanho reduzido, mas com umas cores lindas.
Estava no final do troço que tinha proposto a bater. Ainda pesquei à saída do último açude, mas o caudal não era elevado o suficiente para garantir a presença de boas trutas naquele local. Fiquei satisfeito … não tanto pela qualidade da pescaria, mas sim pelo facto de ter voltado a pisar as margens do Rio Âncora … um rio onde já vivi grandes momentos e que reserva sempre alguns bons exemplares para dias muito específicos. Voltarei em breve 🙂
Ah, as lontras uma desgraça…são indicadores da boa saúde dos rios, mas em número elevado podem dar cabo da população piscícola.
No Alfusqueiro estão a ser uma praga, a primeira que vi foi no ano passado, um Domingo de tarde, e em dois anos acabaram com todos os peixes graúdos.
Os resultados no início da temporada foram negativos em alguns locais que se sempre davam, e a minha impressão subjectiva era que se devia mesmo à não existência de trutas, e não por outros factores. Desconfiei logo dos corvos marinhos em zonas de desova, e também das lontras, pois a pressão de pesca não é tão alta como para desaparecerem os peixes de um ano para outro, e a qualidade da água em aquela zona é boa. Os factos foram verificando a segunda hipótese, com o aparecimento de muitos sapos devorados nas margens, carcaças de lagostim de rio. E os relatos dos camponeses e pescadores locais, que me confirmaram que já não se viam peixes no rio como noutros anos e tinham desaparecidos dos poços até os barbos, ficando só bandos de peixinhos; assim como algumas histórias com armadilhas para enguias destruídas, das que só podiam ser responsáveis as lontras.
A coisa esta tão mal que estou por desistir, não apanhar peixe porque as trutas são muito manhosas é uma coisa, sempre há alguma forma de as enganar, agora se não há peixe, não há nada a fazer.
Em uma zona de rio nada visitada por outros pescadores, e à que vou muito esporadicamente por ser difícil de andar, e na que sabia de alguma truta boa de entre um terço e meio Kg de peso, que se via a mosquear, agora nada mexe, e desconfio que já esta no rabo de uma lontra.
Outro indicador da existência de uma praga de lontras é o facto de que se apanham trutas, e de maior tamanho, perto das casas e nas zonas mais agrestes não.
Vamos ver como corre o resto da temporada, haverá que continuar a tenta-las de várias formas, experimentar a tudo, mosca, saltão…, mas a situação não é muito boa cá na Beira Litoral.
A próxima semana tenho férias e vou pescar, mas à Galiza.
As lontras são o que são. São umas boas máquinas de apanhar peixe … poucos são os que lhes escapam debaixo de água.
A verdade é que nunca senti que trouxessem um grande impacto na zona onde aparecem … o meu problema é que também ando sempre a mudar de sitio e evito pescar várias vezes no mesmo local. Daquilo que tenho visto, parece-me que as lontras são relativamente móveis e cobrem troços bastante razoáveis de rio. Não deixam de estragar a pesca quando aparecem no rio, mas não sei se serão as únicas responsáveis pela falta de trutas em algumas zonas. Se assim for, temos provavelmente que pensar em formas de as controlar … especialmente à medida que o seu número for aumentando de forma exponencial., porque não há cana que rivalize com uma lontra dentro de água.
Boas!
O problema é que ninguem controla o crescimento desta população…Esse sim e o problema!Se existriem lontras e peixes num eco-sistema equilibrado, o que vai reger é a lei do salve-se quem puder!
Abraço
Bem tinha que escrever alguma coisa, depois de ver comentários tão esclarecedores como os vossos. Caros amigos e leitores, tenho uma pequena história para contar sobre este assunto.Num dia chuvoso no Rio Coura a bem pouco tempo num dos lançamentos vejo algo negro a sair da margem pelo meio da vegetação e a correr em direcção a amostra.O que é facto não ficou pensei eu e vejo do outro lado a dita lontra a sair da água “pensei logo por isso não vejo peixe elas andam ai” e ficou a olhar para mim tentei lançar novamente para o outro lado para ver a reacção depois do que tinha acontecido. Assim fiz, lancei mesmo para a sua frente a 50 cm e ainda abanou a cabeça a ver o que era e continuou a sua marcha sobre as pedras junto ao rio.
Tenho visto muitas não posso dizer se estão a aumentar se não mas ja tirei vários peixes com a caudal marcada deduzi que esse fosse o problema agora vejo que não sou o único a pensar no assunto.
Boa tarde, amigos pescadores.
O Alfusqueiro é um rio plano e pouco fundo, que tem poucas correntes e sem raízes nas margens, com o leito cheio de seixos e alguns poços com fundo de pedra e areia, as trutas não tem onde esconder-se, não tem defesa, outra coisa são os rios do norte estreitos e fundos com margens cheias de raízes, aí os peixes sim têm defesa contra as lontras.
Em dois anos tem-se verificado uma drástica redução da população de trutas, redução certa, fora de toda dúvida, da qual as lontras só podem ser as responsáveis. Eis as minhas rações. Há camponeses que tem terrenos florestais à beira do rio e vão pescar em qualquer altura do ano(o que não esta permitido)aquilo que o rio tem: truta, barbo, escalo, boga; com minhoca, e engodando com ração de leitão, nos poços; e armadilham com tripas de frango as enguias; e fisgar lampreia. Esta pesca(que é ilegal)não é impedimento para haver uma razoável população de trutas, miúdas nas zonas de desova,e grandes nos poços. Eu vou lá pescar só nos feriados, e se apanho menos posso pensar que a culpa é minha, que as trutas já conhecem as amostras, que o tempo tem sido pior com um mês de Abril muito quente, que talvez houve uma desova má há três anos, que o caudal desceu muito no verão e as trutas grandes comeram todas as pequenas ao concentrar-se nos poços, azar… Mas os tais camponeses, tanto se vão pescar, quanto se andam perto das margens tratando dos seus terrenos, são o verdadeiro “sensor” da situação, são os que informam de que não tem havido problemas no rio em relação com poluição, caudal, fora da temporada de pesca, e no entanto o peixe tem desaparecido, e tem desaparecido de uma forma selectiva, desapareceu o peixe grande, já não se vem trutas graúdas como dantes, e no entanto cada vez há mais sinais de actividade das lontras. A primeira vez que encontrei os restos de um lagostim devorado fiquei admirado, entrando para o centro do rio num lugar em que se divide em vários braços abaixo de um açude, olhando para o fundo para ir pondo o pé nos lugares certos, vi duas pinças de lagostim unidas por um pequeno troço de casca da parte anterior do tórax, mexi nelas com a ponta da cana, as pinças eram de bom tamanho e o resto do corpo tinha desaparecido!, quem for capaz de mastigar assim um lagostim que não há fazer com as trutas!. Há pelo menos sete anos que não arde o mato na Serra das Talhadas e no Caramulo (e faço votos para que continue assim para sempre), nesse tempo tem-se espalhado muito o javali, os veados e pelo que parece também as lontras, temos de ter paciência, a população de lontras acabara por controlar-se de forma natural, acabarão morrendo de fome ao ficar sem peixes, ou vem o lobo e come as ninhadas. Desconfio que o pior ainda esta por vir, e que tenho pela frente vários anos sem peixe. Neste caso é melhor que venha quanto antes o lobo.
A última frase é uma metáfora da crise e o FMI. Bom fim de semana a todos.
Ola Pingodoce!
Não te preocupes…vais ter muito que pescar ainda!!
As lontras vão acabar por se autocontrolar e a seleção natural vai funcionar e vais ver que como apareceram….desaparecem!
Abraço