A correr os açudes do Rio Alvoco …

A correr os açudes do Rio Alvoco …




Dia 28 de Maio de 2011. Depois de ter dito que sim a uma pescaria aos achigãs na zona de Idanha, eu e o Prof. Arlindo Cunha adoptamos um plano de viagem muito “suis-generis”. De manhã, a ideia era trabalhar na quinta em Tábua (aí até ao meio-dia) e depois do almoço, iríamos realizar a viagem ao longo da margem do Alvoco, de modo a aproveitar alguma trovoada que eventualmente surgisse. Efectivamente, nunca pensei que fossemos realmente pescar à truta e portanto nem levei amostras para o spinning. Enfim … fui completamente à sorte … 🙂

Depois do almoço, lá estava a trovoada! Bonito serviço 🙂 O Prof. Arlindo Cunha já estava completamente virado para a pescaria às trutas e eu sem amostras. Bem, lá apelei ao espírito solidário do meu grande amigo e fui correspondido com a possibilidade de escolher uma amostra Mepps Aglia nº 1 da sua caixa de pesca. O resto do material ia ser aquele que estava à mão: cana de 1,8 metros e linha 0,18 da Asari.

Depois de uma deslocação de carro de cerca de meia hora, onde aproveitamos para trocar algumas impressões, decidimos avançar com um plano de pesca dinâmico, baseado em ataques de cerca de 30 minutos a alguns açudes seleccionados. O primeiro a ser seleccionado foi aquele que está localizado imediatamente a jusante de Alvoco das Varzeas e onde eu já tinha tido boas experiências no ano passado. Convinha sobretudo bater a queda de água do açude, a corrente de entrada no açude e alguns outros locais com maior potencial nas proximidades. A trovoada estava quase por cima da zona, mas não choveu muito. Apenas caíram algumas pingas grossas e notei que o rio apresentava uma cor ligeiramente escura. Rapidamente cobrimos os troços pretendidos e verificamos uma presença muito densa de alevins dentro de água que se divertiam a seguir as nossas amostras. Cheguei mesmo a cravar um com a nº 1 … não tinha mais de 3 cm. Só vislumbrei três ou quatro trutas, mas todas sem a medida. Ainda aproveitei para testar um novo isco (vinil) que comprei para o achigã, de cerca de 6 cm, e fiquei surpreendido com o seu potencial. Todos os peixes demonstraram interesse pelo isco e notei que uma ou duas trutas estiveram mesmo a picar. O problema é que só tem um único anzol de grande tamanho, mas a partir de agora, vai fazer parte da minha lista de opções.

Terminado este troço, avançamos para perto da Quinta da Moenda, onde reparamos numa obra que estava a ser realizada … parecia uma ETAR e como tal ficamos a saber o porquê do tom mais escuro da água a jusante. Apesar desta construção, resolvemos bater a corrente para jusante do açude. O Prof. Arlindo Cunha deslocou-se para o início das correntes e eu fui para o final. Logo no primeiro lançamento com a Mepps, cravo uma truta na margem oposta de uma corrente, que apresentava alguma força e profundidade. Trabalhei-a com calma e rapidamente a pus ao meu alcance com o 0,18. Foi só levantar a truta no ar quando ela já demonstrava alguns sinais de cansaço. Nada mais simples … e o triplo da amostra aguentou. A truta era claramente um belo exemplar do Alvoco, ligeiramente deformado na barriga em virtude da abundância de nutrientes disponíveis no rio durante esta época do ano. Mediu 23 cm.

Depois desta captura, ainda bati a corrente um pouco mais para montante, mas nem mais um toque. Entretanto, o Prof. Arlindo Cunha tinha já batido o seu troço e veio-me chamar. Estava na altura de ir mais para montante e tentar a sorte noutras paragens.

Posteriormente ainda fomos bater dois açudes, antes da povoação de Vide. As quedas de água eram impressionantes (foto de capa), mas nem toque, nem sinal de truta. Cobrimos as correntes para jusante e montante dos respectivos muros, mas o panorama estava complicado. Uma parte da explicação desta situação deve-se à alteração do estado de tempo. Depois de bater os dois primeiros açudes em Alvoco das Varzeas, a trovoada começou a dissipar e deu lugar ao céu claro e aumento de temperatura. Isto aumentou a visibilidade das trutas, que com a água cristalina, viam-nos desde longe.

Com a situação a piorar, resolvemos realizar uma paragem em Vide para restabelecer líquidos e pensar sobre a próxima zona a bater. Sem hesitar muito, acordamos que seria interessante tentar o troço imediatamente a jusante da confluência da ribeira de Loriga com o rio Alvoco. A ideia até pareceu boa, senão fossem as condições inóspitas do lugar. Margens acidentadas e vegetação espessa sobre restos de árvores queimadas tornavam a empreitada quase impossível. Ainda conseguimos entrar numa boa queda de água e num bom poço. Consegui capturar uma boga à colher, mas não vi qualquer truta a seguir a amostra. Isto em 1h30 de pesca, em que pescamos cerca de 15 minutos … o resto foi só abrir monte e tentar entrar ao rio. Ou seja, uma completa perda de tempo!

Já muito perto das 19 horas, ainda sobrou vontade para atacar o poço da broca na zona da Barriosa. Eu como já estava preparado para não pescar mais, decidi nem pegar na cana, mas o grande amigo Arlindo ainda pescou mais 40 minutos. Fui acompanhando a investida e ainda peguei na cana para levar uma cravadela de uma truta debaixo da ponte do lugar. A truta tinha cerca de 13 cm, mas não ficou. O poço da broca é claramente um poço de enorme potencial truteiro, mas nada mexeu. As condições não eram as melhores e alguns dos locais da zona também nos falaram de uma lontra milagrosa que tem visitado o lugar e feito o serviço por nós 🙂

Perante isto, e já sem ânimo para mais, ainda fomos tomar um copo rápido ao Restaurante Guarda-Rios, onde fomos extremamente bem acolhidos. A modernidade do estabelecimento, a sua inclusão arquitectónica na margem do rio e a simpatia dos seus responsáveis, fizeram-nos sentir em casa. Ali também nos foi explicado que se está a pensar em criar uma concessão de pesca desportiva na zona, de modo a defender o seu património truteiro e valorizar o potencial turístico da zona. A ideia pareceu-nos bastante interessante e colocámo-nos à disposição para nos tornarmos sócios do clube, caso este projecto ande para a frente.

Depois de todas estas peripécias, só às 19h45 é que nos fizemos à estrada a caminho dos achigãs. Escusado será dizer que foi um dia muito bem passado, em que os achigãs não fizeram falta nenhuma. Senão fossem os compromissos assumidos previamente, penso que o melhor seria mesmo pescar às trutas no Domingo. Ah … vicio 🙂

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Informação sobre o autor

Pescador de trutas desde os 18 anos. Tem uma forte dedicação ao spinning com colher e peixes artificiais, tendo pescado em Portugal, Espanha e no Reino Unido. Actualmente, pesca sobretudo na zona do Minho, Gerês e Centro do país.