Aproveitando um dia de chuva e depois de uma manhã bem passada no Alfusqueiro, resolvi rumar ao Rio Cris. Depois de uma breve visita a este rio há cerca de dois anos, tinha-me ficado o bichinho de pescar sozinho neste curso de água e descobrir quais as suas potencialidades. Num dia de Maio tinha chegado essa oportunidade e não a desperdicei.
Parei o carro junto à ponte da estrada que vem Campo de Besteiros e peguei na cana de 1,8 metros, artilhada com linha 0,12 e com um rapala CD-3 RT. Iria atacar o açude junto à ponte com esta amostra. Os primeiros lançamentos começaram a sair encostados à ponte e vi logo a primeira truta a seguir o isco. Era pequena, mas mesmo assim deu duas corridas ao rapala e depois voltou para trás. Não lhe pareceu boa coisa 🙂
Com este primeiro sinal, fiquei logo a antecipar uma captura e não tardou muito. Passado 5 minutos, e num lançamento curto para montante, a tentar a outra margem, tenho um toque e consigo cravar. A truta ainda saltou fora de água, mas o seu pequeno tamanho facilitou-me a captura. Não lhe dei tempo e levantei-a fora de água. Já cá cantava o primeiro exemplar. Uma linda truta do Cris com 16 centímetros.
Depois desta captura, mantive o rapala por mais 20 minutos, até o rio se tornar demasiado curto e pouco profundo. Quando isso aconteceu, não tive outra hipótese que não fosse meter a colher Mepps Aglia, mas até lá ainda capturei mais uma pequena truta ao rapala.
Equipado com a colher, fui batendo o troço onde existem mais correntes e de pouca profundidade. Consegui tirar duas pequenas trutas, que foram imediatamente libertadas, como todas as outras, e tive oportunidade de ver um exemplar de cerca de 27 centímetros a dar a volta à colher, numa zona de redemoinho mais profundo à saída de uma corrente. Aquilo já era assunto que me interessava, mas infelizmente a truta assustou-se e virou costas definitivamente.
Passado este troço, cheguei aos dois maiores açudes que se prolongam até à junção dos dois ribeiros que formam o Cris. Estes açudes tinham grande aspecto para manterem uma boa população de trutas e uma ou outra de excelente tamanho. Fiquei bastante bem impressionado por aquilo que vi e bati-os de forma milimétrica.
No primeiro, tive a oportunidade de mexer várias trutas, mas todas de tamanho relativamente pequeno. Tirei 3 trutas pequenas em lançamentos largos com a Mepps Aglia nº1 e tive mais cinco ou seis cravadelas. Ainda cheguei a ter uma cravada com cerca de 22 centímetros, mas descravou-se antes do tempo. Enfim, fiquei satisfeito com a densidade que vi neste local.
Depois, no poço seguinte, que tem ser alcançado através de um carreiro de água, deparei com condições para albergar trutas de kilo. A parede do açude é bastante alta e está encravada entre dois rochedos imponentes, criando profundidades que chegam aos 3/4 metros na parte mais funda. Do alto da parede à queda de água a jusante são cerca de 10/14 metros. Mesmo assim, e a esta altura consegui visualizar uma truta na queda de água. Pensei que com tal distância e altura, ela não me via, mas enganei-me. Mal fiz o gesto de lançamento, pôs-se logo em fuga. A truta manhosa!!
Depois deste episódio, concentrei-me nos poços que terminam na junção de dois ribeiros. Com lançamentos longos, a tentar a outra margem, fui palmilhando o local. Nos primeiros lançamentos, não vi nem sombra de peixe. O local pareceu-me deserto. Podia ser um sintoma de que por ali andava peixe grande. Mais à frente e num lançamento longo a cair junto a um rochedo da outra margem, começo a recuperar, vejo um vulto a correr do outro lado e vejo o branco da barriga a aparecer. Puxo a ponta da cana e do outro lado tenho resistência e era uma boa truta. Ela começa a enrolar e fugir para o fundo e eu tento segurá-la. Lá a consigo endireitar e trago-a com alguma dificuldade para perto de mim, pois continuava a enrolar-se no fio. Deixo-a mexer mais um pouco, tento desenrolá-la e por a cabeça fora de água e preparo-me para a apanhar. Encosto-a à minha margem e quando já está mais calma, deito-lhe a mão. Tinha capturado uma bonita truta com 26 centímetros do Cris. Não era o monstro que eu esperava encontrar naquele local, mas não deixava de ser uma boa truta para o rio em questão.
Depois desta captura, avancei para montante e bati com calma o resto do poço até chegar às saídas dos ribeiros. Aí vi mais densidade de trutas e levei dois toques. No resto do poço, não se via grande ambiente. Pareceu-me claramente sintoma de presença de bom exemplar. Não o consegui visualizar … mas se algum dia puder, vou lá voltar para tirar as dúvidas.
Depois deste poço, e com a hora a apertar para estar em Viseu para comer um ensopado de perdiz, tive que atalhar caminho. Não consegui pescar os ribeiros, mas fica para uma outra altura 🙂
No global, fiquei satisfeito de voltar ao Cris, de ver que se mantém uma razoável densidade de trutas e de conhecer novos locais neste rio. Acho que é um rio com muito potencial e que deve ser preservado o mais possível, especialmente no que diz respeito a poluição e densidade de trutas. Não me repugnava nada se se constituíssem zonas de protecção de desova nas duas ribeiras que se juntam para formar o Cris. Estas ribeiras têm dimensões reduzidas e prestam-se sobretudo para a desova e criação de alevins. Esta medida poderia ser um factor essencial para salvaguardar mais e melhores trutas nos troços inferiores do Cris. Um rio que tem enorme potencial e que com uma gestão mais apurada poderá se tornar um baluarte da pesca à truta em Portugal.
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