O salmão do Rio Mouro!

O salmão do Rio Mouro!


Depois de uma manhã de sabado passada atrás das trutas no rio Minho, tinha chegado a altura de visitar um grande rio truteiro: o rio Mouro. A vontade de passar por lá não era muita, pois com o adiantado da hora e com a chuva intermitente que estava a cair, certamente que já vários pescadores tinham feito serviço ao longo das margens. Se não fosse a vontade de ir visitar a loja de pesca de Valença durante a tarde, ainda podia pensar em mudar para o Coura ou o Lima, mas como essa visita era prioritária para me reabastecer para a abertura das barragens do Gerês, resolvi então dar uma volta no Mouro. Tendo em conta a altas probabilidades de encontrar altos níveis de concorrência no Mouro, resolvi escolher um local onde poderia ainda encontrar algumas trutas que não estivessem assustadas. Escolhi assim uma boa sequência de correntes profundas e grandes poços. Nesses locais, poderia sempre sobrar algum exemplar para quem forçasse um pouco mais os lançamentos.

Cheguei ao local por volta das 12h15 e não vi nenhum carro parado nas margens. Bom sinal! Preparei-me e fiz-me logo ao rio começando a calcar a margem esquerda. Mal entrei vi logo pegadas frescas … pelo menos um pescador tinha passado por ali antes. Comecei logo a diminuir as minhas probabilidades de capturar alguma truta e virei-me então para testar uma amostra que me causava alguma apreensão: a Storm WildEye de cor RT e com 6 cm de tamanho. Já tinha feito alguns lançamentos exploratórios com esta amostra noutras massas de água, incluindo o Minho, mas ainda não tinha tido a oportunidade de a testar numa zona com uma boa população truteira.

Com linha 0,18 da Asari e cana de 1,8 metros, fui palmilhando as margens lentamente e afinando a minha forma de trabalhar a amostra. O bom peso da Storm permitia lançamentos muito bem colocados e mais longos, mas depois em termos de natação … havia ali algo que não me estava a agradar. De facto, nos primeiros 30 minutos de pesca nada mexeu. Desde corrico continuo a jigging tentei de tudo, mas nada. Resolvi então apostar numa recuperação bastante rápida e sacudida.

Como estava a pescar para montante, comecei a avançar para o inicio de um grande açude, onde a corrente começava a fazer-se notar. Realizo um lançamento para a outra margem, numa zona bem coberta por árvores e com ramalhos dentro de água, e vejo uma sombra a perseguir a Storm … aplico uma recuperação mais forte, a sombra aproxima-se ainda mais (truta com mais de 30 cm), mas sem se aproximar demasiado. Quando a amostra começa a chegar perto de mim, resolvo parar a recuperação, a Storm cai na água, dou-lhe um toque de ponteira e a truta afasta-se imediatamente. Bem … não percebi … amostra? peixe já tocado? Enfim, mantive a amostra e fui avançando para uma zona onde a corrente começava a tornar-se mais forte e a profundidade começava a diminuir.

Realizei mais alguns lançamentos numa zona de arvoredo e vi mais uma ou duas trutas pequenas a seguir a Storm. Seguiam, mas a uma distância de segurança. Mau sinal. Entretanto, noto que na minha margem havia uma profundidade razoável e que a corrente tinha escavado um pouco por debaixo das raízes das árvores. Resolvi meter um lançamento para montante paralelo à margem, a amostra cai na água, começo a recuperar e sinto a amostra totalmente presa. Dou um esticão com força e noto que o tronco que se mexe, olho para dentro do rio e vejo uma sombra, daquelas que só mesmo em pesadelos de pescador … Que besta … reduzi a fricção do meu travão do carreto ao mínimo (pois tem-me dado alguns problemas ultimamente) e preparei-me para uma luta a sério, pois o camaroeiro tinha ficado no carro! Tinha que tirar o peixe á mão e para isso precisava de o cansar bem. A luta começou … cabeçadas fortes, arranques para montante, tudo para me facilitar a vida :). Nos primeiros 5 minutos nem vi bem com que é estava a combater … sabia que era peixe grande, mas não o consegui fazer chegar perto da margem, nem tão pouco consegui por-lhe a cabeça fora de água. Era tudo trabalho de carreto e muito adrenalina a correr e a pensar que a qualquer momento a linha podia partir.

Passados os primeiros 5 minutos, comecei a notar algum cansaço da parte do peixe e comecei a trazê-lo para perto da margem. Noto que se trata de um peixe esbelto, com um tamanho considerável, grande pintas vermelhas e com a mandibula inferior pronunciada. Era claramente um bom macho. A cauda era bastante grande para a dimensão do corpo. Fiquei hesitante … parecia-me uma truta pelas grande pintas vermelhas, mas a cauda e o aspecto esbelto lembravam-me outro tipo de peixe. Entretanto, consigo por-lhe a cabeça fora de água e não vejo a Storm. Estava totalmente dentro da boca e o fio andava a roçar nas mandibulas. Ui … a coisa ia correr mal. Achei que não podia continuar a perder muito mais tempo e comecei a chegá-lo com calma para a minha margem, de modo a meter-lhe a mão dentro da boca. Primeira tentativa frustada … voltou a arrancar para o centro do rio e a tentar enrolar a linha no corpo. Segunda tentativa também frustada … pôs-me um dedo a sangrar, pois cortei-me nos seus dentes. Terceira … quarta … quinta … Finalmente á sexta consigo apanhá-lo bem, meto-lhe a mão a sério e toca para a margem. Já estava!!

A descarga de adrenalina foi brutal. Depois de 10 minutos de combate consigo por este magnifico peixe fora de água. Tirei-lhe imediatamente duas fotos, saquei-lhe a amostra de dentro da boca (estava cravada com um triplo mais um anzol simples — era quase impossivel que o peixe a conseguisse descravar) e verifiquei que estava perante um salmão … uma pura beleza!! Peguei na minha pequena régua e medi-o rápidamente … cerca de 63 cm … levantei-o … pareceu-me ter aproximadamente 2 kilos e com calma, devolvi-o à água. Atendendo à forte luta, ainda demorei 2 minutos a reanimá-lo e lá foi …

Pareceu-me que estava um pouco magro e claramente que já estava no rio Mouro há algum tempo, possivelmente desde as últimas grandes chuvadas de Fevereiro. Perante esta grande captura, fiquei claramente em extâse. Lá me recompus e ainda fiz mais meia hora de rio. A chuva começou a engrossar e tive duas peripécias interessantes. Levei um toque de uma truta que não cravou … nem a cheguei a ver com a força da chuva a cair dentro do rio. E tive um corvo marinho a perseguir a Storm até aos meus pés … ficou a centimetros de apanhar a amostra dentro de água … eu até pensei que fosse outro monstro do Mouro, quando vi uma mancha castanha a perseguir o isco. Só quando vi o corvo marinho a emergir à minha frente e a arrancar é que me apercebi do que é que se estava a passar. Se tivesse cravado … iamos ter grande festa … 🙂

Enfim, foram momentos inesqueciveis passados no rio Mouro que ficarão para sempre. Capturei o meu primeiro salmão em Portugal e ainda por cima no Mouro. Apesar de não estar na sua máxima força e com o casaco de mar, não deixa de ser um bom troféu.  Cumpri o meu maior objectivo de pesca em Portugal que era tirar um destes maravilhosos e raros peixes.

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Informação sobre o autor

Pescador de trutas desde os 18 anos. Tem uma forte dedicação ao spinning com colher e peixes artificiais, tendo pescado em Portugal, Espanha e no Reino Unido. Actualmente, pesca sobretudo na zona do Minho, Gerês e Centro do país.