Mais 1 hora num ribeiro negro do Lima …

Mais 1 hora num ribeiro negro do Lima …


Depois alguns dias de chuva a sério, estava na altura de voltar a visitar a zona do Lima. Já há muito tempo que não tinha a oportunidade de pescar num dos afluentes do Lima e as saudades já eram bastantes. Na minha mente, havia sobretudo uma preocupação especial com o famoso ribeiro negro do Lima, onde habitam “grandes trutas” que ficam encalhadas em poços ou lagoas mais profundas. Interessava-me verificar até que ponto é que a actual situação de seca não tinha trazido estragos irreversíveis a esta massa de água que me dá sempre algumas alegrias.

Como ia pescar num domingo, acordei por volta das 8h30 e cheguei ao local por volta das 9h30. A concorrência ali nunca deveria ser muita, aliás, porque com a chuva dos dias anteriores, a maioria dos pescadores estava concentrada em massas de água de caudal superior. Efectivamente, fiquei satisfeito por ver que não tinha qualquer concorrente na zona, e que nem sequer haviam pegadas recentes a denunciar a passagem de alguém em dias anteriores.

Rapidamente, peguei no material de light spinning: cana de 1,2 metros, fio 0,12 da Fendreel e amostra Mepps Aglia nº1. Com vento relativamente forte e céu encoberto, resolvi entrar na foz do ribeiro, batendo-o depois para montante. Assim, também iria aproveitar para tentar alguma boa truta na confluência com o Lima.

Os primeiros lançamentos surgiram na foz do Ribeiro com a maré ainda a subir. Fiquei verdadeiramente decepcionado com as condições nesta zona. A água parecia-me muito suja e poluída, com bolhas negras à superfície, e eu cheguei a desconfiar de descarga da Portucel na zona, possivelmente durante as chuvadas dos dias anteriores. Não tinha certezas, mas também não ia me sujeitar a pescar naquelas condições. Como tal, arranquei logo para montante, deixando de lado o troço mais terminal do ribeiro.

À medida que fui avançando para montante, fui comprovando que o crescimento das algas no ribeiro já era bastante acentuado, e caso não tivesse chovido com alguma intensidade no dia anterior, eu não conseguiria sequer por a colher a rodar. Mesmo assim, os lançamentos eram extremamente difíceis, e muitas vezes a colher não rodava durante mais de 50 cm, antes de ter que ser puxada para fora de água.

Durante os primeiros 200 metros, nem vi sinal de truta. Comecei a temer o pior!! A seca podia ter eliminado uma grande parte da população daquele ribeiro. Felizmente, não as eliminou todas, pois, logo a seguir, senti um toque de um pequeno exemplar. De qualquer forma, a densidade de trutas no troço inicial era muito inferior aquela que eu normalmente ali encontrava ao longo dos anos, incluindo o ano passado. Mau presságio para o futuro!

Entretanto, comecei a chegar à zona mais promissora, onde normalmente existem algumas lagoas de maior dimensão. Logo, numa saída de uma corrente, vejo um exemplar de mais de 19 cm a seguir a amostra a uma distância de segurança. Depois de um lançamento milimétrico para a cabeça da corrente, a truta veio só patrulhar o objecto estranho que por ali andava 🙂 Agora morder, é que nada!!

A coisa estava a querer animar e eu fui tentando forçar a nota nas zonas que me pareciam mais promissoras. Assim, fui andando sem grande novidade, até chegar a uma lagoa de maior dimensão. Primeiro lançamento largo a cruzar para a outra margem, e mal começo a recuperar a amostra, tenho um toque. Não ficou! Continuo a recuperar, e quando a amostra está a chegar perto da minha margem, sinto um puxão forte. Cravo e logo de seguida, sinto luta forte do outro lado da linha. Tinha cravado uma boa truta que não se ia deixar vencer facilmente, especialmente porque mesmo à minha frente existia muita lenha morta dentro de água. Já tinha ali com que me entreter. Lá a fui segurando dentro do possível e tentando manobrar a linha para fugir aos ramalhos ameaçadores. A truta, por sua vez, entretinha-se a cabecear de forma contínua e a procurar meter-se debaixo da lenha. Lá a fui puxando para cima, mantendo a sua cabeça fora de água. Durante um minuto, ali estivemos a ver como paravam as modas. Quando notei que já havia algum cansaço do lado da truta, resolvi encostá-la à minha margem e deitei-lhe a mão. Aquela já não fugia!! Era claramente um excelente exemplar de 27 cm do ribeiro negro do Lima, com umas pintas lindíssimas.

Com a captura finalizada, resolvi fazer alguns lançamentos no mesmo local, só para me certificar que não deixava nada para trás. E fiz muito bem! Num terceiro lançamento mais para montante, cravo outra truta com 18cm. Também brava na luta, mas o seu pequeno tamanho não permitiu que me desse muito trabalho. Assim, voltou a água com a rapidez que se exigia.

Ainda voltei a tentar mais alguns lançamentos na zona, mas sem grandes resultados. Algumas trutas de maior dimensão podiam até estar ali, no entanto, o barulho realizado durante as duas capturas, já certamente que as tinhas posto em estado de alerta.

Com quase uma hora de festa, já estava mais do que satisfeito pelas capturas conseguidas, especialmente devido à baixa densidade de trutas. Assim, ainda avancei mais 100 metros para montante, mas nada mexeu. Estava-me a dar especial gosto realizar lançamentos difíceis, e como tal, a pescaria prolongou-se um pouco mais do que o que devia.

Atendendo às condições que encontrei, penso que algo de menos bom poderá a estar a acontecer neste ribeiro, e certamente que não será devido ao excesso de pesca, mas sim à falta de água!! Esperemos que chova como deve ser nos próximos tempos e que para o ano ainda lá estejam algumas trutas. Seria muito mau, se assim não fosse! Pelo menos para mim!!

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Informação sobre o autor

Pescador de trutas desde os 18 anos. Tem uma forte dedicação ao spinning com colher e peixes artificiais, tendo pescado em Portugal, Espanha e no Reino Unido. Actualmente, pesca sobretudo na zona do Minho, Gerês e Centro do país.