As lindas trutas do Mondego.

As lindas trutas do Mondego.

Domingo, dia 6 de Junho de 2010. Depois de um dia anterior sem vislumbrar sequer uma truta no Côa, estava na altura de voltar a reencontrá-las. Como tal, resolvi voltar à zona do Porto da Carne no Mondego. Já lá tinha estado em meados de Março, mas sem resultados. O frio que se fazia sentir na altura não proporcionou as condições necessárias para uma boa pescaria. De facto em conversa com um pescador que encontrei por lá nessa altura, era notório que as trutas do Mondego precisavam de um bocado de calor para se tornarem mais activas. Confiado nesta impressão, achei que valia a pena fazer uma incursão no ínicio do mês de Junho.  A combinação de elevadas temperaturas com a forte cobertura vegetal do rio nesta zona poderiam ser sinais indicativos de que teriamos trutas activas.

Mais uma vez arranquei tarde de Figueira de Castelo Rodrigo, lá por volta das 8 horas da manhã, e só cheguei ao Porto da Carne às 9 horas. Pelo caminho, ainda tive a oportunidade de ver um corço nas imediações da A25, mais concretamente num caminho de terra batida na descida da Guarda. Uma visão rara que de certa forma confirma a expansão de sucesso que estes animais têm vindo a realizar no nosso país.

Às 9h20 estava junto a um bom açude de cerca de 500 metros de comprimento e já tinha o meu material de light spinning nas mãos. Resolvi encaminhar-me para jusante para o muro do açude, onde planeei desde logo realizar uns lançamentos na queda de água do açude. A saída do açude apresentava uma corrente moderada com uma profundidade de 0,5 a 1,5 metros que fazia um ligeiro cotovelo contra um tronco de árvore (foto capa) e depois se espraiava num pequeno poço com cerca de 2,5 metros de profundidade. Comecei pelo poço e nada. Fiz três ou quatro lançamentos, mas nada. Já por ali tinha passado concorrência no dia anterior. Resolvi centrar a minha atenção na corrente e especialmente no cotovelo onde existia uma forte cobertura vegetal. Primeiro lançamento, nada. Segundo lançamento, nada. Terceiro lançamento, pancada forte e o carreto começa a dar fio! Tinha acabado de cravar uma bela truta, que queria a todo o custo enrodilhar-se nas raízes do tronco de árvore. Tive que fazer algumas manobras e levar o fio 0,12 ao limite para a começar a puxar para o poço, onde poderia controlá-la melhor. Fui preparando o camaroeiro e depois de cerca de 2 minutos consegui tirá-la da água. Um excelente exemplar de truta fario com 29 cm e salpicado por um grande número de pintas pretas. Que excelente inicio de jornada!

Animado por esta captura, resolvi avançar para o açude e batê-lo a milimetro. Os primeiros 300 metros não permitiram visualizar nenhum exemplar. Só quando cheguei a um final de corrente mais lento é que as coisas animaram. Primeiro lançamento para o fim da corrente, levo um toque valente. Era truta boa, mas não ficou! Segundo lançamento para o mesmo sitio entra uma linda truta. Arranca com força e dá logo duas cabeçadas fora de água. Começo a controlá-la e mais uma vez consigo trazê-la até ao camaroeiro. Era truta de águas mais paradas, vivendo em zona de forte cobertura vegetal e com elevada disponibilidade de alimento. Lindas pintas vermelhas e pretas sobre um dorso esverdeado.

Estava a correr melhor do que o esperado. Depois do balde de água fria do dia anterior, era ouro sobre azul. E continuei a insistir. Nos seguintes 200 metros, até à cabeça da corrente, vi mais duas boas trutas com mais de 26 cm. Mas essas nem atacaram, apenas fugiram. Estavam em menos de meio metro de água e sentiram-se mais ameaçadas do que interessadas na colher. O dia estava a ser cheio de emoções.

Depois deste troço, resolvi continuar para montante, batendo mais 3 poços de bom tamanho e em zona de andamento dificil. No primeiro, vejo uma boa truta a fugir da entrada do poço, escondendo-se na margem esquerda. Perante isto, resolvi atacar a margem direita. Primeiro lançamento, nada. Segundo lançamento, cravo uma boa truta de cerca de 30 cm. Como estou empoleirado no tronco de uma árvore, tento combatê-la com calma, mas verifico que está presa pela ponta da mandibula. Depois de um minuto de luta, consegui trazê-la mesmo até aos meus pés, mas no último momento dá um safanão e liberta-se. Era um bom peixe! No mesmo local, realizei ainda mais uns 5 ou 6 lançamentos e ainda vi mais 2 trutas de bom tamanho.

Nos restantes poços, e já algures entre as 12 e as 14 horas, visualizei mais 5 boas trutas. Uma delas com mais de 40 cm e muito perto de kilo. Estavam todas perto da entrada das correntes ou no centro dos poços. No entanto, estas já não demonstravam a mesma agressividade das anteriores. Apenas vinham ver a colher. Parecia que algo tinha mudado! Surgiram os primeiros rastos sérios de pegadas de pescador na margem e como tal senti que já não valia a pena insistir muito. De facto, já tinha a minha conta!

No global, foi um dia excelente de pesca. A aposta no troço de Porto da Carne valeu a pena. As trutas, mesmo com o calor, estavam bastante activas nas zonas fortemente arborizadas. As saídas das correntes e os centros dos poços eram as zonas mais populadas pelas trutas e durante as 9 e as 11 da manhã houve um pico de actividade. Às 15 horas dei por terminada a jornada, depois de ter capturado um escalo à colher. Ainda vi uns barbos valentes (de 2 e 3 kg) a fugir nas correntes menos profundas, mas esses nada quiseram. O Mondego tinha cumprido a sua promessa e eu queria era pescar trutas 🙂

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Informação sobre o autor

Pescador de trutas desde os 18 anos. Tem uma forte dedicação ao spinning com colher e peixes artificiais, tendo pescado em Portugal, Espanha e no Reino Unido. Actualmente, pesca sobretudo na zona do Minho, Gerês e Centro do país.